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Ciência e Tecnologia

Técnica que injeta o próprio sangue no ovário ou útero trata infertilidade

Estudo foi feito entre 2017 e 2019 com 120 mulheres previamente selecionadas


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Imagem ilustrativa da imagem Técnica que injeta o próprio sangue no ovário ou útero trata infertilidade
A recuperação da menstruação foi observada em 18 das 30 pacientes com POI, e apenas 3 conseguiram engravidar e tiveram filhos |  Foto: Reprodução/Canva

Em 2020, após um tratamento de fertilidade na Clínica Genesis de Atenas, na Grécia, uma mulher que já estava havia mais de um ano na menopausa deu à luz uma criança. No mesmo ano, a brasileira Suzana Gomes, então com 52 anos, também ganhou o tão sonhado filho, mesmo já tendo realizado cinco cirurgias para retirar miomas do endométrio, a parede do útero.

De comum nos dois casos, o uso da técnica do PRP (Plasma Rico em Plaquetas), um concentrado de plaquetas que é extraído do próprio sangue da mulher e injetado nos ovários ou no endométrio para tratar a infertilidade.

Esse procedimento já é comum no mundo em outras especialidades, como cirurgias ortopédicas, odontológicas, dermatológicas e até para fins estéticos. No entanto, sua utilização no tratamento de infertilidade é recente e se tornou mais conhecida após a pesquisa realizada por um grupo de médicos gregos que mostrou resultados promissores no tratamento de insuficiência ovariana com o uso de PRP.

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O estudo foi feito entre 2017 e 2019 com 120 mulheres previamente selecionadas, divididas em quatro grupos de 30: pacientes com má resposta ovariana (POR, na sigla em inglês), insuficiência ovariana prematura (POI), pré-menopausa e menopausa. Foi observada uma melhora significativa no perfil hormonal e no quadro da reserva ovariana em relação às participantes do POR. Das 30, 12 tiveram filhos saudáveis ao final do processo.

A recuperação da menstruação foi observada em 18 das 30 pacientes com POI, e apenas 3 conseguiram engravidar e tiveram filhos. Da mesma forma, 13 de 30 mulheres na menopausa responderam positivamente ao tratamento com PRP, mas apenas uma deu à luz um filho. Por fim, a regularidade da menstruação e níveis hormonais melhorados foram relatados para 24 das 30 mulheres na pré-menopausa. Dessas, quatro engravidaram, mas só três filhos nasceram vivos.

Os resultados foram inconsistentes, mas chamaram a atenção de especialistas mundo afora pela perspectiva de êxito em casos até então quase impossíveis de darem certo. Um desses é o de Suzana Gomes, hoje com 56 anos - o filho, Rafael, tem 3.

Ela conta que após ter realizado cinco cirurgias em dez anos para a retirada de miomas do endométrio, os médicos afirmavam que ela nunca engravidaria. Mesmo assim, ela e o marido, Fernando, resolveram tentar as técnicas possíveis. Após duas tentativas frustradas, o casal já pensava em desistir quando foram informados do PRP pelo médico Fernando Prado, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Neo Vita.

"Foi a última tentativa depois de três anos tentando, duas frustradas. Depois de muita medicação, meu útero não conseguia crescer mais para colocar os embriões. Na última tentativa, o médico falou do procedimento e que não era tão utilizado porque era novo e nunca tinha feito em útero. Graças a Deus deu certíssimo, tive meu bebê", conta Gomes.

Após o tratamento, com poucas esperanças, ela soube que estava grávida no dia 19 de outubro de 2019. "Até hoje olho para meu filho e acho que é um milagre. É inexplicável a sensação."

Fernando Prado afirma que o PRP melhora a qualidade do endométrio em mulheres que estão tentando engravidar, especialmente naquelas em que este tecido não cresce, mesmo com estímulos hormonais.

"Além de o PRP ajudar a aumentar a espessura do endométrio, ele pode melhorar a vascularização e a regeneração tecidual, além de estimular a liberação de fatores de crescimento que ajudam na implantação do embrião. Também é útil em casos de mulheres que tiveram muitas cirurgias no útero, como para retirar miomas, pólipos ou sinéquias [cicatrizes]", diz o especialista.

Embora essa técnica tenha apresentado bons resultados, ela ainda está em fase experimental de pesquisas. De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o CFM (Conselho Federal de Medicina), o PRP não pode ser comercializado nem usado como propaganda pelas clínicas como um procedimento padrão.

"Até hoje olho para meu filho e acho que é um milagre. Já estava achando que não ia dar certo. Quando soube que estava grávida, a gente ficou num estado tão surpreso que hoje mesmo falo que é um milagre de Deus. É inexplicável a sensação", disse Suzana Gomes, professora que utilizou a técnica do PRP para ser mãe aos 52 anos.

"A realização de procedimentos em caráter experimental implica que eles vão seguir normatização específica da pesquisa científica com seres humanos, a qual está sob fiscalização do sistema CEP/Conep (Comitês de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa). O profissional que realiza o procedimento não pode cobrar e ainda assume uma série de compromissos com o sujeito de pesquisa (note que ele não é paciente), inclusive suporte médico e assistencial em caso de uma evolução ruim", destaca o CFM, em nota.

Segundo a Anvisa, no Brasil o PRP pode ser usado como tratamento terapêutico apenas na odontologia.

O obstetra Álvaro Pigatto Ceschin, especialista em reprodução da clínica Feliccità, de Curitiba (PR), e presidente da Sbra (Associação Brasileira de Reprodução Assistida), aponta uma polêmica relacionada ao PRP. Algumas clínicas, no Brasil e no exterior, fazem propaganda do procedimento como "rejuvenescimento do ovário", o que ele descarta.

"Chamam isso de rejuvenescimento do ovário, mas você não faz rejuvenescimento do ponto de vista de criar novos óvulos, você vai fazer a ativação dos óvulos dormentes que estão no ovário",diz.

Ele explica que a mulher na menopausa ainda possui cerca de 10 mil óvulos inativos. Então, a injeção do PRP no ovário é para tentar fazer uma ativação dos folículos remanescentes, o que possibilitaria serem utilizados numa possível gestação.

COMO É FEITO O TRATAMENTO

O tratamento com PRP de ovário ou endométrio geralmente é realizado em uma clínica ou consultório médico, e envolve as seguintes etapas:

1. Coleta de sangue: É coletada uma amostra de sangue da paciente. A seguir, essa amostra é processada em uma centrífuga, separando as plaquetas, que são mais pesadas do que as outras células do sangue. Assim, a quantidade de plaquetas no mesmo volume de plasma ficará mais alta, resultando no PRP.

2. Preparação: O Plasma Rico em Plaquetas é preparado e concentrado em uma seringa, no volume de 0,5 ml a 1 ml, para ser injetado no local desejado.

3. Injeção: O PRP é então injetado diretamente no ovário ou no endométrio, dependendo do tratamento escolhido. "Quando é feito no endométrio, utilizamos um catéter como o de inseminação intrauterina. É um procedimento indolor e não requer anestesia. Já para injetar nos ovários a paciente precisa estar anestesiada e em um ambiente cirúrgico. É feito como se fosse uma coleta de óvulos para fertilização in vitro, utilizando a mesma agulha que usamos para captar os óvulos, mas injetando o PRP nos ovários", diz o médico Fernando Prado.

Obs.: O número e a frequência das sessões de tratamento com PRP não são totalmente definidas e podem variar a depender das necessidades e condições de cada paciente, explica o especialista.

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