Por que cada vez mais gente mora sozinha no Brasil? Em quais Estados isso é mais comum?
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Cada vez mais pessoas vivem sozinhas no Brasil, como mostra a nova edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira, 22.
Conforme os novos dados, no ano passado, 18,6% das unidades domésticas do País eram unipessoais, ou seja, compostas por apenas um morador. Isso representa aumento de 6,4 pontos porcentuais em relação a 2012, quando representavam 12,2% do total de domicílios.
É o caso do artista visual Antônio Soares, de 42 anos, que vive em um imóvel de 60 m² alugado na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. “Senti falta de mais privacidade e independência em relação aos espaços”, conta Tony, que já dividiu apartamento com os amigos após sair da casa dos pais.
Para ele, a experiência o ensinou a respeitar o espaço do outro e a cuidar das finanças. Mas, com o passar do tempo, ele queria mais liberdade. “A solitude nos faz bem.”

O Rio de Janeiro é a unidade da federação com a maior porcentagem de pessoas vivendo sozinhas: 22%. Em São Paulo, a porcentagem é de 18,4%. A UF com a menor proporção de pessoas vivendo só é o Maranhão (13,5%).
O aumento da quantidade de lares solo tem impactos até no mercado imobiliário, o que é evidenciado pela aposta em cada vez mais microapartamentos, também impulsionados por regras municipais de construção, como ocorreu em São Paulo.
Segundo os analistas do IBGE, o movimento está relacionado em grande parte ao envelhecimento da população, mas também a mudanças comportamentais, que levam cada vez mais mulheres a optarem por viver só.
Na análise por sexo, os números revelam que, em 2024 as mulheres eram 44,9% das pessoas que moravam sozinhas, enquanto homens correspondiam a 55,1%. Há algumas diferenças regionais significativas. No Sul, as mulheres estavam presentes em praticamente a metade dos arranjos unipessoais (48,2%), ao passo que no Norte essa porcentagem era de 35,5%.
O trabalho mostrou que a maior parcela da população que mora sozinha se situa na faixa etária dos 30 aos 59 anos, seguida dos idosos, com 60 anos ou mais, que representam 40%. No entanto, há variações importantes entre homens e mulheres: 57,2% dos homens em domicílios unipessoais tinham de 30 a 59 anos; entre as mulheres, a maioria se situava na faixa dos 60 anos ou mais de idade (55,5%).
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“Em boa parte dos domicílios unipessoais vivem pessoas com mais de 60 anos. Nesta fase, os filhos já saíram de casa e muitos ficaram viúvos”, analisa o pesquisador do IBGE William Kratochwill, que apresentou a pesquisa. “Não por acaso, nos Estados onde vivem mais idosos, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, essa porcentagem é maior.”
Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em julho, aponta que a solidão foi responsável por cerca de 871 mil mortes anuais entre 2014 a 2019. Estudos sobre o tema ganharam ainda mais força após a pandemia, que impôs longos períodos de isolamento.
O Japão criou um Ministério da Solidão e o Reino Unido, uma secretaria para combater o problema. Em 2023, os Estados Unidos lançaram um relatório chamado Our Epidemic of Loneliness and Isolation (Nossa epidemia de solidão e isolamento, em tradução literal).
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