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Cidades

“Não podemos abrir mão dos encontros pessoais”, afirma especialista

Especialista explica que atualmente a sociedade vive uma crise de laços, causada pelo isolamento digital que foi acelerado pela pandemia


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Em uma sociedade em que a tecnologia de comunicação avança em velocidade surpreendente, os laços sociais estão cada vez mais em crise. 

Um a cada quatro brasileiros não se sente próximo de ninguém. Foi o que mostrou um levantamento do Instituto Locomotiva, divulgado na última semana.

Para o doutor em Comunicação e  psicanalista José Antonio Martinuzzo, membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória, essa sensação de solidão é consequência do mau uso das tecnologias, que está fazendo com que as pessoas abram mão do contato físico e próximo com o outro. 

Martinuzzo explica que a pandemia fomentou esse equívoco, mas ele começou antes da emergência sanitária. Ele explica que hoje a sociedade vive crise de laços sociais, causada pelo isolamento digital.

Imagem ilustrativa da imagem “Não podemos abrir mão dos encontros pessoais”, afirma especialista
Martinuzzo, Doutor em Comunicação e Psicanalista: mau uso das tecnologias causa sensação de solidão. |  Foto: Leone Iglesias/AT

A Tribuna - Grande parte dos brasileiros está se sentindo sem conexão. O que  acha que traz essa sensação de solidão?

José Antonio Martinuzzo - Acho que essa pesquisa revela uma coisa  espantosa,  porque parece um paradoxo. Como alguém pode se sentir solitário, ter dificuldade para criar laços, em um mundo extremamente conectado pelas tecnologias digitais de informação e comunicação?  

Se em algum tempo da história a humanidade teve meios para incrementar as suas conexões, esse tempo é hoje! Estamos em um tempo em que temos a capacidade de promover a conexão, mas causa exatamente o oposto,  porque nós estamos tendo crenças ou um uso equivocado das tecnologias.

E foi nesse ponto que a sociedade passou a ter problemas de relacionamento, quando começou a se equivocar no uso das suas tecnologias e no uso das relações sociais. 

Então, temos conexões no jogo on-line, no aplicativo de mensagens, na rede social, e nos sentimos sozinhos. Acontece que ser ou ter uma informação na rede não quer dizer que esteja em comunhão ou comunicação com o outro.

A comunicação é quando, na troca de dados e informação, se produz um sentido que é compartilhado,  comum. Então, as pessoas estão se sentindo solitárias porque elas estão se enganando no uso de uma rede. Acham que quanto maior o seu número de conexões virtuais, o número de coisas que elas jogam na rede, elas vão se comunicar com alguém, elas vão criar vínculo com alguém. Mas não é.  

 Mas conseguimos viver bem com essa sensação de solidão?

Todos nós, humanos,  temos na nossa alma um traço de desamparo, de solidão, e vamos buscar o tempo todo aplacar isso.

Ocorre que nós estamos vivendo em um tempo que está nos oferecendo muito desamparo. O capitalismo não oferta emprego para todo mundo, os fatos são confrontados com fake news, toda sorte de limite e regra são vistos como abusivos,  os relacionamentos vêm e vão como se fosse uma onda no mar, ou seja, a gente vive um tempo de muita liquidez das relações, dos vínculos e das nossas próprias noções existenciais, das nossas próprias verdades. Isso só faz aumentar a nossa percepção e de desamparo na vida. 

E a tecnologia, que nos prometia conexão  independente do tempo e do lugar,  quando ela não entrega isso - porque não basta estar na rede, é preciso se comunicar - , mas um acréscimo à percepção de solidão.

Como isso pode refletir nas pessoas?

Isso vai refletir muitas coisas nas pessoas. Gera muita ansiedade, porque elas vão se sentir desamparadas o tempo todo, sem conexão, sem contar com ninguém e, com  isso, a vida  se torna um fardo muito pesado.  

Tem um outro efeito também que é muito dramático, que as pessoas desistem do outro. Estamos vivendo uma crise de laços sociais.

Há sérias consequências quando  se percebe sozinho no mundo. O ser humano precisa do outro. É um desafio conviver com o próximo, mas não dá pra viver sem  ele. 

A ilusão de que a tecnologia nos salvaria é um grande fator que incrementa essa percepção de solidão hoje.

A pandemia fomentou essa sensação?

Ela incrementou  a crise do laço social. Estar com o outro poderia significar morte, então houve o distanciamento.  Para sanar isso  lançamos mão do recurso da tecnologia, achando que ela fosse dar conta. 

Só que a vida via tecnologia de comunicação é uma vida pela metade. Nós necessitamos do toque, do encontro, do olhar. 

O que a  pandemia fez não foi tornar a internet uma solução para resolver nossos encontros e desencontros pessoais, ela simplesmente incrementou o distanciamento. Mais gente acreditou que poderia viver com os laços midiatizados e não com os laços interpessoais. Mas ninguém vive sem esse tipo de laço, é da nossa natureza existir na presença do outro.

O que poderia ser feito para retomar esses laços?

A primeira coisa que as pessoas precisam entender é que não podemos abrir mão dos encontros pessoais, dos nossos relacionamentos, da presença do outro. Ainda que essa presença cause insegurança, algum desconforto. 

Temos que perder algumas ilusões. Por exemplo, a ilusão de que podemos existir sem a presença do outro, de que a gente pode controlar a nossa existência no nível máximo, de que uma tecnologia resolve as nossas questões sociais, culturais e de relacionamentos. Essas são as principais. 

Não podemos achar que a tecnologia vai nos tirar todos os desconfortos do ano. O uso e abuso dela na pandemia e no pós-pandemia está incrementando aquilo que é de mais aterrorizante para o ser humano, que é a sensação de desamparo, de estar sozinho no mundo. Isso pode levar as pessoas a se iludirem, cada vez mais,  achando que quanto mais sozinhas e quanto mais tecnologias, elas vão ter controle sobre a vida. Pelo contrário, cada vez mais estão se afundando no mundo de solidão, de medo, de paranoias. 

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