Espécie de veado é vista na Mata Atlântica do Estado pela primeira vez
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O maior bloco contínuo de Mata Atlântica no Espírito Santo está situado ao Norte do Estado, entre as cidades de Linhares e Sooretama. Foi nesse espaço que pesquisadores detectaram a pela primeira vez a ocorrência de uma espécie de veado que, até então, era conhecida apenas na região amazônica.
A primeira imagem em alta qualidade do veado-amazônica em Mata Atlântica no Espírito Santo foi feita com auxílio de um estúdio fotográfico montado no meio da selva por um grupo de amigos dedicados a registrar a biodiversidade capixaba.
O servidor público, Fabrício Costa, é um dos sete integrantes do coletivo fotográfico Expedicionários. Ele relata que para fazer as imagens o grupo utiliza algumas técnicas. Uma delas é o chamado estúdio de selva, que é montado na mata para flagrar espécies mais difíceis de serem flagradas com a presença dos fotógrafos na floresta.
Com a ajuda de sensores de calor e movimento, o grupo prepara a iluminação e o ângulo da câmera para que ela fotografe automaticamente os animais sem a necessidade de os fotógrafos estarem na mata.
Fabrício explica que o grupo mantém contato com pesquisadores que se dedicam a estudar a vida animal. As imagens foram enviadas para especialistas do projeto de proteção aos animais Ungulados, como antas e veados, o Pró-Tapir para ajudar na identificação das espécies fotografas e que vão compor um livro do coletivo.
“Tivemos contato com projetos que monitoram antas e felinos naquelas matas. Quando nós fornecemos essas imagens ao pessoal do Pró-Tapir foi percebido que não eram veados comuns naquela e mandaram para uma equipe especializada”, explicou ele.
As imagens foram encaminhadas ao biólogo e Doutor em Ecologia Aplicada, Márcio Leite de Oliveira, que é referência no assunto no Nucleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A equipe de pesquisadores informou que um dos animais fotografados é o veado-amazônico ou veado-roxo (Mazama nemorivaga). Além disso, em outra imagem, foi constatado que, aparentemente, seria um veado-mateiro-pequeno (Mazama bororo).
A bióloga, doutora em Biologia Animal e coordenadora do projeto Pró-Tapir, Andressa Gatti, explicou que um artigo científico sobre a presença do veado-amazônico no Espírito Santo foi publicado em fevereiro deste ano por ela e outros pesquisadores.
Até então, segundo ela, as espécies conhecidas no Estado eram o veado-mateiro e o veado-catingueiro. Este é o primeiro registro da ocorrência do veado-amazônico, na Mata Atlântica.
“Em 2011, a gente fez um registro com armadilha fotográfica ainda de filme na Reserva Biológica de Sooretama. Naquela época, quando a gente olhou a imagem não conseguiu identificar o veado em nenhuma das duas espécies que tinham aqui. Mandamos a foto para o José Maurício Barbanti Duarte, que é especialista, que disse que era um veado-amazônico”, explicou ela.
Apesar das evidências fotográficas, ainda faltavam as provas genéticas para ter a comprovação. Assim, anos mais tarde, uma equipe de pesquisadores do Nupecece, liderada pelo Dr. Márcio Leite de Oliveira, esteve na mata, com auxílio de cães farejadores, para coletar fezes desses animais para análises de laboratório que comprovaram mesmo a presença do veado-amazônico no Espírito Santo.
Fabrício comemora o fato do coletivo cumprir papel de ser um parceiro dessas descobertas. “É uma satisfação. A gente não teve o nosso livro publicado ainda, mas a gente se sente muito realizado porque o que a gente descobriu está sendo usado para preservação e fins científicos. Estamos produzindo conhecimento e sensibilidade. Isso por si já é gratificante”, frisou.
Características
Com os registros fotográficos feitos pelo coletivo Expedicionários, a quantidade de espécies de veados pelas matas capixabas pode dobrar, caso ocorra a comprovação da presença do veado-mateiro-pequeno.
O Pró-Tapir explica que o veado-mateiro (Mazama americana) possui ampla distribuição no território brasileiro e é encontrado no Espírito Santo. Essa é a maior espécie entre o gênero e pode chegar a pesar até 40 quilos.
