Com milhares fora de casa e Guaíba em alta, RS planeja manter abrigos por meses
Capital gaúcha quer construir uma megaestrutura provisória para abrigar vítimas das enchentes
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Em meio à alta do lago Guaíba, que subiu quase meio metro nesta terça-feira (14), o Rio Grande do Sul começa a planejar a reconstrução. Para isso, o governo estadual e a prefeitura de Porto Alegre debatem o que fazer com as mais de 600 mil pessoas que tiveram que deixar suas casas em meio às chuvas.
A capital gaúcha quer construir uma megaestrutura provisória para abrigá-las. Já a gestão Eduardo Leite (PSDB) reconhece que parte dos atuais 770 abrigos vai ter que continuar funcionando pelos próximos meses --uma sinalização que o efeito das enchentes ainda deve demorar um logo tempo para ser resolvido.
O secretário de Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, Beto Fantinel, afirmou que a gestão trabalha para garantir que toda a população tenha onde ficar durante a reconstrução, principalmente quem perdeu sua casa.
"Precisamos realocar essas pessoas, então estamos trabalhando para que os municípios identifiquem espaços estratégicos que tenham melhores condições", diz o secretário.
Além da estruturação dos espaços que recebem quem perdeu a casa, o governo estuda a possibilidade de ampliar a política de aluguel social, de acordo com o secretário. A iniciativa, que hoje abrange apenas pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza, pode ser expandida para outras categorias, com o objetivo de ajudar na desmobilização dos abrigos.
Políticas de auxílio financeiro e assistência à moradia serão adotadas para recuperar as residências perdidas. Fantinel diz que, nesta semana, o governo vai autorizar a construção de casas em cidades que foram afetadas, mas já têm condições para tocar a obra. Ainda não há informações da quantidade de moradias.
"Temos tentado construir um cardápio de opções para que as pessoas estejam em local seguro, mas talvez não seja de onde elas tenham vindo, se for um lugar de inundação frequente."
Porto Alegre tem atualmente 14 mil pessoas abrigadas, a maior parte moradores de bairros da zona norte, como Sarandi, Humaitá e Navegantes, além da região das ilhas, a mais afetada de todas, já que é 80 cm mais baixa do que o resto da cidade.
São 157 abrigos em funcionamento na capital gaúcha, mas essas estruturas não são permanentes, funcionando em escolas, ginásios, universidades, salões paroquiais e outros edifícios públicos e privados.
A ideia da prefeitura é erguer uma espécie de abrigo gigante no Porto Seco, complexo cultural onde ocorrem os desfiles de Carnaval na cidade. Hoje, o local acolhe centenas de desabrigados nos barracões das escolas de samba.
De acordo com a prefeitura, o assunto ainda está sendo tratado internamente, e mais informações serão divulgadas no futuro. Não há uma definição, por exemplo, de quantas pessoas ficariam no local, nem se ele receberia moradores de outras cidades da região metropolitana da capital.
Em todo o estado, 76 mil pessoas estavam em abrigos no início da tarde desta terça (14), segundo o boletim mais recente da Defesa Civil. Além disso, há 538 mil pessoas desalojadas --que tiveram que deixar suas casas, mas não precisam de abrigos públicos.
Como muitas pessoas não têm condições de voltar para suas residências antigas, se busca uma solução temporária para o problema habitacional sem precedentes trazido pela cheia do Guaíba.
O nível do lago chegou a 5,25 m às 19h15 (de Brasília) desta terça. Com a elevação da cota de inundação e a formação de ondas no lago, o bairro de Lami, no extremo sul da cidade, precisou ser evacuado de manhã.
Na dia 5 deste mês, o Guaíba atingiu o recorde de 5,33 m. A água havia recuado nos últimos dias, chegando a 4,56 metros no sábado (11). Contudo, a volta das chuvas intensas entre sexta (10) e domingo (12) no estado causou novas enchentes nos vales, sobrecarregando a já alagada região metropolitana.
As ondas do Guaíba fizeram a enchente avançar também pelo bairro Ipanema, ultrapassando o calçadão da orla e invadindo casas. Na zona norte, bairros como Sarandi, Humaitá e Navegantes foram diretamente afetados, assim como o Centro Histórico, Cidade Baixa, Menino Deus e Praia de Belas na região central.
Já em bairros centrais da capital houve uma elevação de água menor do que a registrada nos últimos dias.
Onde antes havia inundação nos bairros Praia de Belas, Menino Deus e Cidade Baixa, agora a marca da água está abaixo da diferença entre os 5,33 m registrados no dia 5 e os 5,25 m desta terça.
Nas proximidades da rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa, a água voltou a subir. Porém, não entrou em prédios como na semana passada.
Em vias ainda alagadas como as avenidas Borges de Medeiros e Praia de Belas, os bueiros estão sobrecarregados e o escoamento é dificultado, mas a expectativa é que o nível diminua ao longo da semana.
O aumento contido se deve à retomada das operações da Estação de Bombeamento de Água Pluvial (Ebap) 16, no bairro Praia de Belas, que foi religada com o auxílio de geradores nesta segunda (13).
De acordo com o Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) pela manhã desta terça houve uma falha no gerador, mas a operação foi logo normalizada. Ao todo, são oito casas de bomba operantes em Porto Alegre --15 ainda estão desligadas.
A previsão era que o Guaíba chegasse a 5,40 m nesta terça, o que seria o maior nível já registrado. No entanto, a marca ficou abaixo da expectativa inicial.
O nível de alerta do lago é 2,5 m. A inundação ocorre quando o nível chega a 3 m. Os dados são do Sistema Hidro, da ANA (Agência Nacional de Águas), do governo federal.
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