Empresas cortam 20 mil cargos de chefia no Estado em 10 anos
Um milhão de funções de gestão de equipes foram extintas no País em 10 anos. Tecnologia e redução de custos estão entre os motivos
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O mercado de trabalho brasileiro tem cada vez menos cargos de gerência, o que tem reduzido o número de chefes e líderes nas empresas. Nos últimos 10 anos, o contingente dedicado a essas funções perdeu 1,026 milhão de profissionais, sendo que destes, 20 mil foram no Espírito Santo.
Os dados são de economistas consultados pela reportagem com base em material da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua.
A redução de custos, principalmente após a pandemia, é um dos motivos dessa mudança, segundo a diretora da Center RH, Eliana Machado. Para ela, está se tornando cada vez mais frequente uma reestruturação organizacional horizontal, em que subordinados têm maior contato com diretores e donos, sem a necessidade de cargos intermediários.
“Muitos donos de médias e pequenas empresas optaram por dispensar essa figura do chefe para acumularem eles mesmos essas funções”.
Apesar de ambas serem posições de poder e de gerenciamento no ambiente de trabalho, chefe e líder são conceitos diferentes: o primeiro é uma figura autocrática, com poderes e controles sobre seus subordinados, enquanto o líder é uma figura mais humanizada e mais motivacional.
Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Paulo Sardinha diz que muitas funções de controle, típicas de gestões intermediárias, foram substituídas pela tecnologia.
“As teorias de gestão definiram muito claramente cada processo, o que muitas vezes tomou o lugar do chefe. E a pandemia levou a uma polarização: não se podia abrir mão de executivos muito qualificados e da grande capacidade de operação. Sobrou quem ficava no meio do campo”, explica.
A advogada trabalhista Patrícia Pena da Motta explica que essa mudança também ocorre visando a maior eficiência e por conta de avanços tecnológicos, permitindo que tarefas antes feitas por um profissional sejam executadas por sistemas e softwares, e que muitos desses profissionais acabam demitidos ou readequados de função.
Além disso, ela explica que o avanço dos Microempreendedores Individuais (MEIs) atuando como consultores tem contribuído para a redução de vagas de chefia.
Ou seja, um gerente ou executivo passou a ser um consultor. “As empresas, ao optarem por contratar MEIs, conseguem flexibilizar suas operações e reduzir custos trabalhistas, uma vez que não há a necessidade de arcar com encargos sociais e benefícios típicos de uma relação empregatícia”.
As mudanças
Fatores
Vários fatores se somaram para reduzir o contingente de gerentes/chefes/líderes no mercado de trabalho. São eles:
Avanço tecnológico
O avanço tecnológico desde a década de 1980 contribuiu para enxugar cargos intermediários, que se tornaram desnecessários já que poderiam ser executados por softwares
Economia pós-pandemia
O impacto da pandemia de covid-19 na economia brasileira também foi citado por especialistas.
Somada ao avanço tecnológico, acabou influenciando na extinção de cargos de chefia para reduzir custos.
“A pandemia levou a uma polarização: não se podia abrir mão de executivos muito qualificados e da grande capacidade de operação. Sobrou quem ficava no meio do campo. Criou-se uma ligação mais direta entre a gestão mais alta e a operação da empresa, uma forma de reduzir custos e encurtar caminhos”, explicou Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Crescimento dos Mei
Muitos profissionais que trabalhavam nessas funções nas empresas mudaram suas condições, se tornando um microempreendedor. Um gerente ou um executivo passou a ser um consultor.
Fim de intermediários
Cada vez mais a gestão moderna vem trabalhando para encurtar distância entre o topo e a base.
Onde havia dois, três níveis hierárquicos, há agora um ou dois. E as startups trazem um novo modelo de negócios, mais direto e por projeto, outro fator a explicar essa mudança que os analistas consideram estrutural e que já se configurou numa tendência mesmo nas grandes empresas.
Segundo especialistas, isso não deve mudar, mesmo com a melhora do mercado de trabalho após a pandemia.
Crescimento horizontal
Outro fator que tem motivado o mercado a fazer esse movimento é a entrada da Geração Z (referente aos nascidos entre a segunda metade da década de 1990 até o ano de 2010) no mercado de trabalho.
Essa é uma geração que não prioriza o trabalho, mas sim a felicidade, o bem estar e o prazer. O movimento chegou a ganhar o nome de “quiet ambition” (ambição silenciosa, em inglês).
E, por conta disso, não está tão interessada em ocupar cargos de chefia nas empresas. por conta dos possíveis ônus trazidos por cargos de gestão, como problemas de saúde física (exaustão, dores de cabeça e distúrbios do sono) e mental (depressão, ansiedade e estresse).
É uma geração que não vê o ambiente de trabalho agradável, comunicação e horários bem definidos como “diferencial”, mas como “essencial”, colocando essas questões no mesmo patamar da remuneração.
A predileção passou a ser o crescimento horizontal: desta forma, você pode se tornar um especialista na área, ser bem remunerado e possuir outros benefícios, sem necessariamente precisar coordenar alguma equipe.
Unboss
A redução de cargos de chefia dentro das empresas está fazendo surgir um novo estilo de cultura organizacional: O unbossing.
Trata-se de um ambiente em que os colaboradores atuam com mais autonomia, substituindo o chefe que manda por um modelo de gestão mais horizontal e colaborativa.
A premissa é que com autonomia, flexibilidade e liberdade, sem ter um chefe controlando cada passo, as pessoas entregam resultados melhores.
Quem lançou a reflexão sobre a necessidade de substituir o modelo burocrático das organizações foram o veterano gestor e conselheiro empresarial Lars Kolind e o “serial startupper”, Jacob Botter.
Fontes: Jornal O Tempo, Terra, O Globo, Uol, Forbes, Jornal O Estado de São Paulo.
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