Governo prepara novo pacote de mudanças para o ensino médio
Governo federal enviou ao Congresso Nacional projeto de lei que propõe alterações, como na carga horária e em disciplinas
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O novo ensino médio, que começou a ser implementado em 2022 nas escolas públicas e particulares do País, já passa por reestruturação. O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de lei que propõe mudanças, como na carga horária e em disciplinas.
Entre as alterações, o texto prevê o mínimo de 2.400 horas destinadas à formação geral básica dos estudantes do ensino médio, incluindo disciplinas como Português e Matemática.
No modelo que está em vigor, o teto era de 1.800 horas para as disciplinas comuns a todos os estudantes. O restante, 1.200 horas, é destinado às disciplinas optativas, em que o estudante pode escolher conforme áreas de interesse.
O projeto ainda propõe a retomada de disciplinas como a língua espanhola como obrigatórias no prazo de três anos.
A proposta também prevê que mudanças passem a valer a partir de 2025, mas isso depende da tramitação no Congresso.
O novo ensino médio foi aprovado em 2017, mas seria implementado gradativamente de 2022 a 2024. No entanto, o modelo vinha sofrendo críticas de estudantes e de educadores.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, explicou que o texto enviado ao Congresso é fruto de um “consenso possível” entre várias instituições.
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“O Conselho Nacional de Secretários de Educação tem pontos de concordância, mas também temos pontos de discordância”.
Ele ressaltou que pontos que ficaram de fora e que seriam importantes na avaliação dos secretários serão levados ao debate junto aos parlamentares.
O vice-presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado (Sinepe/ES) e gestor de escola, Eduardo Costa Gomes, avaliou a proposta como um “passo atrás”.
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“A grande mudança, que é muito sensível, é a destinação de 2.400 horas para a formação geral básica. Entendemos que isso inviabiliza a mudança mais significativa no ensino médio, que é necessária e precisa adequar o currículo à geração que hoje é atendida”.
Os estudantes da 3ª série do ensino médio do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha Ana Luísa Barbosa, 16, Melissa Lorenzutti, 17, e Pedro Alves Fonseca Pereira da Costa, 16, não devem estudar com as mudanças na etapa.
Mas o coordenador do ensino médio do colégio, Helton Sena, afirmou que a instituição vem acompanhando de perto as discussões. “A partir do momento em que definirem a reestruturação, estaremos prontos para as mudanças”.
Saiba mais
Novo ensino médio
O novo modelo foi aprovado em 2017, mas começou a ser adotado nas redes pública e particular de todo o País em 2022. A implementação seria gradativa até 2024.
A proposta é ter um currículo flexível, mais atrativo para estudantes.
Críticas
Desde o início da implantação, o modelo vem recebendo críticas.
Entre elas, a dificuldades de implementação em escolas sem infraestrutura, falta de formação adequada dos professores e menos espaço para as disciplinas básicas.
Para especialistas, isso ampliaria ainda mais a desigualdade no acesso ao ensino superior.
Revisão e proposta
O governo federal iniciou neste ano as discussões de uma restruturação do modelo. Uma consulta pública chegou a ser aberta.
Na terça-feira (24), o texto de uma proposta de projeto de lei foi apresentado ao Congresso Nacional, onde passará a tramitar.
O projeto prevê mudanças a partir de 2025, mas depende de aprovação na Câmara e no Senado.
Entenda a proposta
1- Carga horária
Como é: o novo ensino médio prevê um total de 3 mil horas-aulas ao longo dos três anos. Nesse caso, 60% (1.800 horas) são destinadas à formação geral básica (disciplinas obrigatórias a todos). Outras 1.200 horas são para os chamados itinerários formativos (parte flexível do currículo em que o estudante opta por disciplinas e projetos de áreas que deseja se aprofundar).
O que diz o projeto: mantém o total de 3.000 horas-aulas. A carga horária para as disciplinas obrigatórias no ensino regular é ampliada para 2.400 horas, restando 600 horas para as optativas. No ensino técnico, a carga para disciplinas obrigatórias poderá ser, no mínimo, de 2.100 horas.
2- Disciplinas obrigatórias
Como é hoje: A formação geral abrange as áreas de ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática. Português e Matemática precisam estar presentes em todos os anos do ciclo.
O que diz o projeto: prevê a retomada de todas as disciplinas do ensino médio antigo: Língua Portuguesa e suas literaturas; Língua Inglesa; Língua Espanhola; Arte; Educação Física; Matemática; História, Geografia, Sociologia e Filosofia; e Física, Química e Biologia.
3- Itinerários formativos
Como é hoje: cada rede de ensino e instituição define sua oferta de itinerários formativos dentro de “trilhas” principais: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico. As escolas podem, por exemplo, escolher apenas duas áreas para ofertar.
O que diz o projeto: estipula a oferta a quatro possibilidades de itinerários formativos, que deverão contemplar ao menos três áreas do conhecimento. Exige que cada escola oferte, pelo menos, dois dos quatro percursos. Haverá a definição de parâmetros nacionais para organizar os itinerários formativos.
4- Educação a distância
Como é hoje: conteúdos podem ser dados por meio de atividades on-line e os sistemas de ensino podem firmar convênios com instituições de educação a distância.
O que diz o projeto: proíbe oferta dos componentes curriculares por ensino a distância da formação geral.
Fonte: Pesquisa AT e MEC.
Escolas pedem urgência em definição sobre o Enem
Além da expectativa de uma restruturação no ensino médio, o vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado (Sinepe/ES) e gestor de escola, Eduardo Costa Gomes, destacou a urgência em uma definição sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o próximo ano.
Apesar de o ministro da Educação, Camilo Santana, ter sinalizado em setembro que não haverá mudanças no modelo de prova de 2024, Eduardo Costa enfatizou a necessidade de clareza quanto ao conteúdo cobrado.
“Precisamos com máxima urgência da divulgação da matriz do próximo Enem. O exame não dita currículo, mas ele influencia. Os estudantes que farão o Enem de 2024 estão seguindo desde 2022 o modelo do novo ensino médio. Se a prova for conteudista, como a dos últimos anos, as escolas terão de adaptar o currículo”.
Para ele, a conta não fecha, já que os conteúdos cobrados no atual modelo de Enem são diferentes da nova proposta de ensino médio, que tem 40% da carga horária destinada a itinerários formativos (parte flexível) e 60% para formação geral básica.
“O MEC informou que cobrará somente a formação geral básica, sem cobrança dos itinerários formativos. Mas o conteúdo será o mesmo? Não podemos esperar o ano que vem para que a matriz do Enem seja divulgada. As escolas já se planejam para o próximo ano”.
Até o momento, o MEC ainda não divulgou oficialmente regras para o Enem 2024.
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