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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

O futuro pertence a nós

Confira a coluna de domingo (16)

José Vicente de Sá Pimentel | 17/02/2025, 14:27 h | Atualizado em 17/02/2025, 14:27

Imagem ilustrativa da imagem O futuro pertence a nós
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado

Revi “Cabaret” há pouco tempo. O filme foi super premiado, Liza Minelli ganhou um Oscar com ele. A trama se passa em Berlim dos anos 1930, durante a ascensão do nazismo. As pessoas frequentavam o cabaré como se tudo estivesse normal, apesar dos sinais de que a situação política se deteriorava.

Numa cena antológica, os três personagens retornam de um fim de semana intenso e param num restaurante de beira de estrada, quando um rapaz louro, ar compenetrado e look infantil, com seu uniforme cáqui e meiões no joelho, começa a cantar. A câmera focaliza os olhos azuis, a braçadeira vermelha com a suástica da Juventude Hitlerista, e lentamente enquadra outras pessoas, que se levantam como que hipnotizadas, juntando-se ao coro. A cena se torna ainda mais macabra porque a canção é linda, e seu título “Tomorrow belongs to me”.

Uma profecia, ou mau agouro, que se repete agora nos olhos dos apoiadores que aplaudem os discursos delirantes que Donald Trump profere quase todos os dias. Não há dúvida de que ele tem o direito de governar, afinal foi eleito com os votos de 77 milhões de eleitores. Ocorre que a adversária obteve os votos de outros 75 milhões de cidadãos. O eleito deve governar para ambos os lados, e não é o que está acontecendo. Boa parte da enxurrada de medidas anunciadas por Trump não respeita as leis do país. A situação inusitada introduz o perigo do desmonte constitucional nos EUA e coloca, de chofre, o desafio de resistir-se, nos âmbitos interno e internacional, aos quatro anos do mandato.

Estudiosos se dedicam atualmente a avaliar as melhores técnicas para lidar-se com alguém como Trump. Em geral, os estudos começam pelo que se deve evitar. O historiador Timothy Snyder, por exemplo, considera particularmente nocivo um tipo de comportamento que qualifica de “aquiescência antecipatória”. Trata-se da tendência muito humana, mas contraproducente, de antecipar a obediência a uma norma, por medo de um “bullying” posterior.

Há também a tendência para ceder em nome de um improvável “propósito maior”. É o que fazem os CEOs que agradam o governo hoje para não perder financiamentos federais que amanhã poderão chegar. Raramente chegam.

Outro erro seria cometido pelos que querem abrigar-se sob o manto do “argumento pragmático”, aquele segundo o qual não é possível atuar, no mundo real, com base em princípios. Faz até sentido escolherem-se as batalhas, só que é indispensável evitar o impulso, que todo pragmático sofre, de baixar a cabeça e seguir a manada.

Nós que vivemos na ditadura militar sabemos como é forte o impulso do “se eu não faço, alguém fará”. É difícil renunciar às recompensas que poderemos usufruir, se fizermos o que todo mundo faz. No fim dessa linha de pensamento, ou de autoilusão, encontramos o extremo a que chegou Mark Zuckerberg, ao anunciar o início da era da “energia masculina”. Trata-se de uma bobagem. Quis ser esperto e se posicionar na fila dos bajuladores, mas apenas se desmoralizou, ao antecipar submissão ao poder dominante.

Diante desses riscos, o que deve fazer um país como o Brasil? A meu ver, o primeiro cuidado é relembrar as lições da história e ter plena consciência do que o país representa. Vale o clichê: esquecer a história faz você errar duas vezes. As tendências vigentes no mundo não precisam moldar as opções domésticas. Tampouco precisamos nos posicionar contra ou a favor de ninguém. Precisamos, isto sim, deixar claro, com naturalidade, nosso propósito de manter a autonomia de movimentos.

O bom pragmatismo potencializará nossos trunfos, o principal dos quais é nossa riqueza ambiental. Incerteza sempre haverá no mundo. Tenhamos calma, meçamos bem as nossas opções, decidamos de acordo com os nossos interesses. Sempre, ou quase sempre fomos amigos dos EUA, sempre, ou quase sempre em nosso próprio benefício. Ainda não há por que deixar de sê-lo, o que não implica abandonar outros amigos. Acredito, com Agualusa, que períodos turbulentos podem ser também momentos de transformação e fortalecimento. Acredito que, no fim, o mundo será nosso, não deles.

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