Capixabas já recebem cédulas para votar em eleição da Itália
São 20 mil moradores do Estado com cidadania italiana que podem escolher 1 senador e 2 deputados
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As cédulas para votação nas eleições da Itália já estão chegando nas residências dos moradores do Estado que têm cidadania italiana. E os candidatos a uma das três vagas ao parlamento europeu destinadas à América do Sul (1 senador e 2 deputados) continuam de olho no voto dos 20 mil capixabas aptos a votar. Neste sábado (10), a reportagem conversou com os candidatos ao Senado italiano Andrea Matarazzo (PSI) e Luciana Laspro.
Matarazzo foi embaixador do Brasil na Itália (2001-2002), ministro das Comunicações no governo FHC e vereador na cidade de São Paulo. Luciana é advogada e está em seu segundo mandato como conselheira do Comitê dos Italianos no Exterior (Com.it.ES) do Consulado Geral da Itália em São Paulo, tendo sido a mulher mais votada no Brasil, no pleito do ano passado.
O candidato não veio ao Estado em campanha, missão que ficou a cargo do senador Fábio Porta (PD), que vai disputar a Câmara italiana, com quem faz dobradinha. Porta esteve no Espírito Santo no último dia 25 de agosto e se reuniu com lideranças.
Luciana Laspro chegou a Vitória com o candidato a deputado Luis Molossi na sexta-feira (9) e ficam até domingo (11). Até este sábado, visitaram sete cidades: Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins, Araguaia (Marechal Floriano), Ibiraçu, Marilândia, Colatina e Santa Teresa. Ambos são do Movimento Associativo Italiani all’Estero (Maie).
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Andrea Matarazzo afirmou que conhece o Espírito Santo e veio muitas vezes ao Estado no final dos anos 1990, quando era presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo). “Fiz algumas reuniões do setor energético e conheço também pela questão da italianidade que me foi apresentada por dois grandes amigos, o Gerson Camata (1941-2018) e a Rita Camata”, afirmou.
O candidato destacou a importância de valorizar a comunidade italiana que vive no exterior dentro da própria Itália. “Primeiro, nenhum dos nossos avós veio conhecer Copacabana (RJ). Vieram porque precisavam e a Itália pode ter alguma obrigação nisso. Segundo, foram pessoas muito valorozas que saíram de lá para fazer ‘la Mèrica’. E terceiro que a Itália é porta de entrada para a União Europeia, está envelhecida e o Brasil tem talentos jovens”.

Matarazzo propõe a eliminação de pequenos trâmites burocráticos tanto no trabalho, quanto nos estudos para ampliar oportunidades para os jovens, de forma que os currículos sejam reconhecidos aqui e na Itália.
Outro projeto do candidato é a difusão do ensino da língua italiana. “O governo italiano não manda mais recursos. O dinheiro que existe para ensinar a língua italiana nas escolas pode ser melhor aplicado se este ensino for realizado de forma online. Pode alcançar um maior número de pessoas, com pequenas mudanças na legislação”.
Ele também defende o fim da bitributação das aposentadorias e o reconhecimento da cidadania italiana pela via materna – atualmente, a mulher só “transfere” a cidadania a filhos nascidos após 1948.
Em relação aos serviços consulares, Andrea Matarazzo propõe ainda a criação de mais Consulados. “Precisa criar mais Consulados. Tem a demanda pela cidadania italiana. À medida que o cidadão tem esse direito, ele busca o passaporte. Então, agrega um serviço, sem agregar estrutura aos consulados, atualmente”.
Sobre como pretende atuar, caso seja eleito, o candidato afirmou que a experiência é um ponto fundamental. “Conheço como funciona e sei falar de igual para igual. Um senador tem que ficar na Itália e conviver com os cidadãos daqui. Experiência é fundamental para ser levado a sério. Estou apostando muito que meu nome, junto com o Porta, unifique a comunidade”, declarou.
Destacando que é a única mulher candidata ao Senado italiano pela América do Sul e a primeira da lista do seu movimento, Luciana Laspro, que nas eleições de 2018 ficou como suplente do senador Ricardo Merlo, fez questão de frisar que o Maie não pertence a argentinos.
