'Inverdades de Trump', rebate Itamaraty sobre tarifaço
Ministério das Relações Exteriores chamou de “ofensiva” a abordagem do presidente dos EUA e, em protesto, “devolveu” documento
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O governo brasileiro chamou pela segunda vez, ontem o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para dar explicações e ser informado da contrariedade do Brasil quanto às medidas tomadas pelo presidente Donald Trump.
Após divulgar carta endereçada a Lula em que anuncia a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o Itamaraty disse ao representante diplomático americano que o documento continha “inverdades” e era “ofensivo”.
O recado foi dado pela secretária de Europa e América do Norte, Maria Luisa Escorel de Moraes. Na conversa, ela pediu a confirmação da autenticidade da carta, já que o documento foi divulgado antes de chegar a Lula.
Escorel também disse que o Brasil, em ato simbólico, devia devolver a carta. Para o Itamaraty, além de informações falsas, o documento contém erros sobre a relação comercial bilateral com os americanos.
Uma carta devolvida, na linguagem diplomática, pode ser uma forma de demonstrar desaprovação, ou protestar contra determinadas ações de outro país.
Elogios
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) elogiou a decisão de Trump de impor tarifas de 50% ao Brasil. Ele defendeu que o Congresso adote uma “saída institucional para a crise”, com “anistia ampla, geral e irrestrita”, uma nova legislação que garanta a liberdade de expressão — especialmente na internet — e a responsabilização de autoridades que tenham abusado do poder.
Eduardo ainda culpou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, pela decisão de Trump, alegando que sua atuação no caso da suposta tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro motivou a reação.
Já Moraes afirmou que Eduardo Bolsonaro “permanece praticando condutas com o objetivo de interferir e embaraçar” o andamento da ação penal da trama golpista, que tem o seu pai, Bolsonaro, como um dos réus.
Na terça-feira, o ministro prorrogou por dois meses o inquérito no qual Eduardo é investigado por sua atuação nos EUA, onde está morando. Segundo o ministro, a medida é necessária devido a “diligências ainda pendentes”. A prorrogação foi solicitada na semana passada pela Polícia Federal (PF).
Congressistas aliados defendem retaliação
Deputados e senadores governistas defenderam a possibilidade de o Brasil aplicar a chamada “lei da reciprocidade”, mas ponderam ser preciso esperar se a taxação entrará de fato em vigor. A lei, que permite ao governo responder com sanções comerciais países que não mantenham relação de isonomia econômica, foi aprovada pelo Congresso em abril deste ano.
Para o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), a atitude de Trump não surpreende, mas ele lembra que já houve recuo após anunciar tarifas a outros países.
Jornal britânico critica carta
A imprensa internacional repercutiu ontem o anúncio feito pelo presidente Donald Trump de que os Estados Unidos irão impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros a partir do dia 1º de agosto.
Em uma matéria atualizada em tempo real, o jornal britânico “The Guardian” chamou a carta de Trump de “destemperada” e destacou que o documento destoa de anúncios anteriores de tarifas.
A emissora britânica BBC publicou que “Trump ameaça Brasil com tarifa de 50% e exige fim do julgamento de Bolsonaro” e também destacou a diferença no tom da publicação. “A mensagem para o Brasil é uma missiva muito mais direcionada e ameaça um aumento significativo do imposto de 10% que a Casa Branca tinha anunciado anteriormente”.
O jornal americano “The New York Times”, por sua vez, escreveu: “O esforço de Trump para usar tarifas para intervir num julgamento criminal num país estrangeiro é exemplo extraordinário de como ele vê os impostos como um porrete que serve para todos”.
Já a CNBC destacou também que, apesar das alegações do americano de que as políticas brasileiras causaram déficits comerciais aos Estados Unidos, o país obteve um excedente no comércio de bens de US$ 7,4 bilhões em 2024.
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