Uso de celular nas escolas: pais também têm de criar regras em casa
Especialistas destacam a importância de pais e escolas atuarem juntos para equilibrar o uso do celular, promovendo mais interação familiar
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No mesmo compasso que as escolas, os pais também têm um papel fundamental e devem criar regras e estabelecer limites quanto ao uso e tempo do celular em casa. Mas de que forma eles podem ajudar a construir uma relação saudável dos filhos com os aparelhos?
Para a neuropsicopedagoga Thais Cruz, a chave está em aproveitar o debate e as mudanças em andamento para educar e orientar sobre os impactos do uso excessivo. Ela enfatiza que é preciso conversar sobre riscos, benefícios e malefícios.
“Esse momento pode ser uma ótima oportunidade para os pais também estabelecerem regras sobre o tempo de uso do celular em casa. A medida tomada na escola, ao restringir o uso do celular, pode ser mais eficaz se houver um alinhamento de ações com a família”.
A neuropsicopedagoga Geovana Mascarenhas observou que assim como em qualquer situação, escola e família precisam estar na mesma sintonia. “Não ter acesso ao celular nas escolas e o descontrole continuar em casa dificulta ainda mais esse processo. O uso nocivo do celular não se restringe ao ambiente escolar”.
Segundo ela, proibir já se sabe que não é a melhor solução. “Até porque, nem conseguimos. Vivemos em um mundo digital. A diferença está na dosagem. As crianças e adolescentes não estão apenas distantes no ambiente escolar, estão distantes também nas relações familiares. É hora de todo mundo participar”.
Geovana Mascarenhas reforçou que o diálogo sempre é favorável, mas ele perde valor se não caminhar com o exemplo.
“Queremos filhos longe das telas, mas precisamos dar tempo de qualidade. Às vezes estamos tão ou mais conectados que nossos filhos e nem percebemos”.
Na casa do dentista Alex Caetano, de 37 anos, e da universitária Caroline Pedrini, de 32, neste ano algumas regras foram reforçadas, com um “combinado” com os filhos Arthur, 15 anos, e Bruno, 10.
“Ninguém vai mais para a mesa na hora das refeições com celular e nem para o quarto, na hora de dormir. As regras servem para nós também. Além de dar exemplo, isso tem permitido que a gente converse mais e tenha mais tempo de qualidade com os meninos”, revelou Caroline.
Opiniões
Conscientização em parceria

“Esse momento de discussão e reflexão sobre o uso de celulares é ideal para que os pais criem conscientização e parceria com seus filhos.
A chave está em aproveitar o debate e as mudanças em andamento para educar e orientar de forma positiva.
Os pais devem agir como modelos. Se os filhos perceberem que os pais têm um uso consciente e dando tempo de qualidade aos seus filhos, é mais provável que sigam esses exemplos”.
Uso nocivo não é só nas escolas

“Assim como em qualquer situação, escola e família precisam estar na mesma sintonia. Não ter acesso ao celular nas escolas e o descontrole continuar em casa dificulta ainda mais esse processo.
O uso nocivo do celular não se restringe ao ambiente escolar. Famílias e escola precisam ter esse equilíbrio, pois, do contrário, uma das partes acaba ficando com um peso maior dessas mudanças. Aluno é transitório e filho é para toda a vida, então, essa responsabilidade precisa ser entendida pela família”.
Socialização

“Ao longo do tempo, o impacto positivo dessa medida sobre a saúde mental e comportamental dos filhos ficará, a cada dia, muito mais evidente e será percebido também em casa pelos pais.
A socialização e a qualidade do relacionamento ficarão perceptíveis no ambiente familiar. As escolas podem orientar os pais a buscarem maior interação com os filhos, diminuindo ao máximo o tempo de telas em casa. Nas últimas décadas o índice de depressão e ansiedade tem aumentado assustadoramente na infância e na adolescência”.
Ajuda da família

“As escolas estão cumprindo o papel delas, mas as famílias nesse momento precisam também contribuir. Muitas têm terceirizado para as escolas um papel de educar – até mesmo com relação ao uso do celular – que é delas também.
Não adianta as escolas proibirem o uso do aparelho se ao chegar em casa crianças e adolescentes não têm regra nenhuma. Não é facultativo aos pais estabelecerem regras para os filhos, mas uma obrigação”.
Até crochê e dobradura no recreio

“Voltamos ao antigo recreio”. Essa é a avaliação feita pela diretora pedagógica do UP Centro Educacional, Teresa Augusta Spinassé, pouco mais de um mês após o início das aulas.
Sem os celulares, ela revelou que os horários em que os estudantes estão fora da sala conta com maior interação entre eles. Em algumas escolas, grupos de meninas se reúnem até para fazer crochê e dobraduras.
“Optamos por colocar mesa de pingue-pongue e espaços para que eles interajam. Os alunos têm brincado de jogos de tabuleiro, de cartas e dominó”, diz Teresa.
Ela afirmou que a escola tem a disciplina Desenvolvimento Socioemocional, que ajuda na reflexão das relações entre eles e sobre o uso de redes sociais.
Os alunos Luiza Caiado, Beatriz França, Pedro Pinna e Arthur Veloso, de 14 anos, gostam de jogar damas no recreio.
O psicopedagogo clínico Cláudio Miranda contou que muitas escolas estão providenciando petecas, xadrez, totó, bambolê, bola, jogos de trilha, entre outros.
Para ele, cada escola irá descobrindo novas formas de dar suporte. “Em algumas, há grupos de meninas que se reúnem para fazer crochê enquanto conversam. As dobraduras também têm sido usadas como entretenimento”.
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