X

Olá! Você atingiu o número máximo de leituras de nossas matérias especiais.

Para ganhar 90 dias de acesso gratuito para ler nosso conteúdo premium, basta preencher os campos abaixo.

Já possui conta?

Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Brasil

Filhotes deformados: o legado invisível do pior desastre ambiental do Nordeste

Após derramento de petróleo bruto, cavalos-marinhos estudados em Pernambuco foram diagnosticados com malformações e redução de tamanho


Ouvir

Escute essa reportagem

Imagem ilustrativa da imagem Filhotes deformados: o legado invisível do pior desastre ambiental do Nordeste
Figura 3-Prole da espécie Hippocampus reidi oriundos da Ilha de Cocaia: 1- indivíduo normal; 2 a 7: principais malformações: escoliose e lordose severa fazendo com que a cauda se dobre para trás e para cima; olhos em roseta; edema ocular (inchaço); focinho deformado; edema hiomandibular (inchaço na área da brânquias e boca); siameses unidos pelo tronco (4). |  Foto: Hippocampus/Divulgação

Quem acredita que as consequências do derramamento de petróleo cru na costa nordestina, ocorrido em 2019, já foram superadas pelo homem e pela natureza, está enganado. Na Ilha de Cocaia, localizada dentro do Porto de Suape, no litoral Sul de Pernambuco, os filhotes dos cavalos-marinhos foram diagnosticados com malformações e redução de tamanho. Começaram a nascer anões.

Até hoje, não se sabe quem provocou aquele desastre ambiental, considerado o pior do Nordeste. Mas, em 21 anos de estudos realizados em Pernambuco com cavalos-marinhos - animais extremamente sensíveis às mudanças ambientais - nunca houve situação semelhante.  

Em pesquisa realizada em laboratório pelo Instituto Hippocampus, foi possível observar a diferença entre um cavalo-marinho “normal” e seus descendentes. Eles apresentaram escoliose e lordose severa, fazendo com que a cauda se dobre para trás e para cima. Os olhos apareceram roseta, com edema ocular (inchaço) e o focinho deformado.

EXPERIÊNCIA COM O MACHO GRÁVIDO

Na natureza, o cavalo-marinho tem um sistema reprodutivo único: é o macho quem engravida e dá à luz os filhotes. Uma das atividades rotineiras no estudo da biologia e no monitoramento destas populações é a estimativa da fertilidade do macho.

Para isso, pesquisadores do Instituto Hippocampus coletaram o macho grávido e o mantiveram em laboratório até o nascimento da prole, que foi contada antes de os animais serem devolvidos ao local de origem. O processo foi repetido diversas vezes para calcular uma média por gravidez da espécie naquela área.

“Foi assim que observamos o problema das malformações na Ilha de Cocaia. Comparamos com a população do Rio Massangana, onde não foram registradas essas anomalias. Ambos os pontos estão dentro da área do Porto de Suape”, afirmou a bióloga e PhD em cavalos-marinhos, Rosana Beatriz Silveira, presidente fundadora do Instituto Hippocampus.

A ANATOMIA DE UM CRIME

Imagem ilustrativa da imagem Filhotes deformados: o legado invisível do pior desastre ambiental do Nordeste
Os anões que eventualmente fazem parte da ninhada estão em número aumentado |  Foto: Hippocampus/Divulgação

A anatomia do crime é de arrepiar. O derramamento de petróleo que atingiu Pernambuco há seis anos, cerca de 1.500 toneladas, foi quase um terço do total despejado em toda a costa brasileira.

A quantidade seria equivalente a aproximadamente 43 caminhões-tanque com petróleo cru e com o seguinte detalhe: o estado representa apenas 6% da costa total impactada.

Já existem estudos de como o petróleo bruto impactou as algas marinhas, os pequenos animaizinhos invertebrados, bem como as poliquetas (Branchiosyllis), entre outros. Agora, há comprovações do impacto nos cavalos-marinhos.

