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Brasil

Pacientes perdem globo ocular após cirurgias em mutirão em clínica no PA

Cerca de 40 pessoas realizaram cirurgias de catarata na clínica em 1º de julho deste ano


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A Polícia Civil e o Ministério Público do Pará investigam o caso de ao menos 20 pacientes que sofreram infecções bacterianas após realizarem procedimentos cirúrgicos em uma clínica privada de oftalmologia de Belém, que atua em convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde). Todas as intervenções teriam sido feitas no mesmo dia.

Cerca de 40 pessoas realizaram cirurgias de catarata na clínica em 1º de julho de 2024. Desse total, pelo menos 22 pacientes apresentaram problemas no pós-cirúrgico e algumas dessas pessoas tiveram que retirar o globo ocular.

O advogado que representa 11 pacientes afetados pelos procedimentos alega que cinco deles precisaram retirar o globo ocular. Em entrevista à Rede Liberal, afiliada da TV Globo no estado, Cássio Souza informou que, inicialmente, a clínica tentou "culpar os pacientes", sob a alegação de que "eles não teriam tomado os cuidados necessários no pós-operatório". Entretanto, quando mais pessoas relataram problemas, a clínica teria tentado fazer acordos com os clientes, que não aceitaram.

"Pelo número grande de pacientes infectados a gente vê que é um padrão de negligência. A clínica começou a fazer propostas de auxílio, de reparação. Fez proposta de R$ 35 mil, parcelado em dez vezes, só que muitos pacientes acham que esse valor não vai cobrir a amputação de um olho", afirmou Souza.

Advogado diz que o grupo de pacientes que ele representa pede indenização por danos morais, materiais e estéticos. "São 11 pacientes que estamos acompanhando. Esses pacientes confiavam [na clínica] e vieram com o principal objetivo de ter a recuperação das vistas, mas, pelo contrário, tiveram essa infecção. Alguns tiveram que amputar os olhos. São pessoas idosas que tinham vida independente e agora se tornaram dependentes de outras pessoas".

PACIENTES RELATAM TRANSTORNOS

Duas mulheres que realizaram procedimentos na clínica alegam que a saúde de seus olhos piorou. "Passei pela cirurgia, fiz limpeza duas vezes e não deu certo. Uma dor intensa, que mesmo tomando remédio não passava. Fiz transplante de córnea, que também não deu certo por conta da bactéria e tive que fazer a retirada do olho", declarou Albanise Soares, 65, à Rede Liberal.

Outra paciente, que não tive a identidade divulgada, afirma que sua vida virou "um pesadelo". "Estava com esperança muito grande de enxergar e de repente minha vida mudou completamente. Eu pensava que iria mudar para melhor, mas [mudou] para pior. Eu não saio de casa desde que operei, não saio para canto nenhum. Fico completamente isolada, porque tenho dificuldade para enxergar. É bem difícil, é um pesadelo", contou ela à afiliada da Globo.

O QUE DIZ A SECRETARIA DE SAÚDE

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém informou que as cirurgias realizadas na clínica "não faziam parte de um mutirão". Conforme a pasta, foram realizados dois dias de procedimentos: o primeiro, em 12 de junho, com 41 pacientes, "dos quais dois tiveram intercorrências".

No caso dos pacientes atendidos em 1º de julho, "foram realizadas 40 cirurgias de catarata, e 22 pacientes apresentaram intercorrências", diz a Secretaria.

Secretaria ressaltou que os serviços ofertados em convênio com a clínica serão preventivamente suspensos. Ainda, a pasta destacou que funcionários da Vigilância Sanitária estiveram no local para realizar inspeção e, em um primeiro momento, não encontraram irregularidades.

POLÍCIA INVESTIGA EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA

Polícia Civil do Pará informou que o caso é investigado pela delegacia de Icoaraci, distrito de Belém onde a clínica fica localizada. De acordo com o órgão, é apurada a suposta prática de exercício irregular da medicina e de venda de casada de procedimentos. Até o momento, ninguém foi preso. A PCPA também não informou se as vítimas e os responsáveis pela clínica, bem como os profissionais que realizaram os procedimentos, já foram ouvidos.

Conselho Regional de Medicina do Pará também investiga o caso. Segundo o órgão, a clínica está regularizada para funcionamento, mas destacou que uma inspeção no local feita na quarta-feira (16) apontou para "situações preocupantes", como a presença de uma máquina de lavar dentro do centro cirúrgico e formol envolto em gases jogados no chão. Relatório do Conselho sobre a inspeção deverá ser entregue às autoridades para auxiliar na investigação.

Clínica nega irregularidades e afirma que todos os procedimentos foram realizados "a partir de prévias consultas médicas com todos os pacientes". A clínica também afirmou colaborar com as investigações e que tem prestado "todo o suporte necessário aos pacientes e familiares, inclusive em relação a pacientes com ações judiciais em curso".

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