Pandemia provoca atraso de até 4 anos na aprendizagem
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Entre os efeitos que a pandemia tem provocado na vida da população, um dos que mais pode levar tempo de recuperação será na área da Educação, principalmente nas séries iniciais.
Segundo o estudo “Perda de aprendizado no Brasil durante a pandemia de Covid-19 e o avanço da desigualdade educacional”, encomendado pela Fundação Lemann, o ensino fundamental brasileiro vai regredir ao patamar de aprendizagem menor do que o atingido nos últimos quatro anos.
A pesquisa foi realizada entre abril e outubro de 2020 e teve seu resultado apresentado agora. No estudo, a perda no aprendizado poderá ser de até 9,5 pontos em Língua Portuguesa e 7,9 em Matemática na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Na última avaliação do Saeb, em 2019, os alunos atingiram 260 pontos de média nas duas disciplinas. No pior cenário projetado no estudo, as médias cairiam para 250. Em 2015, ela foi de 252 pontos.
Recuperar a aprendizagem perdida nesse período longe da escola será o maior desafio para as redes de ensino, segundo a psicopedagoga e mestra em Educação Maria José Cerutti Novaes.
“Quanto mais nova a criança, mais necessário é para o seu aprendizado o contato com professor e os demais colegas. Por isso, a faixa etária do ensino fundamental é a que mais sofre os impactos do ensino remoto”, avalia.
Para o professor da rede pública de Vila Velha e secretário de Políticas para a Juventude do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), João Paulo de Faria Cardozo, a pandemia vai aumentar o abismo entre o ensino público e o privado.
“Dados apontam que 90% dos professores da rede pública não estavam preparados para trabalhar no ensino remoto e, até hoje, 42% seguem sem treinamento, aprendendo por conta própria”, diz o professor, que cita a evasão como um dos efeitos desse cenário.
Para o terapeuta e psicopedagogo Cláudio Miranda, o currículo escolar terá de ser reavaliado. “É provável que a massa de conteúdo diminua, para dar lugar a outras necessidades no campo do conhecimento. Não se pode querer fazer no ensino virtual o mesmo que se fazia no presencial. Precisaremos aprender a mesclar as modalidades”.
Irmãos dividem uso do celular

Assimilar o conteúdo das aulas remotas foi um desafio para os irmãos Pedro, de 11 anos, e Hugo, de 9, filhos do líder de rampa Thiago Ferreira.
Alunos da rede municipal, eles tiveram que dividir o único celular da casa em que foi instalado o aplicativo das aulas. “O sinal de internet oscilava e os aplicativos das aulas também davam problema”, explica o pai.
Para amenizar a disputa, a irmã Nataly, 13, foi estudar na casa da sua madrinha, onde a internet era melhor e havia outro celular.
Falta de internet atrapalha estudo
Uma pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que o acesso à internet e a falta de infraestrutura escolar foram os maiores desafios das escolas municipais em 2020.
Para 80% dos 3.672 municípios pesquisados (aproximadamente dois terços de todo o País), o acesso à internet teve um grau de dificuldade de médio a alto.
Devido à falta de acesso à internet, 95,3% dos municípios que participaram da pesquisa declararam que as atividades não presenciais de 2020 foram concentradas em materiais impressos, entregues para as famílias dos alunos. Já 92,9% usaram o WhatsApp como ferramenta para enviar orientações para os estudantes.
Segundo o presidente da Undime no Estado, Vilmar Lugão de Britto, a realidade dos municípios capixabas se assemelha à maioria.
“A pandemia trouxe à tona uma situação que estava camuflada, que é a falta de estrutura na casa dos estudantes. Não adianta a escola ter computador e internet se o aluno não tem isso em casa”, aponta.
Videoaulas online ao vivo ou o uso de plataformas educacionais, como aplicativos de celular, foram a estratégia de pouco mais de 20% das escolas municipais. Já as aulas pela TV atingiram apenas 4,1% dos estudantes.
A pesquisa separou os municípios em grupos por quantidade de habitantes. Em cidades com menos de 10 mil moradores, apenas 15% tinham algum tipo de plataforma educacional implantada.
Já nos grandes centros, com mais de 100 mil habitantes, esse tipo de ferramenta chegou a 56,8% dos estudantes.
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