Renata Gazzinelli: “Precisamos nos livrar de práticas arcaicas no ensino”
Evento reuniu profissionais da educação em Pedra Azul, no último sábado, e as mudanças na gestão das instituições de ensino foram debatidas
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“A escola que temos, a escola que queremos” foi o primeiro tema do 7º Encontro de Gestores Educacionais, promovido pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES).
Na palestra, a pedagoga Renata Gazzinelli, que é diretora de Inteligência Pedagógica do Bernoulli Sistema de Ensino, provocou reflexões e insights nos educadores sobre a realidade das instituições de ensino e o que é esperado do futuro no aspecto de estratégias e planos de ação.
Para ela, planejar o ambiente de aprendizagem e o currículo é tarefa indispensável para os líderes escolares que querem, de fato, transformar a educação através do ambiente escolar.
A Tribuna- Pela sua percepção, qual escola temos?
Renata Gazzinelli- A minha maior preocupação em ajudar os gestores escolares é fazer com que eles entendam que ainda temos professores do século XX e estudantes do século XXI dividindo o mesmo ambiente escolar.
E aí, o que acontece? Esse estudante está chegando na escola com inúmeras facetas, diferentes daquelas do século passado. Eu tenho dito muito para os gestores que a gente entrou no século XXI na pandemia.
Acho que depois de 2020 assumimos uma posição de vanguarda na educação no sentido de entender que o mundo digital, que a tecnologia, passou a fazer parte da rotina diária dos nossos estudantes.
Então, o mais importante agora é mostrar para o gestor, enquanto alta liderança da escola, que se ele não mudar o modelo mental de todo o time que está dentro da escola, desde o porteiro até o diretor, nós vamos perder os nossos estudantes.
Às vezes, o educador fica preocupado que a inteligência artificial veio para tirar o lugar dele.
Mas isso só vai acontecer se o educador não ocupar o lugar que ele precisa ocupar como mentor, como humano que somos, como pessoas que traduzirão para o estudante aquilo que ele já traz como uma grande bagagem, mas que precisa de um adulto nessa relação para ser o mediador, até para ajudar o campo cognitivo dele.
Quando eu falo sobre a escola que a gente tem, quero dizer que é aquela escola que trabalha dentro de uma concepção muito linear, mas os nossos estudantes não são lineares.
Qual é “a escola que queremos”?
É preciso abrir a mente e trazer novos conceitos para a educação. É pensar que até o jeito de mudar, mudou.
Como é possível mudar o modelo mental no ambiente escolar?
A primeira coisa é descolar de ideias pré-concebidas de ritos, tudo que fiz deu certo até aqui e vai continuar dando certo se eu fizer só uma mudança aqui, outra acolá. Precisamos nos livrar de práticas arcaicas no ensino.
O que é arcaico e o que é moderno na educação?
Tem muita coisa que é colocada no campo da modernidade, mas é arcaico. Arcaico é aquilo que não serve mais, não tem mais utilidade. Uma máquina de escrever é arcaica, ela só serve como objeto de decoração.
Por exemplo, aquele diretor que investe em salas com muita tecnologia, mas que não abre mão daquela prova tradicional, da chamada para atestar a presença, de métodos pouco convergentes com a inquietude dos jovens.
Pode dar exemplos?
A modernidade é diferente de modismo. É preciso trazer a contemporaneidade para o ambiente escolar. A escola que a gente quer é aquela pautada na escuta; em educadores que prestam atenção no que os estudantes trazem; na interlocução entre o mediador, que é o professor, com os estudantes.
Eu vejo que a sala de aula é muito silenciosa, a aula nem sempre conta com cumplicidade e, com isso, o jovem está ficando entediado, desmotivado.
Muitas vezes, o professor tem medo que o estudante saiba mais que ele em termos de tecnologia, em termos de domínio digital.
Por exemplo, o professor pode eleger a cada semana um responsável para trazer ideias mais inovadoras para a sala de aula, aderentes a um projeto que eles vão desenvolver.
Outra sugestão: nós precisamos mudar o conceito de Feira de Ciência das escolas. Os alunos têm que colocar a mão na massa. Mas eles não querem mais usar isopor, cartolina. O estudante não quer fazer uma maquete física. Ele quer fazer uma maquete digital.
Vamos chamá-lo para pensar em estratégias para melhorar o trânsito em frente à escola, buscar alternativas para reduzir o gasto com energia elétrica da instituição, entre tantos outros projetos. Os alunos têm ideias inovadoras.
É preciso trazer esse cenário para sala de aula, ter uma escola pautada em protagonista, não se pode ter medo disso.
O estudante precisa ser o protagonista. O educador precisa chamá-lo para discutir o que está bacana e o que não está, perguntar o que ele propõe.
Quando eu falo em protagonismo não é algo solto, mas sim com disciplina, com ordem, limites. Só assim vamos ter um jovem autônomo, preparado para viver em sociedade, para assumir responsabilidade, encarar o mercado de trabalho.
Em um olhar macro, as escolas estão indo por esse caminho ou estão distantes dessa realidade?
Eu ainda vejo escolas dormindo, outras cochilando, mas também vejo instituições acordando, alçando esse voo da prosperidade.
Para aquelas que estão cochilando, dá tempo de mudar?
Com certeza. Nada se faz do dia para noite. Isso é um processo que inclui a participação de todos: estudantes, educadores, famílias.
É preciso ter coragem de recomeçar, de reconstruir, ser propositivo. Imagina se todas as vítimas da enchente do Rio Grande do Sul tivessem falado que a vida tinha acabado. Mas o que vimos foi o contrário, com milhares de exemplos de recomeço, de reconstrução.
Por isso, sou categórica em afirmar que é possível transformar a sociedade com pessoas engajadas e que se sentem renovadas todos os dias.
Quem é
Renata Gazzinelli
Diretora de Inteligência Pedagógica do Bernoulli Sistema de Ensino.
MBA em Gestão de Escolas, pós-graduada em Educação Ambiental e Sustentabilidade.
Especialista em Educação centrada em Valores Humanos.
Idealizadora do Projeto Escola de Pais, desde 2004.
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