“Economia da solidão” é uma tendência, avaliam especialistas
Indústrias de tecnologia, alimentação, entretenimento e serviços vêm se movimentando diante desses dados
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Não se sabe quantos dos entrevistados são solitários por opção ou por condições impostas pela vida, mas pesquisa realizada pelo Instituto Gallup e a Meta – dona de WhatsApp, Facebook e Instagram – revelou que 24% da população mundial se declara muito ou razoavelmente sozinhos.
E as indústrias de tecnologia, alimentação, entretenimento e serviços vêm se movimentando diante desses dados. É a chamada “economia da solidão”.
A “economia da solidão” é um termo cunhado pela economista Noreena Hertz para descrever o crescente mercado de produtos e serviços que visam as pessoas solitárias.
Segundo ela, oferecem soluções inovadoras para um problema social crescente. No entanto, é importante ser um consumidor consciente e crítico, buscando soluções que promovam o bem-estar social e mental de forma holística.
Um estudo realizado pela Euromonitor Internacional prevê que o número de residências com um único morador deve crescer, chegando a 120 milhões em todo o mundo até o ano de 2030.
Para se ter ideia, o Espírito Santo é o terceiro estado do País com mais pessoas morando sozinhas. Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 294.568 pessoas moram sozinhas no Estado. Os solitários, segundo estudos, também consumiriam menos do que quem costuma viver em grupo.
O aumento de pessoas morando sozinhas, especialmente mulheres solteiras com maior independência financeira, tem provocado mudanças significativas no mercado de consumo e na economia.
Esse comportamento impulsionou a chamada “economia da solidão” ou “mercado single”, que abrange produtos e serviços adaptados às necessidades de quem vive sozinho, segundo Maria Rita Sales Régis, psicóloga na Design Gente.

“Tal fato impacta efetivamente no mercado de consumo e na economia, visto que fomenta novos nichos de mercado, induzindo as empresas a adaptarem a distribuição dos seus produtos em porções menores de alimento, mobiliário compacto, assinaturas focalizadas e serviços sob demandas”, disse.
O vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, destacou que esse movimento de pessoas morando sozinhas é fruto da maior independência econômica e social, a priorização de carreiras, outras prioridades profissionais e mesmo prioridades de lazer, como viagem, resultado das transformações sociais.
Maior investimento em qualificação e saúde
Mulheres solteiras tendem a investir mais em qualificação profissional e saúde, segundo especialistas. O aumento de solteiras morando sozinhas impacta a economia local e o mercado de consumo, diz Marcelo Loyola Fraga, diretor-geral da Faculdade Capixaba de Negócios (Facan).
“O investimento em educação e qualificação profissional também está no radar dessas mulheres. Isso não só movimenta o setor educacional, mas também impacta empresas que oferecem tecnologias para aprendizado on-line e serviços relacionados ao desenvolvimento pessoal”, ressaltou.
Segundo o vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, o mercado de saúde e bem-estar é visado por esse público.
“Tendem a ter mais recursos em certa etapa da vida, não só os solteiros mais jovens, mas os que já têm uma profissão, de se preocupar mais com o bem-estar”.
Neto destaca ainda que estão mais propensas a procurar academias e produtos ligados à saúde. “São pessoas também mais preocupadas em ter uma saúde mental, então é melhor procurar serviços psicológicos com suporte emocional”.
SAIBA MAIS
“Economia da solidão” - É um termo que se refere a um conjunto de produtos e serviços destinados a pessoas que vivem sozinhas. Para especialistas, a chamada “economia da solidão” vai crescer ainda mais nos próximos anos.
Pesquisa
> Considerando o total de pessoas entrevistadas na pesquisa realizada pelo Instituto Gallup e pela Meta, os 24% correspondem a um em cada quatro entrevistados – quase um quarto – se revelando solitários. A pesquisa foi realizada em 142 países, o que representa cerca de 1 bilhão de pessoas, e divulgada no ano passado.
> O número pode ser ainda maior porque a China não foi pesquisada.
> O percentual de solidão é o mesmo para homens e mulheres.
> No Brasil, 15% dos entrevistados afirmaram ser sozinhos
Mudanças mundo afora
> Empresas de diversas áreas, em todo o mundo, também criam produtos ou serviços para os solitários, conforme listado abaixo.
> No Reino Unido, o serviço Open Table, de reservas de mesas em restaurantes, registrou aumento de 160% nos pedidos para mesas individuais na última década.
> Chefs de cozinha, como o inglês Jamie Oliver, fizeram fama e fortuna com livros e programas de TV com receitas a serem preparadas rapidamente em casa.
> A Uber incluiu a opção, em diferentes países, inclusive no Brasil, de viajar em silêncio, com o motorista alertado para não puxar conversa, o que está na categoria Comfort.
> Para quem se sente sozinho, aparelhos para a casa, como Alexa e Siri, são capazes de manter conversas superficiais, responder perguntas e dar “bom dia”.
> No Japão, o serviço “rent a girlfriend” (alugue uma namorada) se tornou popular. Por US$ 40 a hora (cerca de R$ 228), o contratante tem a companhia, que não envolve relação sexual.
> Sites como o cuddlist disponibilizam sessões de abraços por 60 minutos. O preço é de US$ 60 (cerca de R$ 342).
> A pandemia da covid-19 aumentou em mais de 300% a procura pelo Lovot, um robô que faz o papel de bicho de estimação, mantém a temperatura próxima à do ser humano e pede abraços. Plataformas como a VRChat projetam ambientes de realidade virtual com imersão do usuário e avatares customizados.
> Segundo o Financial Times, videogames, serviços de streaming, realidade virtual e algumas versões de metaverso são candidatos mais óbvios nos padrões de consumo de quem mora e faz diferentes atividades sozinhas. Mas há a preocupação em entender como esse consumidor se comporta para comprar imóvel, comida e viagens.
Fonte: Instituto Gallup, Meta e Folhapress
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