Apesar do peso, é excelente nadador o que é usado por ele como estratégia para fugir dos predadores e também como locomoção pelo habitat.
O veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) também é encontrado em muitos locais do Brasil, entre eles o Espírito Santo. Esse animal possui alta capacidade de adaptação e pode ocupar vários tipos de ambientes, desde florestas densas e contínuas até savanas abertas.
Já o veado-roxo ou veado-amazônico, como o próprio nome sugere é mais comum na região da Amazônia, porém há alguns desses animais que habitam porções de Mata Atlântica no Norte do Estado e também na Bahia.
A possível quarta espécie de veado que pode ter registros no Estado é o veado-mateiro-pequeno. Esse animal tem a menor distribuição no mundo entre o gênero. No Brasil, é mais comum seu aparecimento em florestas de São Paulo e Paraná, mas há distribuição histórica no Espírito Santo. Territorialista e sedentário, ele ocupa pequenas áreas de vida.
Estúdio na selva
Uma das técnicas utilizadas por pesquisadores e pelos fotógrafos dos Expedicionários para registrar a vida animal dentro da mata é a armadilha fotográfica. Os participantes do coletivo apelidaram a ideia de estúdio na selva.
Essa técnica consiste em posicionar a câmera em uma área da mata e, ao redor dela, instalar iluminação e sensores de presença e calor para disparar a câmera. Essa é uma pratica mais comum para registrar animais noturnos e aqueles mais ariscos, que percebem a presença de outras espécies antes mesmo que sejam notados, como é o caso dos veados, explica o integrante do coletivo, Fabrício Costa.
“A gente tem algum conhecimento de programação eletrônica e circuito. Foi algo desenvolvido por nós. Esses sensores existem no mundo, mas têm um custo muito elevado. Geralmente, são comercializados em euro, libra ou dólar. Começamos a pensar e desenvolvemos esse sensor. Levamos a campo e foi um sucesso”, revelou ele.
Sobre a autonomia do estúdio, ele conta que varia de dois meses e dois meses e meio. No entanto, se engana quem acha que é só posicionar a câmera e deixar com que os sensores façam todo o trabalho.
“Tem que estudar o local, estudar a trilhar, ver se tem rastro. Prepara iluminação, ângulo da câmera, prepara o sensor. É um trabalho de estúdio, mas o modelo não lá”, explica ele.
No trabalho de estudar o ambiente e as trilhas por onde os animais possivelmente devem passar para saber onde deixar a câmera, os integrantes do coletivo conta com a ajuda de pesquisadores dos projetos que monitoram a vida dos animais selvagens, como é o caso do Pró-Tapir.
Esses achados são compartilhados com a comunidade científica e possibilitam que espécies novas sejam catalogadas. “Técnicas não evasivas. A gente não precisou capturar o animal para isso e isso é muito bacana”, informa a bióloga, doutora em Biologia Animal e coordenadora do projeto Pró-Tapir, Andressa Gatti.
Livro
As imagens feitas pelo estúdio selvagem montado pelos integrantes dos Expedicionários – não apenas na região de Mata Atlântica em Sooretama e Linhares, mas também em outros pontos do Estado – vão estar no livro “Biodiversidade Capixaba – Uma expedição ao Espírito Santo selvagem”, que está em fase de confecção pelo grupo.
Além das imagens feitas pelo estúdio na selva também há cliques da biodiversidade feitos pelas lentes dos próprios fotógrafos em diversos locais do Estado. Há fotos de onça pintada, antas e outros animais.
O coletivo Expedicionários é formado por Fabrício Costa, Paulo Silva, Vitor Barbosa, Mário Candeias, Rafael Boni, Gustavo Oliveira e Christiano Bongiovani.
Pró-Tapir
O Programa de Monitoramento e Conservação das Antas na Mata Atlântica Capixaba, o Pró-Tapir, foi fundado em 2011 com a missão de promover ações de pesquisa e conservação das populações das antas na Mata Atlântica Capixaba e, além disso, elaborar um plano de conservação para a espécie na região.
No entanto, em 2019, o programa foi ampliado e passou a realizar Monitoramento e Proteção dos Ungulados na Mata Atlântica, incluindo na lista de animais, além das antas, as queixadas, os catetos e os veados. Além disso, o projeto se expandiu para toda a mata atlântica e não só a porção da floresta no Estado.
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