“Muita gente diz que saí candidata pela Argentina. O Maie é um movimento no exterior, fazemos política para a comunidade fora da Itália. Não depende de partidos políticos. Um partido político grande fala nos problemas dele. Nós vamos focar nos problemas da comunidade. O partido já mostrou muitas realizações”, afirmou a candidata.
Luciana Laspro propõe a fiscalização das leis já existentes e a desburocratização. No foco, a melhoria dos serviços consulares. “Para que o governo italiano mande mais funcionários para os consulados e embaixadas para reduzir filas. Ter uma Ouvidoria nos Consulados. Não é justo esperar 10 anos pela cidadania”.
Outra proposta é em relação aos descendentes de trentinos e ao reconhecimento da cidadania por linha materna. “Vamos lutar pela prorrogação por tempo indeterminado, da Lei 379/2000, em relação à cidadania dos trentinos e para conceder aos filhos de mãe italiana, nascidos antes de 1948 o direito do reconhecimento espontâneo de suas cidadanias italianas, pois atualmente é grande a judicialização”.
A candidata ainda propõe facilitar o intercâmbio estudantil bilateral entre países da América do sul e Itália – jovens preparados para mercado de trabalho levando conhecimento adquirido na Itália para o Brasil (aprendizado de línguas, gastronomia, tecnologia, ciências, design, arquitetura, engenharia, medicina, restauração, artes, entre outros).
A migração de retorno fomentando a ida de jovens ítalo-descendentes para a movimentação da economia italiana, “pois há falta mão de obra jovem e poderá ajudar os descendentes com a experiência do primeiro emprego com vivência da língua em busca de proficiência”.
“Quero agradecer à comunidade ítalo-capixaba. O Espírito Santo é um lugar maravilhoso. Nós percebemos a alegria das pessoas de falar das festas italianas, em cada cidade. Gostaria de pedir o apoio, que todos votassem, não deixem os envelopes fechados, esquecidos”, frisou a candidata.

O que fazer se a cédula não chegar?
Para terem os votos validados, os envelopes dos moradores do Estado com cidadania italiana devem chegar ao Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro até o próximo dia 22, de acordo com o conselheiro do Com.it.ES ES/RJ, Cilmar Franceschetto. Ele destaca, porém, que devido ao prazo curto para votação os eleitores devem ficar atentos.
“Quem não receber o envelope com as cédulas até esta segunda-feira (12), pode enviar um e-mail para [email protected] com nome completo, data de nascimento e endereço completo, solicitando o envio do envelope novamente”, destacou.
O conselheiro observou que é importante prestar atenção nas regras para a votação descritas no material que vem no envelope junto com as cédulas. “Assim que votar, o eleitor deve devolver o envelope ao Consulado imediatamente, pois o envelope vem por Sedex, mas não retorna por Sedex”.
O envio para o Consulado é gratuito e o voto nas eleições italianas não é obrigatório. O secretário do Com.it.ES ES/RJ Thiago Roldi destacou a importância da participação da comunidade ítalo-capixaba nas eleições.
“Por mais que na Itália o voto é facultativo, ter esse zelo pelo voto. A importância que o voto tem para mudar a realidade das comunidades, principalmente, aqui no Espírito Santo não é diferente. Tivemos uma melhora significativa na estrutura devido a boa política e a luta por mais de 30 anos das associações. Então, é um conjunto de fatores”, disse o secretário.
Thiago Roldi ainda falou sobre as conquistas da comunidade nas últimas décadas e das necessidades atuais. “Hoje temos um escritório consular, a luta é para que se amplie, que tenhamos uma agência consular de carreira, um cônsul, um Com.it.ES, totalmente independente do Rio de Janeiro, podemos ter uma Câmara de Comércio, podemos trabalhar aqui, fazer negócios com os produtos e serviços da Itália. Enfim, então, convocamos toda a comunidade ítalo-capixaba para realmente exercer a sua cidadania e votar”.
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