Fuga, disparos e criança ferida: o que se sabe sobre a ação da PM em Paraisópolis?
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Uma criança de 7 anos ficou ferida em ação da Polícia Militar realizada na manhã desta quarta-feira, 17, em Paraisópolis, zona sul de São Paulo. Conforme informações da corporação, Kauã Veríssimo Félix sofreu uma perfuração na testa enquanto tentava se proteger de uma troca de tiros - ele e a mãe teriam se agachado atrás de um carro estacionado na rua.
A PM disse na noite desta quarta ter verificado na câmera dos agentes que a criança não foi atingida pelos policiais, mas as imagens não foram divulgadas até o momento.
Kauã foi prontamente socorrido para um centro médico em Paraisópolis e posteriormente encaminhado para o Hospital do Campo Limpo, bairro próximo. Ainda não se sabe o que acarretou no ferimento - se um disparo de raspão ou um estilhaço, por exemplo -, mas o quadro de saúde do menino é considerado estável, sem necessidade de cirurgia.
O que os PMs relataram no boletim de ocorrência?
No boletim de ocorrência, obtido pelo Estadão, um dos policiais envolvidos na ação relata que ele e mais dois agentes realizavam uma ação de patrulhamento em uma viatura na Viela Passarinho (Rua Melchior Giola, 170) quando dois suspeitos começaram a fugir em direção à comunidade da Grota.
Segundo o boletim, ao sair da viatura, os policiais teriam avistado um terceiro indivíduo, que teria realizado cerca de dez disparos contra eles. Em resposta, dois dos policiais efetuaram disparos de fuzil e um terceiro, de uma pistola .40. O confronto se deu por volta de 08h20, ainda segundo o boletim.
De acordo com o registro, nenhum policial foi atingido durante o confronto, assim como o indivíduo que teria trocado tiros com os agentes durante a ação. Os três suspeitos fugiram rapidamente do local e ainda não foram identificados, segundo a Polícia Militar. As buscas por eles prosseguem.
Em que momento a criança foi ferida?
Também segundo informações do boletim de ocorrência, Kauá teria aparecido correndo logo após a ação, com ferimentos na cabeça. Ele, então, foi socorrido por uma viatura para o AMA Paraisópolis e, depois, encaminhado para o pronto socorro do Hospital do Campo Limpo.
No boletim, os policiais relatam que, no hospital do Campo Limpo, tomaram conhecimento que o ferimento apresentado na criança é superficial e pode ter sido em decorrência dos estilhaços ou de uma queda. Ao mesmo tempo, policiais reconhecem que a criança apresentou sangramento expressivo.
Kauã foi atingido por disparos dos policiais?
Em coletiva de imprensa realizada na noite desta quarta, a Polícia Militar afirmou que Kauã não foi atingido por policiais. Segundo a corporação, a avaliação foi possibilitada pela análise das câmeras corporais dos três agentes envolvidos na ocorrência - as gravações ainda não foram divulgadas. Segundo a PM, todos eles estavam usando o equipamento no momento da ação.
"De acordo com a análise das câmeras de segurança dos policiais nós podemos assegurar, já neste primeiro momento, que a criança não foi ferida por disparo de arma de fogo proveniente de arma de policial militar", disse o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM.
Segundo ele, embora essa hipótese tenha sido descartada pela PM, ainda não se sabe o que levou ao ferimento da criança. "Pode ter sido um disparo dos criminosos, um pedaço de reboco, um estilhaço ou até mesmo um ferimento provocado por uma queda", afirmou.
Qual é o estado de saúde da criança?
A tomografia realizada no menino, disse Massera, não apontou lesão "perfurocontundente", o que poderia ter causado danos maiores à criança. Ele não deve precisar passar por procedimento cirúrgico. "Foi um ferimento na testa, aparentemente um corte, mas que está bastante inchado ainda, ele ainda não consegue abrir um dos olhos."
Como a PM avalia a ação dos agentes?
