O Boto e a base…
Confira a coluna de quarta-feira (01)
José Boto, o novo CEO do futebol do Flamengo, deixou claro em sua apresentação que o foco do seu trabalho estará dividido entre a excelência do time principal e o caráter de clube formador. Está encantado com a maturidade de Filipe Luis, sobre quem projeta o estrelato na função de treinador, e preocupado com o excesso de treinos táticos nas categorias de base – coisa que segundo ele o futebol brasileiro importou dos europeus, equivocadamente.
O tema é realmente muito bom. No entanto, o novo “homem-forte” do futebol rubro-negro precisa se atualizar sobre as razões de não produzirmos craques intuitivos como os citados por ele: Romário, Ronaldinho Gaúcho, Zico… Porque se o jovem brasileiro apresentado ao mercado internacional perdeu a essência do drible, nossa maior riqueza, não foi pela rigidez tática nas categorias de formação. Mas pela precocidade com a qual os destaques estão deixando o país.
Até a transferência de Neymar para o Barcelona em 2012, a esmagadora maioria deixava o país para jogar na Europa com idade em torno dos 20 anos – como fez o próprio Neymar. Kaká e Ronaldinho, expoentes de uma geração anterior, saíram aos 21. Romário, com 22. Zico, então, só deixou o futebol brasileiro com 30 anos. Ou seja: Vini Júnior, Endrick, Estevão e Savinho saíram na primeira janela da maior idade – 18 anos, em fase de maturação.
Vanderlei Luxemburgo, ao menos, está há mais de duas décadas repetindo que os garotos bons de bola estão sendo exportados ao futebol europeu e robotizados por lá antes mesmo de completarem o ciclo de formação. Aqui, na base ou nos profissionais, todos têm liberdade para jogar. Mas, no exterior, ganham duplas funções táticas e relevância defensiva. O que significa que a violação da essência brasileira não é da base.
Estevão e Endrick são dois ótimos exemplos de “prodígios” forjados com o DNA do futebol cinco vezes campeão mundial. Resta ver, no entanto, como os dois se sairão no cenário internacional sendo treinados por europeus.