PF prende 19 por tráfico de 43 mil armas destinadas ao PCC e ao CV
Facções criminosas movimentaram em torno de R$ 1,2 bilhão com o esquema
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A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira, 5, a megaoperação Dakovo, contra um esquema "complexo e multimilionário" que teria facções criminosas do Brasil - Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) - como destino final em uma rota de tráfico internacional que, em três anos, trouxe ilegalmente ao País cerca de 43 mil armas e movimentou em torno de R$ 1,2 bilhão. Ontem, os agentes prenderam 19 alvos da ação.
No centro das investigações está uma empresa com sede em Assunção, no Paraguai, que importou pistolas, fuzis e munições de fabricantes de Croácia, Turquia, República Checa e Eslovênia. Quando chegavam ao Paraguai, as armas tinham suas numerações raspadas e eram revendidas a intermediários na fronteira e então repassadas ao PCC e ao CV.
Ontem, os agentes foram às ruas para cumprir 31 mandados de prisão, 25 deles de caráter preventivo - com prazo indeterminado. Desses mandados, oito se referiam a suspeitos no Brasil; 15 no Paraguai, e dois nos Estados Unidos. As ordens contra suspeitos em solo americano, porém, não puderam ser cumpridas, pois, segundo a PF, "não houve tempo hábil para expedição dos mandados de prisão, de acordo com a lei daquele país".
Já os outros mandados, de prisão temporária - válidos para 5 dias e renováveis por mais 5 -, foram expedidos para cumprimento no Brasil (1) e no Paraguai (5). Além disso, a PF pediu a inclusão dos nomes de 21 investigados na lista de difusão vermelha da Interpol.
A ação foi deflagrada a mando da 2.ª Vara Federal de Salvador, que ainda expediu 54 mandados de busca e apreensão. Desses, 38 foram cumpridos, 17 no Brasil e 21 no Paraguai.
Dólares e armas
Os agentes apreenderam dólares em espécie, além de 2.325 armas, entre fuzis e pistolas, que se encontravam na sede da empresa em Assunção. Os investigadores também identificaram o local usado para a raspagem das armas, procedimento que visa a dificultar seu rastreamento.
No Brasil, as diligências foram cumpridas em Rio (RJ), São Paulo, Sorocaba, Praia Grande, São Bernardo do Campo (SP), Ponta Grossa, Foz do Iguaçu (PR), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG).
Além disso, a Justiça da Bahia determinou bloqueio de R$ 66 milhões em bens dos investigados no Brasil, e encaminhou ao Paraguai pedido de cooperação jurídica internacional para confisco de valores naquele país.
As investigações tiveram início em Vitória da Conquista, na Bahia, em 2020, quando foram presos em flagrante dois homens com 23 pistolas de origem croata e dois fuzis com indícios de adulteração, além de munições e carregadores.
Segundo a PF, em três anos de operação da quadrilha, foram apreendidas 659 armas em território brasileiro, em 67 operações em dez Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio, Minas, Espírito Santo, Bahia e Ceará.
'Calibres poderosos'
Em meio às investigações, a PF interceptou negociações diretas entre suspeitos e líderes do PCC e do CV. "Tem um diálogo (interceptado) interessante. O fornecedor oferece calibre 380. O comprador brasileiro fala: 'Não, aqui no Brasil isso é pouco. Precisamos de calibres mais poderosos para o enfrentamento'", relatou o delegado federal Flávio Márcio Albergaria Silva, superintendente regional da PF na Bahia. As negociatas se davam entre os líderes das facções e intermediários baseados na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Os intermediários que atuavam no esquema levavam as encomendas do PCC e do CV até o principal alvo da operação, o argentino Hernan Dirísio, dono da empresa em Assunção. Dirísio é alvo de um mandado de prisão preventiva com fins de extradição. Suspeito de coordenar 30 operações de tráfico internacional de armas, ele está foragido. Ontem, era procurado no Paraguai.
O inquérito indica que Dirísio fazia as tratativas ciente de que as armas eram destinadas ao crime organizado. A investigação aponta dois eixos financeiros ligados à organização: um usado pelas facções para pagar armas ilegais sob encomenda e outro que envolvia repasse de valores aos fabricantes, feito pela empresa importadora de Dirísio.
Os investigadores narram que a empresa usava um sistema de lavagem de dinheiro centralizado em Miami. O dinheiro era transferido a empresas de fachada nos EUA e depois outra companhia, fictícia, fazia os repasses aos fabricantes na Europa. A PF ressaltou que a empresa de Dirísio importa armas há mais de uma década. Inicialmente, seus fornecedores ficavam baseados nos EUA. Porém, os fabricantes americanos suspenderam as vendas após identificarem que a empresa do argentino desviava os armamentos para o crime organizado no Brasil.
Em razão do bloqueio, Dirísio recorreu a fornecedores na Europa, a começar por fabricantes da Croácia. A PF diz que, após a quadrilha entrar em sua mira, os fornecedores croatas também suspenderam as vendas. O recuo dos croatas fez a organização buscar armas em outros mercados europeus, em Turquia, República Checa e Eslovênia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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