A mediocridade
Coluna foi publicada no domingo (18)
Leitores do Jornal A Tribuna
Inicio este texto na Grécia clássica, recordando Sócrates – com quem o conhecimento humano tem um imenso débito. Foi ele a nos mostrar como usar a razão, um dos precursores da lógica e criador da dialética. Sua obra filosófica ainda hoje nos cativa. Porém a humanidade foi ingrata com seu filho ilustre: de 500 homens livres sorteados entre a população de Atenas 360 votaram por sua morte. E ei-lo tomando cicuta, vítima da mais refinada mediocridade.
E que dizer de Pitágoras? De seu famoso teorema à introdução da prova na matemática, da descoberta dos números irracionais aos seus estudos filosóficos, tínhamos nele um gênio – que morreu exilado no distante Metaponto, dizem alguns que até queimado vivo em um incêndio provocado por manifestantes.
Não nos esqueçamos de Galileu. A este devemos o aprimoramento do telescópio e obras fabulosas sobre mecânica e astronomia - que, sem medo de errar, deram vigoroso impulso a uma verdadeira revolução científica que se alastraria na Europa, com reflexos até os nossos dias. Porém também aqui fomos ingratos: Galileu morreu pobre, cego e em prisão domiciliar.
Há também um certo Alan Turing, a quem devemos o desenvolvimento do computador - inclusive do que decodificou os códigos secretos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo a vitória da liberdade. Em reconhecimento pelo imenso bem que fizera à humanidade foi processado por homossexualidade e acabou cometendo suicídio um pouco antes de completar 42 anos de idade.
Lembra das chapas de raios-x, que tantas vidas salvam? Foram fruto do trabalho de Wilhelm Conrad Röntgen. Detalhe: ele recusou-se a patentear qualquer coisa relacionada com a produção ou o uso de raios-x, acreditando que eles deveriam ser usados para o benefício da humanidade. Morreu pobre, lá na Alemanha, desamparado pelo povo a quem tanto orgulho dera - e dá.
Do outro lado do planeta temos o exemplo de Kung-fu-tsé – que conhecemos como Confúcio. Ao longo de sua existência produziu reflexões magníficas sobre como é possível conduzir a vida sem recorrer à especulação metafísica. Seus ensinamentos ainda hoje, passados já dois mil e quinhentos anos, encantam. Paradoxalmente, passou a vida buscando – sem sucesso – empregar-se de forma estável em algum lugar. Morreu melancolicamente, amparado apenas por seus discípulos.
Na Itália Nicolau Maquiavel recebeu como paga pelos textos eternos que escreveu morrer miserável, assistido apenas por alguns poucos amigos. Na Espanha Cristóvão Colombo morreu na mais completa pobreza – uma recompensa por ter proporcionado à raça humana a descoberta da América. No Brasil Landell de Moura inventou o rádio, transmitindo a voz humana dois anos antes de Marconi transmitir meros sinais telegráficos - para ter sua invenção destruída por brasileiros que o acusaram de ser bruxo e até louco.
Após este devaneio pelos tempos passados retorno ao presente com uma nota de pesar no coração, pensando no quanto custa a mediocridade ao desenvolvimento da raça humana.
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