Com café mais caro, comerciantes criam estratégias para atrair os clientes
Por causa do reajuste, quem trabalha com o produto precisa criar estratégias para tentar driblar a alta do preço e manter a clientela
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Há meses, o capixaba tem sentido no bolso o peso de tomar aquela xícara de café pela manhã ou à tarde. Um pacote de 1 kg, a depender da marca, pode ultrapassar R$ 50 em supermercados da Grande Vitória. Não à toa, o café foi um dos grandes vilões da inflação nos últimos 12 meses.
De acordo com pesquisa do Procon Vitória, na comparação anual (entre maio de 2024 e maio de 2025), o café apresentou um aumento de 123,66% no menor preço ofertado, entre nove estabelecimentos localizados em diferentes regiões do município, pesquisados no início do mês.
O gerente do Procon Vitória, Breno Panetto, explicou que, nacionalmente, foi feita uma pesquisa que revelou o aumento do preço do café em mais de 80%, de abril do ano passado a abril deste ano.
“A partir disso, fizemos esse comparativo em relação a Vitória. E, de fato, o café foi o que mais aumentou. E o que chamou a atenção foi esse valor tão alto em relação a um único produto”.
O relatório indica, também, que frutas e hortaliças foram os itens com maior oscilação de preços entre abril e maio de 2025.
A orientação, segundo Breno, é que o consumidor pesquise. “Isso é importante para que ele consiga comprar de maneira mais eficiente, sendo munido de informações. E, por meio do aplicativo do Procon Vitória e do nosso portal, o consumidor consegue acessar essas informações”, destacou.
Com o brasileiro consumindo, em média, cerca de 1.430 xícaras de café por ano, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), fica difícil deixar de lado o amor pelo produto em razão do preço.
E quem trabalha com o café precisa criar estratégias para tentar driblar a alta. Proprietário da cafeteria Ana Bandeira Chocolates, Alexandre Pontual lembra que o cacau sofreu um aumento de preço ainda maior que o café.
“Eu trabalho tanto com chocolate quanto com café especial, que já têm um preço superior ao das commodities (mercadoria primária). O aumento é tão significativo que nem consigo repassá-lo ao meu cliente. Tivemos de enxugar muitos as margens e investir bastante na comunicação com o cliente, explicando o que é o café e o chocolate especial”.
Alexandre conta que utiliza o cacau da própria fazenda, em Linhares, Norte do Estado, enquanto o café é adquirido diretamente do produtor, em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana. “A vantagem é que não pagamos frete”.

Por que preço está maior?
Sendo o Brasil o maior produtor e exportador de café do mundo, por que o preço do produto tem aumentado tanto nos último meses? E quando eles vão diminuir?
O Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli, lembra que os preços estavam menores em 2023 e início de 2024.
“Os produtores operaram com preços muitos baixos. E agora os preços estão mais favoráveis, cobrindo os custos de produção e gerando boa remuneração aos cafeicultores. No curto prazo, não vislumbramos quedas significativas, mas tudo pode mudar”, analisou.
Enio explica que o café é uma commodity global, com preços influenciados pelo cenário mundial. “São várias as causas que fizeram com que o preço do café subisse no mundo, desde 2024. A matéria-prima subiu acima de 100%, tanto o café arábica quanto o conilon, que tem o Espírito Santo como o maior produtor do Brasil”.
Enio ressaltou ainda que o Vietnã, segundo maior produtor de café do mundo, vem enfrentando problemas climáticos, reduzindo a oferta do produto no mundo. “Sempre quando há redução de matéria-prima, os preços tendem a subir. Também tivemos, ano passado, efeitos de conflitos e rotas”.
Outros motivos para a alta incluem, segundo Enio, a melhoria da qualidade do café conilon do Estado. “Foram vários fatores que fizeram com que os preços no Brasil e no mundo subissem. Quando a indústria tem uma matéria-prima mais cara, aos poucos vai repassando esse aumento de custo”.
Saiba Mais
Alta atingiu todos os tipos de café.
Café
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e o segundo maior consumidor do produto.
A população brasileira consumiu cerca de 21,9 milhões de sacas de café durante o ano passado.
Cada brasileiro consome, em média, 1.430 xícaras de café por ano.
Preços
O preço médio dos cafés especiais sofreu um reajuste de 9,8% entre janeiro e dezembro de 2024.
Já a categoria de cafés gourmets registrou um aumento de 16,17% nesse mesmo período.
O preço da categoria de cafés superiores também sofreu reajuste (34,38%). O mesmo aconteceu com os cafés tradicionais e extrafortes, que tiveram uma alta de 39,36% nos preços. Os cafés em cápsula, por sua vez, também registraram aumento nos preços (2,07%).
Nos últimos quatro anos, a matéria-prima teve um reajuste de 224%, e o café no varejo aumentou 110%.
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