“Dormia duas horas por dia para estudar”, diz gari do ES aprovado em concurso
Com dedicação, o jovem que chegou a vender chup-chup conseguiu conciliar estudo e trabalho para alcançar seu sonho
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De gari a servidor público estadual. Assim se resume a história de Matheus Otoni, de 26 anos, que foi aprovado em um concurso público do Espírito Santo.
O jovem começou a estudar para buscar a carreira pública aos 20 anos e persistiu por cinco anos para tornar o sonho uma realidade.
Aguardando para ser chamado, ele relatou estar ansioso para trocar a vassoura e o carrinho pelo novo cargo no funcionalismo.
Com estratégia audaciosa, ele conta que por meses só dormia duas horas por dia para conseguir estudar e trabalhar. O futuro servidor tem nível médio de escolaridade, participou de um programa social voltado para o ensino da música e, antes de ser gari, chegou a vender chup-chup na praia.
Ele vai trabalhar em presídio, em uma função com salário de R$ 4.717, mais auxílio-alimentação no valor de R$ 600, conforme o edital do processo de seleção.
A Tribuna — Como começou a trabalhar como gari? Foi a oportunidade que surgiu?
Matheus Otoni — Precisava trabalhar, por conta da minha idade (20 anos). Na época, eu morava com minha mãe, e aí tinha aquilo de “eu tenho que trabalhar”. Tinha que ajudar em casa, tinha tudo isso, o psicológico. E a oportunidade que surgiu nessa época foi para trabalhar como gari.
> Você teve outros trabalhos?
Estava participando de um programa (Vale Música) na área de música, quando comecei a trabalhar como gari. E antes já trabalhei vendendo chup-chup na praia.
> Quando decidiu estudar para concursos? Sempre sonhou com a carreira pública?
Conclui o ensino médio no EJA (Educação de Jovens e Adultos). Sempre quis estar nessa área. Eu só não sabia como. Depois descobri que tinha que fazer uma prova, e aí descobri o mundo dos concursos. Com isso, o foco foi só nisso.
> Estão chamando os aprovados já? Está ansioso?
Vão começar a chamar em julho, estão nas etapas finais. (Estou) muito ansioso. Não vejo a hora de largar o carrinho de lixo, trocar a vassoura, por um equipamento do novo trabalho. Estou bem ansioso. De verdade, é um sonho.
> Como foi a rotina de estudos para conseguir essa aprovação?
Quando o edital do concurso saiu, eu já estava estudando no JusCursos (curso preparatório), porém intensifiquei os estudos porque queria muito passar. Passei a dormir duas horas por dia.
Eu chegava do curso às 22h20, estudava até as 2 horas da madrugada e acordava às 04h40 para trabalhar, pois pego cedo no serviço.
No meu almoço também estudava, e gravava as aulas no curso para escutar no fone enquanto trabalhava e assim consegui a aprovação. O edital saiu em agosto e foi assim até a prova. Durante uns 60 dias foi essa rotina.
> E a rotina no cursinho nos estudos para o concurso?
Tive um apoio ferrenho, principalmente do (José) Quirino, que me deu praticamente uma mentoria. Tive auxílio também da coordenadora do próprio curso, a Jullyanna (Jacobsen). Eles não mediram esforços para me ajudar.
> E sobre você. É casado, tem filhos?
Tenho minha namorada, Beatriz, que foi de grande auxílio nessas etapas de estudos. Não tenho filho e moro sozinho atualmente.
Eu tenho muito isso de focar nos estudos. Não que filho atrapalhe, mas os planos mudam e eu tenho um foco. Eu estou muito focado, então também não sinto que estou atrasado em casar, nem ser pai.
Acho que estou indo para o caminho certo para dar uma boa vida, tanto para minha companheira, tanto para meu futuro filho.
> Quais são seus hobbies? O que gosta de fazer nos momentos livres?
Agora que eu estou um pouco mais tranquilo, que não estou mais louco assim, estudando, gosto de correr. Curto muito, corro de manhã ou à noite, na praia. E gosto muito também de ir a igreja.
> Você contou que participou do Vale Música? Gosta da área musical?
Demais, sou apaixonado até hoje, mesmo não seguindo carreira musical. Tocava trompete. Sou fruto do Vale Música e do JusCursos, que é onde eu estudo atualmente e Vale Música foi por onde eu passei.
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