A Polícia Militar afirma que, ainda com a análise de que o ferimento não se deu a partir de um disparo de policial, a ação não é avaliada como positiva. "Sempre que há alguém ferido em uma ocorrência como essa nós classificamos como uma ocorrência ruim", disse Massera. Segundo ele, há um Inquérito Policial Militar em aberto, com prazo de conclusão de 30 dias. "Lamentamos muito esse episódio."
Ao mesmo tempo, a corporação afirma que as câmeras indicam que os agentes não realizaram disparos em um primeiro momento e que eles só teriam passado a agir relativamente distantes da mãe e a criança atingida, que se escondiam próximas a um carro.
Esse é outro dos elementos que, na visão da polícia, endossa o entendimento de que ferimento não se deu por conta de disparos de policiais, uma vez que eles já estariam de costas para a criança.
"Os policiais desembarcaram, atuaram de forma técnica e efetuaram os disparos somente quando viram que havia condições para revidar esses disparos. Não efetuaram os disparos a esmo", disse o comandante Marco Antônio Pimentel, chefe de Policiamento de Área Metropolitana Cinco (CPA/M-5), onde os policiais envolvidos estão alocados.
PMs alteraram cena do confronto?
Após a ocorrência, repercutiu um vídeo em que policiais andam pela rua em que o confronto ocorreu e parecem alterar a disposição de objetos no chão. "Imagens recebidas por esta corregedoria mostram policiais em ações que viriam a obstruir o trabalho da perícia no local", aponta nota assinada por Claudio Silva, ouvidor da Polícia do Estado.
"Abrimos, então, um procedimento de ouvidoria, oficiando a Policia Civil, solicitando detalhes do que foi instaurado para apuração da ocorrência, assim como laudos periciais e imagens do entorno e à Corregedoria da PM, solicitando imagens das COP's e o afastamento dos policiais envolvidos", diz outro trecho da nota.
Na avaliação da Polícia Militar, no entanto, os agentes não deixaram de preservar o local. Segundo Massera, o vídeo foi analisada pelo Polícia Militar, com complementação de imagens coletadas a partir das câmeras corporais dos agentes. "Ficou claro, nessa análise, que os policiais estão sinalizando onde o projétil foi encontrado para facilitar que foi feito depois pela Polícia Técnico-Científica."
Mais cedo, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que as circunstâncias dos fatos estão sendo apuradas para investigar a origem do ferimento da criança. O boletim de ocorrência está registrado no 89º Distrito Policial, que solicitou perícia ao local e instaurou inquérito para investigar o caso. Os suspeitos não foram identificados até o momento.
Como a comunidade de Paraisópolis reagiu ao caso?
O líder comunitário Gilson Rodrigues disse que uma manifestação, nomeada "Ato pela paz", será realizada por volta das 17h desta quinta-feira, 18, em frente da União dos Moradores de Paraisópolis. A orientação é que todos usem branco.
"Na região onde aconteceu o tiroteio, circulam diariamente cerca de 7 mil crianças a caminho das escolas, fora trabalhadores, pacientes em postos de saúde, dentre outras pessoas que circulam pela comunidade", diz texto que convoca moradores.
"Temos que dar um basta nesta situação. Somos tratados como violentos e marginais, quando, na verdade, somos marginalizados e violentados pela falta de políticas públicas, que nos são negadas após cada eleição", acrescenta o texto.
Os policiais foram afastados?
Os policiais envolvidos não foram afastados. "Não há motivos, de acordo com esta análise, até este momento, nenhum motivo para o afastamento dos policiais que se envolveram diretamente com a ocorrência, no confronto, e nem em relação à suspeita de prejudicarem, de fraudarem o local de crime", disse o porta-voz da PM.
Ele reiterou que a possibilidade de que os policiais teriam coletado estojos está descartada pela PM. Segundo a corporação, a perícia apreendeu quatro estojos de fuzil, sendo um projétil deformado, sete estojos de calibre .40 e nove de calibre 9 milímetros (apontadas como as munições dos suspeitos), que seriam quantidades compatíveis com o que foi relatado do confronto.
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