O impacto invisível da perda da visão
Perda de visão afeta saúde emocional, autonomia e cognição; maioria dos casos pode ser evitada com prevenção
Imagine abrir os olhos e notar a visão um pouco mais embaçada. Parece só uma mudança de grau, mas, aos poucos, você já não reconhece o rosto de quem ama, não lê uma mensagem no celular, perde a confiança para atravessar a rua, preparar uma refeição, trabalhar, dirigir. Atualmente, o Brasil tem cerca de 1,5 milhão de pessoas cegas, segundo o relatório As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2023, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
É por meio da visão que formamos nossas memórias, moldamos nossa identidade, nos relacionamos com os outros e interagimos com o mundo ao nosso redor. Quando ela falha, não é só o corpo que sente: o impacto chega também à saúde emocional.
Uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) mostrou que adultos com perda visual têm o dobro do risco de desenvolver depressão em comparação com pessoas que enxergam bem. Já um estudo da BMC Ophthalmology revelou que pessoas com baixa visão relatam mais ansiedade em interações sociais. Em fases da vida em que aparência e aceitação são tão importantes, isso pode afetar profundamente a autoestima.
Outro dado relevante foi publicado pelo American Journal of Epidemiology: o surgimento de demências, como a Doença de Alzheimer, pode estar relacionado à baixa visão. Idosos com baixa acuidade visual têm mais chance de apresentar declínio cognitivo decorrente da perda de independência e da restrição nas atividades diárias, além da redução do engajamento social e do aumento do isolamento.
Por isso, é essencial reforçar a importância da saúde ocular em todas as idades. Perder a visão não significa apenas ver menos. É perder mobilidade, liberdade, bem-estar físico e emocional. É ver a vida se apagar aos poucos, muitas vezes sem perceber.
E, quando falamos em prevenção, não é sobre correr ao médico só quando há sintomas. Muitas doenças oculares se instalam sem dor, sem sinais claros. Quando ela se torna um motivo de preocupação, já pode ser tarde demais. É o caso do glaucoma, por exemplo, uma das principais causas de cegueira no mundo. Nas fases iniciais, ele costuma ser silencioso. Quando o paciente nota alguma dificuldade, o nervo óptico já pode estar comprometido. Segundo o CBO, cerca de 90% dos casos de deficiência visual são evitáveis ou tratáveis, especialmente quando identificados por meio de consultas preventivas.
No consultório, não é raro ouvir frases como “se eu soubesse antes” ou “achei que não fosse grave”. A saúde dos olhos deve entrar na rotina como qualquer outro cuidado essencial. A recomendação é que todas as pessoas façam exames oftalmológicos regulares, mesmo que não apresentem sintomas. A frequência vai variar conforme a idade, o histórico familiar e a presença de doenças crônicas. Mas, em geral, um check-up por ano já pode fazer toda a diferença.
A cegueira não afeta apenas os olhos, ela transforma a vida. Enxergar bem nos ajuda a viver bem. Cuide da sua saúde ocular com a atenção que ela merece. Porque quem enxerga o valor da prevenção vê a vida com mais nitidez.
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