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Leitores do Jornal A Tribuna

Sons inesquecíveis

Confira a coluna desta quarta-feira (11)

Carlos Alcestes de Queiroz | 11/12/2024, 15:25 h | Atualizado em 11/12/2024, 15:25

Imagem ilustrativa da imagem Sons inesquecíveis
Carlos Alcestes de Queiroz escritor e engenheiro

Alguns dias atrás, em uma reunião de amigos, nem lembro o motivo do encontro, a conversa descambou para lembranças que ficam guardadas em nossa memória para sempre. Um dos participantes da conversa, levou para o lado das boas recordações e, principalmente, os sons inesquecíveis que marcaram nossas vidas.

Logo, quase todos de imediato quiseram se manifestar. O primeiro lembrou de um Canário da Terra que, ao raiar do dia, cantava diuturnamente em uma laranjeira próxima da janela de seu quarto. Chegou a tentar assobiar uma medíocre imitação do melodioso canto. Outro lembrava o cantar de sua mãe quando o embalava em seu colo para tentar fazê-lo dormir. Murmurou algumas canções de ninar, quase todas conhecidas por todos.

Um, olhando para o céu, como pedindo uma ajuda para a lembrança, citou o som do Hino Nacional que cantavam diariamente na escola que cursara o primário. As vozes finas, próprias de meninos daquela idade e a intenção da escola em transformá-los em verdadeiros patriotas, ficaram marcadas em suas recordações.

O mais idoso entre os presentes lembrou-se quando a sua primeira neta, olhando para ele, disse pela primeira vez, vovô, com os bracinhos estendidos em sua direção.

O mais romântico lembrou-se da música que tocava uma pequena orquestra, quando sua esposa entrou na igreja, no dia do seu casamento, recordando que não era a usual marcha nupcial, mas o tema musical de um filme famoso, na hora lembrado por quase todos. Uns mais ousados, e quem sabe, afinados chegaram até a cantarolar a música.

Sons de uma pequena cachoeira, as primeiras palavras de uma filha, uma música que dançou com a primeira namorada, a trilha sonora do filme onde deu o primeiro beijo numa menina que hoje seria a sua esposa e outros interessantes sons foram lembrados.

Como eu tinha ficado calado até então, quando todos deram as suas opiniões, como que combinado, todos presentes me encararam, e veladamente me perguntaram: e você? Como sabiam que eu gosto de falar, às vezes até demais, esperavam que eu tivesse uma resposta para o unânime questionamento, mas, fiquei calado até então. Ficando por último, em total silêncio, tinham quase certeza que eu não lembraria de nada sobre o tema abordado.

Respirei fundo, causando uma maior expectativa, olhado para o infinito falei: “O som de uma porta batendo”. Quase todos riram, esperando em seguida, alguma piada ou uma brincadeira para divertir os presentes, que deram depoimentos sérios e comoventes. “Calma amigos, vou explicar”.

Os olhares, agora mais penetrantes e ansiosos, esperavam a minha explicação.

“O bater da porta, em plena madrugada, informava-me que os meus filhos estavam voltando para casa, são e salvos de uma noitada. Aquilo era o aviso divino que a partir daquele momento as minhas preces tinham sidas atendidas e eu podia dormir tranquilo. Lembrei-me também que, antes do som da batida, precedia um chiado, consequente da falta de óleo nas dobradiças da porta. O chiado irritante para muitos era-me tão suave e agradável que eu nunca gastei uma gota de lubrificante nas rabugentas dobradiças”.

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