70% dos carros no País rodam sem seguro, aponta estudo
São 60 milhões de carros sem proteção, o que deixa o serviço mais caro. Realidade vale também para o Espírito Santo
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Mais de 60 milhões de automóveis estão circulando atualmente no País sem qualquer proteção para acidentes, roubos, furtos ou eventos potencialmente danosos, segundo levantamento da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
O número equivale a 70% da frota circulante nacional, o que representa um crescimento de 2,9% em relação ao ano anterior da pesquisa. Os dados são atualizados semestralmente.
Levantamento da empresa Sem Parar mostrou que 63% dos donos de carros sem seguro não contrata a proteção porque considera o custo elevado. O valor cobrado em um contrato é definido por diversos fatores como idade, valor estimado do veículo e localização.
Keila Farias, vice-presidente da comissão auto da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), explica que, à medida que o número de automóveis com seguro aumenta, menor tende a ser o preço dos seguros.
Outro fator é que o valor dos veículos zero quilômetro dobrou após a pandemia, o que tem feito com que carros cada vez mais antigos sigam circulando.
Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), os veículos com mais de dez anos são agora maioria na frota, ou 53,1%. As unidades com até uma década alcançam uma participação de 46,9%.
Isso significa que, para a maior parte dos donos de veículos, o seguro pode ser um produto inacessível. O grande desafio neste caso está na reposição das peças, o que costuma encarecer o seguro.
Já o CEO da Perspectiva Seguros, Eduardo Lobo, acrescenta que as seguradoras são obrigadas a pôr peças originais aos carros de seus clientes, e que essas peças são caras, o que aumenta o preço final do seguro.
“As seguradoras também estão com problema de falta de peças, o que as fazem negar várias marcas específicas, porque não tem peça de reposição”, detalha.
Segundo o corretor de seguros Eduardo Cristhian, esse preço mais alto acaba afastando boa parte dos possíveis clientes que acabam ou optando por não utilizar seguro algum, ou por ingressar em associações de proteção veicular. “Parte das empresas ainda não se adaptou para a realidade atual, com mais carros velhos na rua”, afirma.
Em busca de segurança
O prestador de serviços de Tecnologia da Informação para empresas e escolas Jailson Gomes, de 41 anos, conta que optou por contratar um seguro para o carro que comprou recentemente devido à natureza de seu trabalho.
“Eu comprei um carro em março deste ano, tem pouco tempo. Optei por comprar o seguro porque meu trabalho me faz usar muito o veículo e acabo também indo a lugares que não são tão seguros. É algo que me traz uma maior segurança”.
Saiba mais
Coberturas e análise de risco
De modo geral, seguros para veículos oferecem cobertura para colisão, roubo, furto, incêndio e alagamento. É possível também contratar coberturas adicionais, como para os vidros, além da utilização de carro reserva.
Ninguém é obrigado a ter um seguro, mas ao não tê-lo, o motorista estará em risco de ter de lidar com gastos inesperados e falta de ajuda nas situações citadas anteriormente.
A análise de riscos é parte fundamental em qualquer contratação de seguro. E é componente essencial no preço a ser pago pela apólice, entre outras condições estabelecidas no contrato de seguro.
A análise de risco também é parte importante da avaliação da seguradora para conceder e autorizar o seguro para cada cliente que procura pela proteção.
Na maioria dos casos, a recusa se dá com base, justamente, na análise de risco. Se a seguradora chegar à conclusão de que a ocorrência de um sinistro é muito alta, ela pode se recusar a emitir a apólice.
A análise de risco é importante porque ajuda a seguradora a dimensionar, com mais precisão, os perigos aos quais cada um dos segurados está exposto.
Com isso, ela consegue oferecer proteções condizentes com as necessidades de cada um, com custos mais acessíveis e com a garantia de poder prestar a assistência necessária quando a cobertura for acionada.
Seguro ou proteção veicular?
Conforme relata o Procon, devido a valores mais atraentes e algumas facilidades, os consumidores acabam optando pela contratação da proteção veicular.
Mas, posteriormente, acabam, em alguns casos, encontrando dificuldades e passando por situações indesejáveis.
Diferenças
As diferenças começam na gestão do negócio. A proteção veicular é realizada por meio de cooperativas sem fins lucrativos, a fim de buscar o menor custo para seus sócios, com regras específicas fixadas em contrato. Já os seguros são serviços realizados pelas seguradoras, ou corretoras de seguros, empresas privadas de sociedade anônima, com fins lucrativos.
Regulamentação
As seguradoras estão sujeitas a leis, fiscalizadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e, periodicamente, pelo Ministério da Fazenda. Sendo assim, seu funcionamento segue uma constante, o que pode dar mais segurança a quem contrata seus serviços.
Para as associações de proteção veicular, não há legislação específica que determine seu funcionamento, ficando amparadas na lei que regulamenta as associações e na Constituição Brasileira, artigo 5º, inciso XVII, que assegura ao cidadão o direito de formar cooperativas, desde que para fins lícitos, para satisfazer as necessidades de um grupo. Estão subordinadas à Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB).
Novo código civil pode pôr fim a conflito sobre serviço
A renovação do Código Civil que vem sendo organizada no Senado deve por fim a um conflito no segmento de seguros e trazer maior segurança para motoristas.
Isso porque o projeto, que ainda está tramitando, determina que as Associações de Proteção Veicular (APVs) e outras entidades que oferecem produtos de proteção veicular mas não são consideradas seguradoras, devem passar a seguir as diretrizes da Superintendência de Seguros Privados (Susep), assim como ocorre com as seguradoras tradicionais.
“Essas associações têm crescido nos últimos dez anos justamente por conta do movimento das seguradoras de rejeitarem os carros mais velhos. São basicamente pessoas que se associam, viram donas e assumem o risco geral. Só que tem gente que entra sem nem saber o que está fazendo, porque tem associação que diz vender seguro”, explica Eduardo Lobo.
Keila Farias afirma que as associações de proteção veicular, ao oferecerem a falsa garantia de proteção para carros, motos e caminhões, sugerem que a proteção veicular é um seguro mais barato.
“Não é seguro e pode custar muito caro. A maioria dos associados só percebe o engano quando não consegue receber as indenizações em caso de acidente, furto ou roubo do veículo. Fato é que a proteção veicular não estabelece relação de consumo. Muitas vezes, o consumidor só descobre que não tem aparo ao procurar um Procon”.
“Adaptação será necessária”
Especialistas afirmam que as seguradoras vão precisar se adaptar à presença das APVs no mercado e criar maneiras de atrair os consumidores com veículos mais velhos.
“As APVs são uma realidade. Estou vendo algumas seguradoras que já estão se atualizando e até se inspirando nos APVs para agregar veículos mais antigos, o que é bom porque o setor precisa lidar com essa realidade”, afirma Eduardo Cristhian.
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