Especialistas explicam motivos para a alta do dólar
Especialistas ouvidos pela reportagem explicam os motivos para a disparada da moeda americana e fazem previsões.
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As seguidas altas do dólar ante ao real fizeram a moeda, que fechou ontem a R$ 6,12, causar preocupação e movimentos do Banco Central para conter a situação. Especialistas analisam os contextos por trás dessa alta e o que pode acontecer com a moeda.
Segundo o economista Eduardo Araújo, parte dessa dinâmica pode ser explicada pela percepção de risco associada à situação fiscal brasileira. A dívida pública bruta, que era de 74,4% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do País) em 2023, está projetada para alcançar 78% em 2024 e continuar crescendo nos próximos anos, atingindo 81,4% em 2025.
“Na teoria econômica, a credibilidade fiscal é essencial para a estabilidade cambial: investidores, ao perceberem riscos fiscais elevados, retiram capital do País e buscam ativos mais seguros, como o dólar. Essa fuga de capitais pressiona ainda mais o câmbio”, explica.
O economista Marcelo Loyola Fraga avalia que, além da incerteza fiscal, o Brasil vive a falta de uma agenda clara de reformas estruturais, sobretudo a administrativa.
“O governo avalia que é o ‘pessoal da Faria Lima’ que está especulando e querendo desestabilizar o governo, mas tirando essa tese, o fato é que o pacote fiscal não tem credibilidade junto ao mercado, e a falta de reformas, de ‘cortes na própria carne’ também tem causado insatisfação”, argumenta o economista Jorge D'Ambrósio.
Já para o economista Heldo Siqueira Júnior, o cenário atual não é condizente com a realidade econômica brasileira. No País, o câmbio corrente é muito influenciado pelo futuro, em que o Banco Central tem poucas ferramentas para atuar, o que deixa o mercado sem guia e causa oscilação expressiva.
“A tendência é que haja uma convergência, porque não há espaço para uma desvalorização mais acentuada do que a vista em outras moedas, já que a economia brasileira está crescendo e a questão fiscal está sendo equacionada”, diz.
O Brasil já é o país mais endividado da América Latina, segundo o CEO da Pedra Azul Investimentos Lélio Monteiro. Ele diz que o governo não está fazendo esforço para mudar o atual cenário. “O governo precisa gastar menos e arrecadar mais. O pacote fiscal não está adequado para o mercado”, explica.
Depoimentos
“Mudança de postura”
O economista da Valor Investimentos, Pedro Lang, destacou que tem uma crise de confiança “muito perigosa” do mercado que tem levado a essa alta do dólar.
“É necessária uma mudança de postura do governo. É algo parecido com o que vimos no governo de Dilma em 2014. Empresários podem começar a brecar investimentos e consequentemente reduzir empregos e renda”.
“Mercado inseguro”
O CEO da Pedra Azul Investimentos Lélio Monteiro disse que o governo não está fazendo nenhum esforço para mudar o atual cenário.
“O Brasil já é o país mais endividado da América Latina, e diante do apresentado pelo governo, o mercado começa a tirar os investimentos. O governo precisa gastar menos e arrecadar mais. O pacote fiscal não está adequado para o mercado”.
“Cenário desafiador”
Para 2025, o cenário permanece desafiador, segundo o economista Eduardo Araújo.
“O Brasil precisará lidar com pressões inflacionárias e a possível necessidade de novos aumentos na taxa Selic, enquanto tenta equilibrar a atividade econômica e o emprego. Mas bons indicadores do mercado de trabalho e da atividade econômica podem servir como amortecedores, aliviando parte da pressão sobre o câmbio”.
“Dólar valorizado”
A previsão para a economia a médio-prazo é o dólar se manter valorizado e continuar volátil no curto e médio prazo, explicou o economista Marcelo Loyola.
“A chance de o dólar seguir em um patamar alto é real, especialmente com as incertezas persistirem. No cenário macroeconômico é a manutenção do crescimento em torno de 3,5 a 4%, o que não é um baixo crescimento frente às outras economias do mundo”.
“Sem credibilidade”
O pacote fiscal do governo não tem credibilidade junto ao mercado, destacou o economista Jorge D'Ambrosio.
“A colocação do presidente sempre foi de ter que gastar. Se o governo não corta na própria carne, como o mercado vai acreditar em medidas que são paliativas? Sendo assim, a perspectiva é de um dólar podendo atingir R$ 7 se o governo não cortar efetivamente seus gastos”.
“Mercado sem guia”
No caso específico do Brasil, por problemas na estrutura do mercado, o câmbio corrente é muito influenciado pelo câmbio futuro, afirmou o economista Heldo Siqueira Jr.
“O Banco Central tem poucas ferramentas para atuar no mercado de câmbio futuro, então o mercado tende a ficar sem guia. Isso faz com que as cotações oscilem de maneira mais expressiva”.
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