Congresso do México aprova aumento de tarifas contra Brasil, China e outros países
Projeto de lei foi votado em meio à pressão comercial dos Estados Unidos
O Senado do México aprovou nessa quarta-feira (10) o aumento das tarifas de importação sobre Brasil, China e outros nove países com os quais os mexicanos não têm acordo comercial.
O projeto de lei, votado em meio à pressão comercial dos Estados Unidos, foi aprovado por 76 votos a favor e cinco contra, em uma sessão que se estendeu até a noite.
Na terça-feira (9), a Câmara dos Deputados já havia votado a proposta da presidente Claudia Sheinbaum, que agora precisa publicá-la para que as novas tarifas entrem em vigor em 1º de janeiro de 2026.
Além de China e Brasil, os países afetados incluem África do Sul, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Nicarágua, Tailândia, Taiwan e Vietnã.
As tarifas afetarão 1.463 classificações tarifárias em 17 setores como automotivo, têxtil, vestuário, siderúrgico, plásticos, eletrodomésticos, móveis e calçados, entre outros, principalmente produtos chineses. Dessa relação, 316 classificações não têm cobrança de impostos atualmente.
A proposta inicial incluía taxas de até 50%, mas a maioria foi reduzida para cerca de 20% ou 35%, e apenas em alguns casos a taxa original foi mantida.
Outros 35 senadores se abstiveram da votação, argumentando que o projeto de lei foi elaborado às pressas, sem analisar seu impacto sobre a inflação, e em resposta à pressão do presidente dos EUA, Donald Trump.
O ministério do Comércio da China afirmou que a medida traz "prejuízos substanciais" e lamentou a decisão unilateral mexicana.
Em apoio à reforma, os legisladores do partido do governo enfatizaram que ela busca fortalecer o setor industrial do México, promover a criação de empregos e expandir as cadeias de suprimentos.
A proposta "tem como único objetivo fortalecer a economia nacional", afirmou o senador Juan Carlos Loera, do partido governista Morena, durante o debate.
Segundo a emissora de televisão N+, os produtos impactados representam US$ 52 bilhões das importações do México, o que representa 8,6% do total. A expectativa do governo é que 320 mil empregos sejam preservados no país com a medida.
PRESSÕES DOS EUA
Sheinbaum apresentou a proposta em setembro, em meio à crescente pressão comercial de Trump e acusações de que o México é a porta de entrada para produtos chineses nos Estados Unidos.
O México, juntamente com o Canadá, prepara-se para negociar a renovação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC) com os Estados Unidos, enfrentando novas exigências da Casa Branca.
Trump também alertou repetidamente que gostaria de usar a força militar contra os cartéis de drogas no México, o que Sheinbaum considerou inaceitável. Recentemente, ele suavizou sua posição, à medida que o México aumentou a cooperação em segurança, imigração e comércio.
"Essas tarifas coincidem com uma onda de restrições comerciais nos Estados Unidos, o que levanta uma questão central: o México está definindo sua própria política comercial ou está reagindo a Washington, ou pior, obedecendo a Washington?", questionou Mario Humberto Vázquez, do partido da oposição PAN.
Sheinbaum rejeitou essas críticas, argumentando que essa medida faz parte do Plano México, um projeto lançado por ela para fortalecer o mercado interno, reduzir a dependência de importações de terceiros países e gerar uma maior proporção de conteúdo nacional.
CHINA FALA EM PREJUÍZO SUBSTANCIAL
Após a aprovação do projeto nessa quarta, a China afirmou que o aumento das tarifas "prejudicará substancialmente" o país e os demais parceiros comerciais do México. O ministério de Comércio chinês informou que solicitou ao governo mexicano que "corrija suas práticas errôneas de unilateralismo e protecionismo o mais rápido possível".
O ministério informou que uma investigação sobre barreiras comerciais, iniciada em setembro, referente ao México, está em andamento.
A China é o segundo maior exportador para o México, depois dos EUA, tendo vendido US$ 130 bilhões em mercadorias para os mexicanos no ano passado. Os EUA venderam US$ 334 bilhões.
O governo de Sheinbaum propôs um "grupo de trabalho" ao gigante asiático a respeito dessa iniciativa, embora poucos detalhes do diálogo tenham sido divulgados.
Diversos setores e indústrias manifestaram sua oposição à iniciativa. Amapola Grijalva, representante da Câmara de Comércio México-China, alertou à AFP que ela poderia impactar a inflação e que a construção de uma cadeia de suprimentos mexicana exigiria tempo e investimento.
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