Salários no agronegócio crescem e já chegam a R$ 50 mil no ES
Produtores têm buscado administradores para gerir as fazendas, e oferecem remuneração atraente, sobretudo nas grandes propriedades
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A profissionalização e a sucessão familiar têm impulsionado as contratações de gestores no agronegócio do País, especialmente em companhias de médio e grande porte. No Estado, especialistas relatam que os salários chegam a R$ 50 mil em alguns casos.
A zootecnista e especialista em gestão agropecuária Renata Erler explica que os salários desse tipo de profissional variam de acordo com o tamanho da fazenda, que deve ser encarada, segundo ela, como uma empresa, seja de pequeno, médio ou grande porte.
“Depende muito do movimento da fazenda. Pode variar desde um salário de R$ 5 mil, nas de menor porte, até de R$ 50 mil”, conta.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faes), Júlio Rocha, relata que esse percentual varia de acordo com a entrega do profissional. “Tende a ser um percentual baseado na participação dos negócios. Em média, aqui no Estado, fica em torno (na gestão) de R$ 15 mil a R$ 20 mil”.
Segundo os especialistas, esse profissional cresceu em demanda, nos últimos anos, por conta de uma falta de planejamento sucessório nas fazendas.
“O homem do campo tende a preferir que seus filhos sejam advogados, médicos ou outros cursos que não necessariamente envolvam o trabalho na fazenda. Então o herdeiro cresce sem o 'know-how', e aí ele (o fazendeiro) tem três opções: vender a fazenda, tocar sem ter conhecimento técnico para isso (e ficar com prejuízos) ou contratar profissionais adequados para auxiliá-lo”, comenta Renata.
Renata acrescenta que esse profissional não necessariamente precisa ter formação técnica, mas é obrigatório entender de gestão.
“Ele vai ser um administrador, mas é comum zootecnistas e agrônomos assumirem esses postos também. O ideal é que sejam profissionais dessa área, com pós-graduação ou dupla formação na área de gestão ou administração, porque um administrador não necessariamente vai entender a parte técnica da fazenda”, complementa.
De acordo com Cecília Perini, líder e sócia da XP, gerir uma propriedade de forma eficiente é crucial para garantir a segurança financeira e a multiplicação sustentável do patrimônio, o que, para ela, justifica o investimento em gestores, caso os herdeiros não estejam preparados para assumir o comando da fazenda sozinhos.
“Para todo investidor, seja ele conservador ou arrojado, o objetivo primordial é atenuar os riscos de perdas financeiras decorrentes da desvalorização de um determinado ativo”, afirma.
IA enfrenta desafios no agro brasileiro
Com potencial para transformar profundamente a maneira como as commodities são produzidas, a Inteligência Artificial (IA) tem avançado no agronegócio brasileiro. Ainda assim, o casamento do setor com a tecnologia enfrenta barreiras técnicas, regulatórias e humanas.
Em painel do Global Agribusiness Festival (GAFFFF), na última semana, em São Paulo, o advogado Hélio Moraes defendeu um marco regulatório equilibrado, que dê segurança jurídica sem inibir o potencial da inovação.
Segundo ele, o Projeto de Lei 2338, em discussão no Congresso Nacional e inspirado nas normas europeias, é uma oportunidade para o Brasil criar um modelo próprio e adequado à realidade nacional, inclusive no agro.
Já o gerente sênior de mecanização agrícola da BP Bionergy, Mário Sérgio Salani, lembrou que os principais obstáculos à adoção da Inteligência Artificial não são apenas técnicos, mas culturais e geracionais.
De acordo com Salani, agricultores mais velhos muitas vezes enfrentam resistência ou dificuldade para operar novas tecnologias, enquanto os mais jovens nem sempre se interessam pela vida no campo. “É preciso mostrar propósito e resultado. Mostrar que a IA vem para simplificar e melhorar o trabalho”.
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Formação
Segundo Renata, a formação técnica não é obrigatória, mas é necessário entender de gestão.
Ela relata que os profissionais mais comuns a assumirem postos de liderança no campo são os formados em administração, zootecnica e agronomia.
“Sendo comum haver zootecnólogo ou um agrônomo com pós graduação ou graduação dupla em gestão”.
Os salários, segundo a especialista, variam de R$ 5 mil a R$ 50 mil, dependendo do tamanho da operação e de sua complexidade. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faes), Júlio Rocha, relata que esse percentual varia de acordo com a entrega do profissional. “Tende a ser um percentual baseado na participação dos negócios. Em média, aqui no Estado, fica em torno de R$ 15 mil a R$ 20 mil”.
Raio X
Valorização
O agronegócio brasileiro está em plena transformação, com empresas nacionais liderando contratações de executivos. Segundo levantamento da consultoria Michael Page, sete em cada dez novas contratações no setor foram realizadas por grupos nacionais, nos primeiros quatro meses de 2025.
82% dos profissionais do agro tiveram aumento salarial superior à inflação em 2024, refletindo a valorização da liderança no setor, destaca o estudo.
A busca por profissionais com visão estratégica e capacidade de gestão é impulsionada pela maior profissionalização e processos de sucessão familiar nas empresas. O foco está em líderes que compreendam a cultura organizacional, especialmente em firmas familiares.
As contratações são mais frequentes em companhias de médio e grande porte, com faturamento de até R$ 1 bilhão, atuantes em setores como implementos agrícolas, sistemas de automação, agricultura de precisão e grãos (soja e milho).
Falta de sucessão justifica
Segundo a especialista em gestão agropecuária Renata Erler, a sucessão familiar influenciou o crescimento do mercado de gestores do agronegócio.
Isso porque boa parte das famílias prefere que seus filhos não trabalhe no campo, optando por profissões “urbanas”, como médicos e advogados.
“Só que quando chega a hora do patriarca passar o negócio para frente, fica complicado, porque fazenda não é para leigos. Ou o filho precisa se envolver muito e contratar consultores, ou precisa contratar um especialista para fazer a gestão”, conta.
Renata explica que, muitas vezes, nem se trata de desinteresse dos herdeiros, mas sim falta de entendimento do negócio.
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