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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

A antidiplomacia de Trump

Confira a coluna de domingo (23)

José Vicente de Sá Pimentel | 24/02/2025, 15:11 h | Atualizado em 24/02/2025, 15:11

Imagem ilustrativa da imagem A antidiplomacia de Trump
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado

A característica das relações internacionais desde 20 de janeiro de 2025, data em que Donald Trump ascendeu à Casa Branca, é a imprevisibilidade. Os seus partidários alardeiam que nos trinta primeiros dias de governo, Trump fez mais do que Joe Biden nos quatro anos de mandato. Em quantidade e alarido, pode ser que sim. Em qualidade e eficácia, não.

A Riviera em Gaza não decolou, as tarifas tampouco, o canal continua sendo panamenho, a Groenlândia, dinamarquesa, o Canadá, canadense e o México, mexicano. Em busca de likes na internet, as atenções do governo se voltam para a Ucrânia.

No dia 13 último, o novo Secretário da Defesa, Pete Hegseth, debutou na diplomacia, ao participar de reunião do Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia. Criado pelos EUA, o grupo é composto por 46 países e coordena o envio de armamento militar para os ucranianos. A participação de Hegseth foi marcada pela peremptória declaração de que a Ucrânia não entraria na OTAN, o que causou estupefação nos presentes e caiu mal até nos EUA. O senador republicano Roger Wicker, por exemplo, lamentou o “erro de principiante”, pois não se poderia dar a público tão cedo um elemento vital da estratégia de negociação com os russos.

No dia 14, foi a vez do vice-presidente J.D.Vance fazer sua estreia na ribalta diplomática, ao participar da Conferência de Segurança da Europa, em Munique. Seu discurso de 20 minutos foi ouvido em sepulcral silêncio e causou imenso mal-estar. Em vez de abordar temas internacionais, Vance pediu espaço para partidos de direita, como o AfD alemão, e acusou frontalmente os europeus de “se afastarem dos seus valores” e “ignorarem as preocupações dos eleitores com a imigração e a liberdade de expressão”.

A revolta foi geral. O Ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, afirmou que “a fala de Vance é inaceitável”; Kaja Kallas, ex-Chanceler da Estônia e atual Vice-Presidente da Comissão Europeia, estranhou que o americano viesse “provocar uma briga”; Michael McFall, professor em Stanford e ex-embaixador dos EUA em Moscou, foi o mais enfático, ao qualificar os comentários de Vance de “insultuosos, além de falsos”.

Dia 18, foi aberta, em Riad, o que seria a primeira rodada das negociações sobre a guerra na Ucrânia. Participaram, pelo lado russo, Seguei Lavrov, que é Ministro das Relações Exteriores desde 2004, e Iuri Ushakov, ex-embaixador em Washington e atual Conselheiro de Segurança Nacional de Putin.

A delegação americana era presidida pelo atual Secretário de Estado, Marco Rubio, político da Florida sem experiência diplomática, filho de cubanos que, embora tivessem emigrado para a Florida nos anos 50, compartilhavam e transmitiram ao filho a paixão anti-Fidel Castro; o Conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz, militar veterano da II Guerra, deputado também pela

Florida, reconhecido pela fidelidade canina a Trump, e Steve Witkof, bilionário do setor imobiliário, amigo de Trump, recém-designado Enviado Especial para o Oriente Médio.

A disparidade de “expertise” entre as duas delegações e a estrepitosa ausência da Ucrânia sugerem que a reunião tinha pouca relevância. Seria apenas uma encenação para marcar o entendimento já em curso entre Trump e Putin, pelo qual os russos manteriam territórios ucranianos invadidos e os americanos ganhariam, além de bons negócios na Rússia, metade das reservas ucranianas de recursos minerais. Trump sugeriu que gosta desse esquema, ao revelar em sua mídia social que teve “uma longa conversa telefônica” com Putin, que poderá ser convidado para uma visita oficial a Washington. Zelensky, por sua vez, foi humilhado por Trump, que o qualificou de “ditador” e de “comediante sem votos”.

Em suas memórias, Angela Merkel confessa que “o erro que fiz com Trump foi considerá-lo normal”. Trump não joga pelas regras civilizadas, não respeita ninguém e está espremendo os membros da OTAN contra a parede. O ponto fraco da prepotência é que, ao invés de sucumbir, os europeus sempre podem cerrar fileiras a favor da Ucrânia, contra Putin e, por consequência, contra Trump. As eleições deste domingo na Alemanha são muito importantes para se avaliar os limites da imprevisibilidade.

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