Mestre do xadrez diz que venceu doença rara pela fé
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A descoberta de uma doença rara interrompeu o sonho de se tornar campeão mundial de xadrez quando estava no auge da carreira, no final da década de 1970. Mas Henrique Mecking superou a doença com a ajuda da fé e retomou seu posto entre os melhores enxadristas do Brasil.
Aos 69 anos, ele concilia sua atuação religiosa com as disputas no esporte. Mequinho, como é conhecido, é considerado o maior enxadrista da história do País.
Ele foi o terceiro melhor do mundo no ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide), em 1978. Naquele mesmo ano, foi diagnosticado com miastenia, doença que enfraquece os músculos e que era pouco conhecida na época.
Mesmo com médicos alertando sobre a gravidade de sua condição, Mequinho perseverou e, hoje, atribui “99% de cura pela fé”.
“Quando descobriram o que eu tinha, fiquei contente, achando que não precisaria retornar ao hospital, mas o médico disse que eu poderia estar falando em um dia e, no dia seguinte, sequer conseguir respirar”, recorda.
O jogador teve de interromper o sonho de ser campeão mundial por um tempo. As disputas eram longas e exigiam grande esforço. Mequinho tentou retornar às competições por algumas vezes, mas seu corpo, ainda enfraquecido, prejudicava seu desempenho.
“Ainda tentei o Torneio de Candidatos em 1978 (etapa final para definir o campeão mundial), na Holanda. Foi meu pior resultado desde que me tornei Grande Mestre (título dado pela Fide)”, conta.
“Em 1979, tive crise aguda, perdi a força no braço, meu corpo não aquecia e já não podia mais jogar. Foi quando comecei entender que só Jesus poderia me ajudar”, lembra Mequinho.
O enxadrista ficou mais de uma década fora do xadrez para cuidar da saúde. Após o período, ele voltou a jogar profissionalmente.
No ano de 2018, ele ficou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro e, em dezembro de 2020, conquistou o primeiro lugar em um torneio de São José dos Campos, São Paulo.
Quem é Henrique Mecking, o “Mequinho”?
- É considerado o maior enxadrista da história do Brasil.
- Foi o terceiro melhor do mundo no ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide), em 1978.
- Aos 7 anos, foi vice-campeão da cidade de São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, jogando com adultos.
- Ele se tornou Grande Mestre (título concedido pela Fide) aos 19 anos.
- É coautor do livro “Mequinho, o Xadrez de um Grande Mestre”, que vendeu mais de 9.400 exemplares e é voltado para enxadristas principiantes, de força mediana e mestres.
- Também escreveu o livro “Como Jesus Cristo salvou a minha vida”, que está na sexta edição e já vendeu mais de 15.480 exemplares.
ENTREVISTA | Henrique Costa Mecking, campeão de xadrez “Minha vida não daria certo sem Jesus”
A Tribuna – Quando se apegou à fé?
Henrique Mecking – Antes, nas disputas, eu nem era católico praticante, mas pedia ajuda a Deus. Quando estava andando pela cidade, entrava nas igrejas para pedir ajuda Dele. Mas achava que o campeonato era mais importante.
Foi em 1979 que eu frequentava um grupo de Renovação Carismática Católica (RCC), no Rio de Janeiro. Era normal fazerem oração para o doente. Então, levaram a tia Laura na minha casa e foi quando ela me trouxe a cura.
Ser campeão mundial era o meu sonho, mas, depois da doença, vi que minha vida não daria certo sem Jesus. Ele me curou em 99%.
Quando conseguiu voltar a ser ativo?
Voltei a jogar em 1991, mas ainda não jogava tão bem com antes. Depois de um tempo, me tornei novamente Grande Mestre.
Qual foi o momento mais marcante no xadrez?
Foram dois torneios interzonais. O primeiro foi o do Rio de Janeiro, em 1973, em Petrópolis. Eu não era favorito e ganhei invicto. O segundo foi em Manila, nas Filipinas, em 1976. Nesse, eu era um dos favoritos e consegui ganhar. Quem ganhava ia para o torneio de candidatos, etapa final para definir o campeão mundial.
Atualmente concilia a fé com as disputas?
Sim. Já estive em 12 estados brasileiros pregando como um profeta do Apocalipse e em 19 com xadrez. Ainda participo de campeonatos e joguei no dia 19 de dezembro. Hoje, estou em 4º lugar no Brasil no standard (modalidade em que cada jogador tem 90 minutos para jogar em cada partida) e em 1º no rápido (menos de uma hora de partida).
Sucesso de série ajuda a reacender a paixão pelo jogo

Os jogos de xadrez voltaram a explodir após a estreia da minissérie “O Gambito da Rainha”, em outubro do ano passado, pela plataforma de streaming Netflix.
A trama narra a história da jovem órfã Elizabeth Harmon, uma garota-prodígio do xadrez que luta contra o vício em uma jornada improvável para se tornar a número 1 do mundo no esporte.
O sucesso foi tanto que jovens consumidores de conteúdo via streaming passaram a se interessar pelo jogo. Nas três semanas seguintes à estreia, as vendas de tabuleiros de xadrez cresceram 87% nos Estados Unidos, enquanto livros sobre o esporte registraram aumento de 603%, segundo a empresa de pesquisas NPD Group.
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