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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

Teoria do maluco

Confira a coluna de domingo (26)

José Vicente de Sá Pimentel | 27/01/2025, 14:36 h | Atualizado em 27/01/2025, 14:36

Imagem ilustrativa da imagem Teoria do maluco
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado |  Foto: A Tribuna

Donald Trump não sai das manchetes. Desde que tomou posse, na última segunda-feira, virou o centro das atenções de todo o planeta. Atordoados por uma avalanche de provocações, ironias e ameaças tonitruantes, os apoiadores aplaudem com empolgação, sem atentarem para as contradições embutidas no discurso, e sem entenderem as consequências potencialmente desastrosas da implementação de suas políticas.

Seu talento histriônico, seu talento para dominar as câmeras diverte o público. É um fenômeno que lembra, no bom sentido, Chacrinha anunciando que “eu vim para confundir, não para explicar”.

No discurso inaugural, Trump decretou uma pomposa emergência nacional na fronteira com o México. Além de colidir com a Constituição ao proibir a cidadania por nascimento, suspendeu as leis que conformam o sistema de refugiados e concedeu, ou pretendeu conceder ao governo federal amplos poderes para impedir a entrada de cidadãos pela fronteira com o México.

A vigência desses decretos está prevista para 20 de fevereiro. Até lá, aguarda-se um fluxo considerável de ações contestatórias em nível municipal e estadual, pois as medidas anunciadas têm vícios jurídicos que devem ser contestados em várias instâncias.

Na área externa, Trump concedeu 100 dias para que o seu enviado especial Keith Kellog, um general de pijama, acabe com a guerra na Ucrânia. Caso contrário, acena com a aplicação de altas taxas e outras barreiras tarifárias a produtos russos importados pelos EUA.

Diplomatas evitam falar de prazos para cumprir missões, sobretudo de natureza tão complexa como a ucraniana. Mas Trump não parece se preocupar com detalhes desse tipo. Parece apostar que daqui a 100 dias ninguém se lembrará de sua determinação. E se lembrar, quem irá contestá-lo?

Os republicanos dividem-se hoje em duas alas, a dos que dizem “sim” e a dos que preferem “sim, senhor”. Por sua vez, os democratas agem como se tivessem perdido o caminho de casa, mesmerizados, fragilizados. Como naquele conto dos Irmãos Grimm, seguem o flautista, correndo o risco de se afogarem no rio de votos perdidos.

Trump não se incomoda de ser considerado imprevisível. Pelo contrário, parece cultivar o conselho de Maquiavel, segundo o qual, em certas circunstâncias, o governante pode e deve simular loucura. Há exemplos na história moderna.

Richard Nixon foi, durante algum tempo, defensor do que ele próprio qualificou de “madman theory”, ou teoria do maluco. Ele queria fazer com que os vietnamitas depusessem as armas em 1968. E, para tanto, tentou convencê-los de que se não o fizessem, ele ficaria tão irritado que lançaria bombas nucleares sobre o país.

Não foi o único. Nikita Kruschev chegou a subir numa mesa de reuniões na ONU, em protesto contra um discurso do representante das Filipinas, nos idos de 1960. Saddam Hussein e Muammar Qaddafi foram considerados doidos em seu tempo.

Mais recentemente, o próprio Putin desenvolveu a fama de aloprado, após a invasão da Ucrânia, e muita gente pensa que o norte-coreano Kim Jong Um não bate bem. Ora, é conhecida a simpatia que Trump nutre por estes dois últimos, mais um dado a confundir a percepção do personagem.

Quando um presidente dos Estados Unidos, com todo o poder que tem à disposição, comporta-se erraticamente, é prudente botar os dois pés atrás e aguardar. No momento, o mundo espera as cartas que Trump vai de fato colocar na mesa, depois do discurso e da cara de malvado na foto oficial. Parte-se do princípio de que é arriscado abrir o jogo e enfrentá-lo agora.

Mas uma mulher corajosa já o fez. A bispa episcopaliana Mariann Edgar Budde, titular da Catedral Nacional de Washington, no tradicional serviço religioso do dia seguinta à posse do novo hóspede da Casa Branca, pediu que Trump tivesse misericórdia para com os filhos de imigrantes e com as crianças gays, lésbicas e transgêneros, “que existem em famílias democratas, republicanas e independentes”. Trump sentiu o golpe.

Torço para que um outro tapa com luva de pelica seja dado pelo filme “Ainda estou aqui”, esse poema à resistência com dignidade. Um Oscar para Fernanda Torres será o reconhecimento de que a arte sobreviverá depois que todos os “bullies” de hoje forem jogados num rodapé da história.

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