Saúde mental: vergonha de buscar ajuda ainda é grande entre os jovens
Mesmo com mais abertura para falar sobre saúde mental, ainda há vergonha e barreiras que dificultam o tratamento emocional

Mesmo que para os mais jovens seja mais fácil hoje buscar psiquiatras e psicólogos, ainda existe, de acordo com especialistas, resistência de boa parte da população em tratar os problemas emocionais, devido à vergonha.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, mostram que 342.397 pessoas no Espírito Santo tinham diagnóstico de depressão. No entanto, apenas 172.262 pessoas receberam assistência médica nos 12 meses anteriores ao levantamento.
A psiquiatra Letícia Mameri-Trés, diretora da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), destaca que os jovens têm mais facilidade de pedir ajuda. “Apesar da vergonha (estigma) ainda ser muito grande”, frisa.
Karen de Vasconcelos, psiquiatra e professora do Unesc, destaca que hoje os jovens têm menos vergonha em relação ao estigma do que gerações passadas.
“Há mais abertura para falar sobre ansiedade, depressão e terapia, mas fatores culturais e estruturais permanecem. Entre eles, o medo do rótulo, o receio de impactos no currículo, as dificuldades de acesso a serviços públicos e a crença de que 'devo dar conta sozinho'”, elenca.
Segundo Karen, muitas vezes a dificuldade em procurar e aceitar o tratamento vem dos próprios pais ou responsáveis.
“Em resumo, há maior movimento de busca, mas também barreiras novas e antigas que impedem a ajuda plena”.
Medicamentos
Lícia Colodete, psiquiatra e presidente da Apes, destaca que, atualmente, há um conhecimento muito mais amplo sobre os transtornos mentais, além de maior facilidade de acesso a profissionais de saúde e medicamentos — o que torna natural o aumento no número de jovens em tratamento medicamentoso.
“Desde que bem avaliados e conduzidos, isso é um avanço e não um sinal de fraqueza de uma geração. Também não me parece correto comparar as gerações nesses termos, já que cada geração enfrenta o seu próprio desafio, lida com as suas complexidades”, ressalta.
“Parece-me que existe um certo consenso de que vivemos uma época de muitas transformações, em especial decorrente dos avanços tecnológicos, que nos lançam para um futuro ainda de muitas incertezas. Não é fácil ser jovem nessas condições”, completa Lícia.
Leitura ao ar livre

A arquiteta e urbanista Maria Eduarda de Souza Sudré, de 24 anos, conta que, durante o período da pandemia, entre o final de 2020 e o início de 2022, buscou ajuda psicológica para lidar com as pressão que estavam sobrecarregando sua mente. Hoje, uma das formas de aliviar esse estresse é desconectando-se e lendo ao ar livre.
“Eu tinha a consciência de que possuía muito mais possibilidades do que muitos da minha família tiveram e, por isso, senti que tinha a obrigação de 'dar certo'. Nunca foi uma pressão familiar, mas algo que sempre esteve internalizado em mim, até mesmo depois de ter conquistado coisas importantes”.
“Acredito que haja um medo muito forte na minha geração, de não conseguir realizar os sonhos, de não ter acesso a boas experiências e a uma qualidade de vida satisfatória, especialmente considerando os contextos político, social e econômico global. Isso gera uma sobrecarga física, por querer e tentar fazer tudo, e mental pela quantidade excessiva de informação disponível e comparações nesta era da internet”.
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