“Diante deste resultado, recomendamos um Programa de Recuperação desta população que se encontra criticamente ameaçada. É um protocolo multidisciplinar que envolve a análise da qualidade da água e sedimento locais, além dos cavalos-marinhos, considerando uma abordagem genética das populações. Se o sedimento local persistir na contaminação, um bom candidato para receber estes cavalos-marinhos seria o rio Massangana”, explicou Rosana.

O LOCAL ANALISADO

Imagem ilustrativa da imagem Filhotes deformados: o legado invisível do pior desastre ambiental do Nordeste
Ilha de Cocaia e Rio Massangana: locais estudados |  Foto: Hippocampus/Divulgação

Indagada sobre como é possível relacionar à deformidade dos filhotes como o derramamento de petróleo há seis anos, Rosana detalhou as evidências.

“Primeiro, os estados de Pernambuco e Alagoas foram os mais afetados pelo derramamento de petróleo. Segundo, a Ilha de Cocaia sofreu um impacto severo com a chegada das manchas. Terceiro, houve uma variação na taxa de malformações e na gravidade dos danos às proles na Ilha de Cocaia. Em quarto lugar, não foram registradas proles malformadas no Rio Massangana. Além disso, em 21 anos de estudos em Pernambuco, nunca havíamos observado uma situação semelhante.

De acordo com a bióloga, os filhotes malformados foram observados nos anos 2021 e 2022. E os dados foram sendo trabalhados desde então, inclusive para publicação em revista científica (o que já aconteceu).

Imagem ilustrativa da imagem Filhotes deformados: o legado invisível do pior desastre ambiental do Nordeste
Imagem registrada em 2019, parte do território tradicional do Quilombo Mercês, localizado em Ipojuca, município do litoral Sul de Pernambuco, foi tomado por petróleo cru |  Foto: Brenda Alcântara/Agência Pública

Ao ser questionada se os impactos persistem seis anos depois (até 2025), Rosana observou:

"Eu não posso afirmar isso, categoricamente, pelo fato de não ter mais voltado no campo. Mas, como eu acredito que a população não consiga se recuperar sozinha, uma vez que nada foi feito para resgatar essa população, acredito que o impacto persiste sim. Mas, para a gente ter 100% de certeza, só mesmo indo a campo".

A bióloga frisou que estudos científicos apontam que o petróleo cru pode permanecer no ambiente por muitos anos quando infiltrado em sedimentos finos, como os encontrados nos manguezais. Nessas áreas, onde o solo é composto por lama e argila, o óleo se entranha profundamente, dificultando sua remoção e prolongando os impactos ambientais.

Rosana contou, no entanto, que a pesquisa parou por dificuldades financeiras. “Precisamos de apoio para que o Projeto Hippocampus continue seu trabalho de conservação. Necessitamos de novo local para transferirmos nossos laboratórios, pois está sendo solicitada por Suape a desocupação do espaço que estava cedido ao Projeto desde 2020. Estamos procurando por novos parceiros”, declarou.

AJUDA

Empresas ou cidadãos que quiserem apoiar o Projeto podem contatar WhatsApp 81 987912677 . Doações pelo pix do Instituto Hippocampus: 04.534.382/0001-94.

SAIBA MAIS

Os cavalos-marinhos vivem em recifes de coral, estuários e manguezais, que são áreas de alta biodiversidade. 

Por serem extremamente sensíveis às mudanças ambientais, como poluição, alterações na temperatura da água e destruição de habitats, a presença (ou ausência) dos cavalos-marinhos pode indicar a saúde dos ecossistemas costeiros.

A preservação dos cavalos-marinhos ajuda a proteger todo o ecossistema onde vivem.

A ameaça a essas espécies, como o impacto do derramamento de petróleo, pode desequilibrar a cadeia alimentar e comprometer ecossistemas inteiros. Por isso, a conservação dos cavalos-marinhos é essencial para manter a saúde dos oceanos.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Leia os termos de uso

SUGERIMOS PARA VOCÊ: