Pais pedem ajuda à polícia para se proteger de filhos agressores
Mais de 200 idosos pediram cautelar no ano passado para manter distância do agressor. Só em janeiro foram 205 casos de agressão
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Duzentos e três idosos pediram proteção à polícia no último ano no ES, segundo dados da Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa (DEPPI). Cerca de 80% das agressões ocorreram no ambiente familiar. O agressor, na maioria das vezes, é um filho ou uma filha. Mas, por amor ou medo, nem todos os casos são denunciados.
Esses são dados de vítimas que pediram medidas cautelares na delegacia. Elas têm o objetivo de proteger a pessoa imediatamente em uma situação de perigo. Mas devem ser solicitadas pela vítima. Dependem do caso e do crime, mas o agressor pode ser condenado a não se aproximar da vítima, não frequentar determinados lugares, entre outras restrições.
Situações de abuso financeiro devido a uso de drogas são a razão por trás da maioria delas, explica a delegada da DEPPI, Milena Gireli. E a maioria das vítimas é do sexo feminino.
“Notamos que quando acontece violência física, já aconteceram outras com esse idoso. Ele já foi ameaçado, amedrontado ou abusado financeiramente. As mulheres são duplamente vulneráveis: fisicamente e por amor materno. Mas pai e mãe acabam deixando as coisas crescerem tentando proteger o filho. Eles só chegam na delegacia quando a situação realmente se agrava”.
Ela ressalta que a quantidade de medidas cautelares não reflete a realidade do Es. Muito menos o número de boletins de ocorrência que, em 2024, foi de 2.459.
“É um assunto muito delicado. A vítima muitas vezes se cala por amor ou medo. Então ela precisa que alguém fale. Não deixe chegar ao extremo. Denuncie antes”, orienta a delegada.
Idosos também se calam por falta de conhecimento ou por se acharem um fardo na família, diz.
Advogada e mestra em segurança pública, Menara Carlos de Souza explica que atende muitos casos, mas, na maioria das vezes, eles não seguem adiante.
“Muita gente não quer seguir adiante com a denúncia e aí o caso fica escondido, não vira processo judicial. É similar a casos de abuso de criança. Muitas vezes, a família tenta jogar aquilo para debaixo do tapete e resolver de outra forma”.
Testemunha amigo da vítima: “Ela vive em prisão emocional”
Uma costureira de 64 anos já foi agredida várias vezes, tanto física quanto verbalmente, pelo filho de 30 anos. Os dois vivem no mesmo terreno em Vila Velha, e os abusos continuam.
Uma testemunha da história, que preferiu não se identificar, conta que a costureira é “prisioneira emocionalmente” do filho.
A Tribuna: Quem a costureira é para você?
Testemunha: Eu sou um amigo próximo dela. A conheço desde 2010. Meus filhos a adotaram como avó. Ela é uma pessoa calma e tranquila. Gosta muito de ajudar os outros. Dedica todo o tempo para cuidar do marido inválido. No pedaço minúsculo de quintal que tinha, construiu uma quitinete para esse filho.
O que esse filho já fez com a mãe?
Eu não sei qual droga ele usa, mas ele é usuário desde a época da escola. Já bateu nela várias vezes. Uma vez chegou no ateliê dela, num dia que usou drogas demais e começou a quebrar as coisas. A maior ofensa para ela é mexer com a parte religiosa. Ele pegou a Bíblia dela, rasgou e pisoteou. A própria filha, menor, o denunciou.
Hoje, a agride fisicamente?
Ele não põe mais a mão nela por que já foi preso por isso. Mas ele a agride verbalmente.
Há outros tipos de agressão?
Ela é prisioneira dele emocionalmente. Ele vigia todo mundo que chega na casa e também as conversas dela. Um dia ele a pertubou tanto que ela surtou, teve um colapso nervoso.
Por que não é denunciado?
Ele é filho dela. Eu gostaria, mas não acho que ela suportaria emocionalmente. Na minha opinião, ela tem muito medo de denunciar.
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Números
203 medidas cautelares foram pedidas por pais em 2024.
As Principais vítimas são do sexo feminino.
Na maioria dos casos, os agressores são filhos e netos.
Ao todo, 2.459 boletins de ocorrência foram registrados na Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa (DEPPI) em 2024. Somente em janeiro deste, foram 205 casos.
Como denunciar
A denúncia pode ser feita em qualquer lugar. Isso significa que não é preciso ir à delegacia especializada. Tampouco precisa ser em uma delegacia.
Espaços públicos como unidades de saúde, pronto-atendimentos ou Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) também recebem. Todas as denúncias são investigadas.
Outra opção é denunciar anonimamente pelo disque 100 ou 181.
Fonte: Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa.
Análise: “Como meus filhos me abandonam?”

“Esse rompimento pode desencadear depressão, ansiedade, isolamento e uma tristeza contínua na vida do idoso, não apenas como sintoma, mas como um sentimento presente.
Um estudo realizado por um estudante de Direito de uma faculdade em Vitória, sob minha orientação, abordou o dano moral pelo abandono afetivo de idosos. Durante a pesquisa, conduzida em abrigos para idosos na cidade, explicamos que, caso estejam sendo abandonados por seus filhos, eles podem recorrer a medidas judiciais civis contra eles.
No entanto, muitos relataram que, mesmo cientes desse direito, não tomariam essa atitude. Primeiro, porque não desejam machucar seus filhos – o papel dos pais no cuidado e proteção permanece mesmo diante do abandono. Além disso, há o medo da exposição: “Como é que meus filhos me abandonam dessa forma?”.
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