Ex-Beatle capixaba na cama após doença rara
Marco Túlio Correa, que imitava o John Lennon em banda cover nos anos 80 foi diagnosticado com doença de Huntington
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Um futuro promissor interrompido por uma doença rara. Essa é a história de Marco Túlio Correa, que nos anos 80 agitou Laranjeiras, na Serra, ao fazer parte de uma banda cover dos Beatles.
Com uma voz potente, tinha o desejo de ser radialista, sonho que foi conquistado tempos depois de se vestir como John Lennon. Túlio ajudou, inclusive, na inauguração de rádios no interior do Estado. Só que seu talento não foi aproveitado por muito tempo.
Em 1999, ele teve a vida virada do avesso ao ser diagnosticado com a rara doença de Huntington. Os sintomas foram evoluindo até ele ficar acamado, há mais de 15 anos.
Hoje, com 59 anos, mora com seu filho Lucas Lagasse Correa, 31, professor de Filosofia, e sua mãe, Eurides Monteiro, 83, vivendo em cuidados paliativos.
Lucas tinha 6 anos quando o pai descobriu a condição. “Na minha infância consciente, ele já estava adoecendo, então eu vi todo o processo da doença. Tenho poucas memórias dele quando criança”.
“Lembro de quando me buscava, lá em Aracruz (onde Lucas morava com a mãe) nos finais de semana, feriados e férias. Mas aí, de repente, lembro que ele não ia mais, e sim a minha avó, porque ele não conseguia andar direito”.
Lucas, por outro lado, já ouviu muitas histórias do ex-Beatle capixaba, que também foi integrante de uma banda chamada Por a Louka. “Cresci escutando que ele era um radialista excelente. Eu não sei o termo correto, mas acredito que ele narrava rodeios, trabalhava muito com a voz”.
“Sobre a banda, era um período que eu não tinha nascido ainda. Temos as fotos aqui em casa, ele sempre gostou muito dos Beatles. A gente até hoje coloca para ele ouvir os discos durante a tarde para relaxar. Percebemos que ele fica muito contente em escutar”, completou, dizendo que sua avó também faz questão de escutar as canções.
Grande amigo de Túlio, o jornalista e músico Murilo Godoy, de 60 anos, coleciona memórias.
“Como banda fake dos Beatles, fizemos quatro ou cinco shows no Centro Comunitário de Laranjeiras e sempre lotava. Era um show fake, mas o pessoal curtia. Túlio tinha uma voz boa, era afinado. Saudade é o que eu mais tenho dessa época”.
Murilo Godoy jornalista e amigo de Marco Túlio
“Saudade é o que eu mais tenho”
A Tribuna Vocês já tiveram uma banda cover dos Beatles. Como era?
Murilo Godoy Em 1981, 1982, tínhamos um projeto em que fazíamos mímicas e nos vestíamos igual aos Beatles. Pegávamos instrumentos e fingíamos que tocávamos no palco, enquanto a equipe de som colocava a música.
Na época, não sabíamos tocar direito, eu tocava violão bem ruim... Mas Túlio cantava, e ele tinha uma voz boa, era afinado.
Fizemos quatro ou cinco shows no Centro Comunitário de Laranjeiras e sempre lotava. Era um show fake, mas o pessoal curtia.
Quem eram os integrantes?
Éramos eu, Túlio, Wellington e o Marcelo Munhão. A gente era da mesma escola, do Aristóbulo Barbosa Leão, em Laranjeiras, só que de classes diferentes, e tínhamos entre 14 e 16 anos.
A gente ia para a casa do Túlio e passava o dia todo lá, ouvindo Beatles, aprendendo a tocar violão por conta própria. Uns três anos da minha vida foram assim. Também gostávamos de Rolling Stones, Pink Floyd, Supertramp.
Que músicas faziam sucesso no show fake?
Uma música que a gente cantava muito bem era “Love Me Do” e “Twist And Shout”. “Help” e “I Wanna Hold Your Hand” também. Era a fase do terninho.
Falando em terninho, com quem vocês conseguiam as roupas e os instrumentos?
Conseguíamos com os amigos e ficava igualzinho. A gente pegava guitarra emprestada com um, baixo emprestado com outro, já ensaiamos com vassoura e a bateria a gente fazia de lata. E ficava legal! Era muito realista para a época.
Você tem saudades?
Saudade é o que eu mais tenho. Cada um seguiu a vida e Túlio foi ser locutor de rádio. A voz dele era muito boa. Muito boa mesmo.
Vocês chegaram a ter músicas próprias?
Sim. Eu e Túlio compomos um monte de músicas naquela época. “Lua” e “Meu Jeep”, por exemplo.
Além do banda cover vocês também criaram outra. Pode me contar sobre ela?
A partir da fake dos Beatles, sentimos a vontade de tocar e fizemos uma outra banda, a Por a Louka, em 83. A gente estava tocando melhor nessa época. Além de mim e Túlio, Stoessel e Luiz Tozatto foram os outros integrantes.
Fizemos uns 10 shows na rua, lá na Avenida Central, em Laranjeiras, e sempre tinha muita gente. A avenida não era movimentada naquele tempo, eram só casas.
Além de Beatles, tocávamos Paralamas, Titãs, Legião Urbana. Fomos a primeira banda de pop rock de Laranjeiras.
A banda durou muito tempo?
Ela foi até 84. Em 85, 86, Túlio se afastou porque foi para São Mateus fazer locução em uma rádio.
Aí montamos outras bandas enquanto ele ficou lá. E depois, nunca mais tocamos juntos. Mas sempre nos víamos umas duas, três vezes por ano.
Quando ele voltou de São Mateus e estava morando na Serra, vimos ele andar e cair. Já era o efeito da doença, lá na década de 90.
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