Como a engenharia em crise afeta a sociedade e as empresas?
Após anos de crise, a engenharia busca recuperar prestígio e atrair novos talentos com a retomada econômica e tecnológica
Nos últimos anos, os profissionais de engenharia no Brasil enfrentaram desafios significativos. Dados recentes, baseados no Censo da Educação Superior, apontam uma queda de 23% no número de ingressantes nos cursos presenciais de engenharia entre 2014 e 2023, refletindo uma crise de confiança na profissão.
O crescimento da engenharia no Brasil foi impulsionado entre 2013 e 2015 por grandes obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os projetos da Copa do Mundo e Olimpíadas, e programas como o Prouni (Programa Universidade para Todos). Nesse período, o Brasil formou uma geração de engenheiros esperançosos com o desenvolvimento econômico e a infraestrutura.
No entanto, crises como a Operação Lava a Jato, mudanças de governo e cortes nos investimentos interromperam grandes obras e causaram descompasso entre a formação de profissionais e as oportunidades de emprego.
Esse descompasso causou uma percepção negativa sobre a carreira, gerando piadas infelizes como “engenheiro virou Uber”.
A limitação da base industrial do Brasil dificultou a absorção desses profissionais. Muitos precisaram migrar para outras áreas por falta de oportunidades e baixos salários. É fundamental destacar a responsabilidade de instituições de ensino, governos e empresas, que poderiam ter previsto e preparado estratégias para absorver esses profissionais qualificados.
Outro agravante é a dificuldade comum nos cursos de engenharia. Conforme o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em 2022, 70% dos estudantes brasileiros tinham dificuldades básicas em matemática. Sem bases sólidas, muitos enfrentam grandes desafios no ensino superior, contribuindo para elevadas taxas de evasão nos cursos de exatas.
Entretanto, em 2024, o avanço tecnológico, a transição energética e a retomada de investimentos em infraestrutura criam uma nova demanda por engenheiros qualificados, profissionais que hoje são escassos no mercado, já que muitos abandonaram a profissão. O Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027 prevê que o Brasil precisará capacitar 14 milhões de trabalhadores, incluindo engenheiros essenciais para liderar o processo.
Para restaurar a confiança na profissão, é necessário um esforço conjunto. Empresas devem oferecer salários justos e oportunidades de crescimento profissional. As instituições de ensino precisam preparar melhor os estudantes. Conselhos profissionais e órgãos governamentais devem realizar campanhas para conscientizar sobre a importância estratégica dos engenheiros no desenvolvimento sustentável e tecnológico do País.
É necessário mostrar à sociedade que a engenharia é uma profissão de longo prazo, exigindo dedicação constante e formação sólida, resultando em reconhecimento crescente ao longo da carreira. Histórias de sucesso e políticas consistentes são fundamentais para reverter a imagem negativa e atrair novos talentos. O futuro do Brasil depende diretamente da engenharia.