“Vejo cenas de sexo em todo lugar", diz viciado em pornografia
Casos ganharam repercussão na mídia após influenciador admitir vício
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O lado obscuro da busca obsessiva pelo prazer sexual no mundo virtual tem se revelado nos consultórios. Enfrentando problemas no trabalho e em relacionamentos amorosos – até mesmo em casamentos –, viciados em pornografia digital têm pedido ajuda a médicos e psicólogos para se libertar dessa dependência.
Na matéria já divulgada no jornal A Tribuna e no portal Tribuna Online, especialistas afirmam que dependência de pornografia aumentou, e a demanda por tratamento também.
Sentindo-se sujo e com vergonha de si mesmo, um profissional que trabalha na área da saúde, de 25 anos, decidiu buscar ajuda médica.
Atualmente, ele faz tratamento medicamentoso, com uso de antidepressivos e ansiolíticos, além de remédio para compulsão.
Na condição de que o seu nome, bem como o nome da médica que o acompanha não fosse revelado, ele aceitou contar como foi apresentado à pornografia digital e os estragos que isso causou em sua vida e relacionamentos amorosos.
A entrevista foi concedida ao lado da médica, com quem ele faz tratamento há um ano.
A Tribuna- Como foi “apresentado” à pornografia digital?
Paciente- Ainda muito novo tive contato com revistas de nudez explícita, por conta de um dos meus pais que tinha o material em casa. Depois, tive acesso muito cedo a vídeos de pornografia em cartoon, apresentados por uma parente. O computador veio mais tarde, mas ainda na infância.
Há quanto tempo aconteceu esse contato?
Meu primeiro contato com a pornografia no computador aconteceu aos 12 anos, em casa, em um horário em que não haviam responsáveis em casa.
Qual tem sido a frequência dedicada para pornografia digital?
Diária. Várias vezes ao dia. Houve momentos piores, onde o consumo levou uma tarde inteira. Horas dedicadas a consumir muitos vídeos de pornografia que tinham muitos minutos de duração.
Passava a noite sem dormir por causa disso?
Hoje, após muito tempo de tratamento, isso não é mais um problema para iniciar o sono, mas antes de dormir, e se eu acordo durante a madrugada por qualquer motivo, a pornografia acaba se fazendo presente.
O que te encanta lá?
Inicialmente me causava uma curiosidade, o que acabou se tornando uma predileção.
O prazer rápido, a ideia de não ser rejeitado e a anonimidade eram as principais vantagens.
Hoje, nada mais me causa o mesmo encanto, só um fascínio associado à repulsa, porém não consigo conter completamente o acesso.
É solteiro ou casado? Isso já prejudicou algum relacionamento ou relacionamentos?
Estou namorando há mais de cinco anos. Os prejuízos aconteceram nos relacionamentos anteriores, principalmente porque em um deles me uni a alguém que também estava na mesma situação com a pornografia, e isso fez com que ficássemos num ciclo de retroalimentação um do outro, o que piorou muito a minha vida, e tenho certeza que a dela também.
Outro ponto foi a banalização do ato sexual, que se tornou pouco estimulante, pouco interessante, cada vez mais objetificado como instrumento da satisfação do vício, buscando reproduzir aquilo que via, aquilo que consumia.
Era infiel?
Nunca fui infiel no meu relacionamento, mas havia uma ideia sobre os corpos de outras pessoas que rondava a minha mente e acabava levando ao consumo imediato da pornografia, assim que eu estivesse sozinho.
Se considera um viciado em pornografia digital?
Absolutamente.
E o contato físico ainda faz parte da sua rotina?
Sim. A relação sexual, principalmente hoje, tem maior importância, por encarar como ela é, mas por muito tempo era apenas um coadjuvante que tornava viva aquela cena que eu havia consumido na pornografia por tanto tempo.
O sexo servia como a prova prática de que tudo aquilo que eu vi era possível, e que eu poderia continuar dissimulando essa realidade.
Já houve vezes que preferi encerrar o ato sexual e partir para a pornografia, por estar sendo pouco estimulante, monótono, se comparado as cenas de sexo fictícias.
Quando decidiu buscar ajuda e por quê?
Decidi buscar ajuda após um dia que passei todo ao redor da pornografia. Um dia inteiro, uma madrugada inteira, trancado no quarto, esgotado de energia, exausto de sono, porém sem conseguir parar, sem conseguir pedir ajuda ou sentir que era demais.
Isso ocorreu muitas outras vezes, tantas que não consigo especificar, o que me tornou menos que uma sombra, que vivia em torno de realizar essas vontades.
A partir daí, cenas sexuais passaram a povoar minha mente, em todos os lugares, em todas as situações, a cada momento do dia.
Nos momentos mais impróprios, a vontade e a lembrança daquele material e daquilo que eu via e ouvia. Desde então venho buscando formas de combater essa escravidão, principalmente pelo bem da minha família, que merece alguém por completo, e não um espectro de quem eu me tornei.
Como se sente?
Me sinto sujo, mas ainda menos do que antes. Sinto vergonha. Vergonha por algo que ninguém presencia, mas que eu sei que está comigo a todo momento. Me sinto fraco e poucas coisas me causam a mesma excitação, o que acaba culminando num quadro geral de desinteresse e desânimo.
Como tem sido o seu tratamento?
Faço o tratamento medicamentoso, com uso de antidepressivos e ansiolíticos, e também um medicamento para compulsão. Tem surtido bons resultados, principalmente nos pensamentos indevidos, que reduziram drasticamente, apesar de ainda existirem.
A prática ainda permanece, mas a quantidade de vezes também sofreu redução, o que é um ponto muito interessante.
Inserir exercícios diários de alta intensidade ajudaram muito, principalmente a noite, quando, já cansado, sobra pouco tempo pra manter o pensamento na pornografia.
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