Uma em cada 30 crianças no Brasil tem autismo, diz estudo
Análise utilizou escala Mini-TEA, criada por universidade brasileira, com 48 perguntas direcionadas aos pais ou responsáveis
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Uma pesquisa inédita apontou que uma em cada 30 crianças no Brasil apresenta Transtorno do Espectro Autista (TEA). É o primeiro estudo de frequência do transtorno no País.
Conduzida pela Universidade de Passo Fundo (UPF), do Rio Grande do Sul, em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) local, o estudo avaliou todas as crianças entre 2,5 e 12 anos de Coxilha, município no norte do estado gaúcho.
A análise utilizou a escala Mini-TEA, criada pela universidade, com 48 perguntas direcionadas aos pais ou responsáveis.
A escala atende crianças de 2 anos e meio a 12 anos, diferente da usada atualmente, a M-CHAT, voltada para crianças de 1 ano e 4 meses até 2 anos e meio.
Os dados são similares aos apresentados nos Estados Unidos em 2020, em que uma em cada 36 crianças de 8 anos foi identificada com TEA, segundo estatísticas do órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention ( tradução livre para Centro de Controle e Prevenção de Doenças - CDC).
Na avaliação da psiquiatra infantil Fernanda Mappa, apesar dos dados se aproximarem do que é esperado, é muito difícil fazer uma generalização para todo o contexto do Brasil.
“O Brasil é muito grande, cheio de peculiaridades e regionalismos. Mas é sempre importante termos dados brasileiros”, avalia.
A médica explica que o desenho do estudo brasileiro se difere do americano, pois os Estados Unidos consideram para a análise crianças até 8 anos de idade.
Para a neurologista Ana Cláudia Andrade, com pós-graduação em Autismo e Análise Aplicada de Comportamento e membro da Academia Brasileira de Neurologia, o estudo não surpreende quanto à prevalência do autismo, pois é semelhante ao que vinha sendo visto nos EUA e Europa.
“Tanto melhoramos a nossa capacidade de diagnosticar quanto tem se observado um aumento real dos casos”, avalia.
O médico psiquiatra da Infância e Adolescência Rodrigo Eustáquio destaca que, além das avaliações, o aumento de casos do transtorno também está relacionado ao maior acesso da população aos serviços de saúde mental. “Estamos conseguindo diagnosticar mais casos, embora ainda existam pessoas que não tenham acesso a esses serviços de saúde e, por isso, não tenham o diagnóstico adequado”.
Diagnóstico após filho parar de falar
A universitária Caroline Acrouch Ramos, de 24 anos, procurou um neuropediatra para o filho Christopher, de 3 anos, quando ele parou de falar, depois de ter aprendido as primeiras palavras.
Após investigação, o menino recebeu o diagnóstico do transtorno do espectro autista (TEA).
“Ele não socializava com outras crianças, engatinhou com quase 1 ano e andou com 1 ano e meio. Ele fez um ano de fonoaudióloga e começou a falar com 2 anos e meio”, conta Caroline.
Já o filho mais novo, Davi, de um ano, não teve atrasos para andar e falar, mas tinha sensibilidades que chamaram a atenção da mãe. “Não podia penteá-lo ou tocá-lo que ele chorava muito. Mas ele também parou de falar. Davi recebeu o diagnóstico de TEA e TDAH. Ele tem pavor de barulho, tem crises de choro”.
Fatores ambientais e genéticos podem causar TEA
O que está por trás do aumento de casos de autismo em todo mundo? Especialistas explicam que, embora a causa ainda não seja totalmente conhecida, acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Prematuridade, baixo peso ao nascer, exposição a certas substâncias, a certos medicamentos ou drogas durante a gestação, associadas a questões genéticas, podem corroborar para o desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo explica o psiquiatra da Infância e Adolescência Rodrigo Eustáquio.
“Ainda não está totalmente esclarecido quais são todas as etiologias que possam levar ao transtorno, inclusive, pode haver uma mutação genética”.
De acordo com a psiquiatra infantil Fernanda Mappa, na perspectiva atual, a etiologia do TEA está relacionada à interação entre fatores genéticos e ambientais.
“Ou seja, o material genético da pessoa pode ser influenciado por fatores ambientais aos quais o feto ou a criança é exposto, como o uso de certos medicamentos ou substâncias químicas durante a gestação e a prematuridade extrema”.
Para identificação do TEA, a neurologista Ana Cláudia Andrade, com pós-graduação em Autismo e Análise Aplicada de Comportamento, recomenda que os responsáveis estejam atentos aos sinais.
“É importante observar se a criança faz bom contato visual, se vira quando é chamada pelo nome, se atende a comandos simples, se balbucia em resposta aos estímulos, se começa a falar por volta de 1 ano a 1 ano e meio, se brinca de forma funcional com os brinquedos. Se essas etapas do desenvolvimento estiverem atrasadas, é importante levar a criança para avaliação com especialista”.
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Pesquisa
Uma pesquisa feita pela Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul, em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) local, demonstrou que uma a cada 30 crianças, entre 2,5 e 12 anos de Coxilha, município no norte do estado gaúcho, apresenta Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A cidade foi escolhida devido à estrutura de saúde do município e à proximidade com a universidade.
É a primeira vez que um estudo de frequência do TEA é feito no Brasil.
Teste
Para chegar ao resultado, foi aplicada a escala Mini-TEA, que atende crianças de 2 anos e meio a 12 anos. Composta por 48 perguntas simples, a escala foi respondida pelos pais ou responsáveis.
Dados
1 em cada 36 crianças de 8 anos foram identificadas com TEA, segundo estatísticas do órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (Centro de Controle e Prevenção de Doenças - CDC), dos Estados Unidos. Os dados do estudo no Brasil são similares aos apresentados nos EUA em 2020.
Com base na estimativa do CDC, 6 milhões de pessoas teriam TEA no Brasil.
Dados do Censo de Educação Básica apontam que, de 2022 a 2023, no Brasil, o número de crianças e adolescentes com TEA matriculados em salas de aula comuns, ou seja, com alunos sem deficiência, passou de 405.056 para 607.144.
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