Escada no Pico do Itabira vira polêmica em Cachoeiro
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O Pico do Itabira, uma das pedras mais cobiçadas por escaladores de todo o País, passou a ser mais facilmente acessado depois que montanhistas de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, instalaram escadas até o topo da montanha.
As escadas foram instaladas pelo empresário e esportista Ezequiel Vieira, 39 anos, dono de um sítio na base da pedra, símbolo de Cachoeiro, o Eco Park Itabira. “Coloquei degrau por degrau. É feito com um material reforçado, de aço com 12 milímetros. Suporta até 3 mil quilos”, disse.
A intervenção, mais conhecida como via ferrata, gerou polêmica. Alguns concordam com a medida, pois teria democratizado o acesso à montanha, considerada uma das mais difíceis de ser escalada do Brasil. Outros criticam. Afirmam que, além de colocar a vida de pessoas em perigo, provocou degradação ambiental.
A Associação Capixaba de Escalada (ACE) divulgou nota de repúdio. Ministério Público, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cachoeiro (Semma) e Corpo de Bombeiros avaliam as intervenções feitas na rocha.
No Brasil há duas vias ferratas conhecidas, na Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, São Paulo, e a Cepi, no Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
Quem idealizou a via ferrata em Cachoeiro foi o montanhista Nicácio de Paula, 49, que batizou a via com seu nome. Preocupado com possíveis acidentes, ele fez uma via de contenção na base da montanha, com 20 metros de altura, até chegar ao primeiro degrau.
Ezequiel disse que trabalha na escada desde maio. Assim que chegou ao topo, ele instalou uma lâmpada com flashes luminosos.
A luz chamou a atenção em Cachoeiro, mas foi retirada poucos dias depois, por ordem da Semma.
O órgão informou que o Ministério Público notificou os envolvidos e solicitou a retirada dos equipamentos, entendendo que oferecia risco ambiental, além de não ter sido apresentado projeto elétrico que justificasse a colocação da luminosidade no local.
Ezequiel estuda a possibilidade de retornar com a lâmpada, mas com as devidas autorizações.
Pedido de vistoria no local
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPE-ES) informou que instaurou investigação e já solicitou do Corpo de Bombeiros vistoria no Pico do Itabira para avaliar a segurança e o cumprimento de normas técnicas.
O órgão frisou que, ao tomar conhecimento de intervenções no local, em 30 de novembro, solicitou à Secretaria de Meio Ambiente de Cachoeiro que verificasse os danos ambientais e notificasse os responsáveis para a retirada do sistema elétrico e iluminação do pico, que o pico é uma unidade de conservação.
“Até que o plano de manejo seja elaborado e publicado, é vedada a realização de qualquer nova atividade no local”, alertou o MPE-ES.
Plano é cobrar R$ 200 pela subida

O plano do empresário Ezequiel Vieira é iniciar a subida ao topo da montanha em maio. Segundo ele, terá um custo estimado de R$ 200 por participante, com direito a seguro, preparação, equipamentos de segurança e acompanhamento de montanhistas preparados.
A escalada até o pico vai durar cerca de três horas. O grupo vai permanecer por uma hora no topo. A previsão é de duas horas até o retorno à base da montanha.
Ezequiel afirma que tudo está sendo projetado para garantir segurança. “Vamos subir em grupo de 10. Teremos seis pessoas especializadas. Três vão subir e três ficarão na base para providenciar socorro, caso necessário”, disse. “Não passaremos por vegetação. Apenas sobre a rocha, para evitar degradação”, frisou.
Segundo ele, antes de iniciar as atividades, será contratado um especialista em escalada por via ferrata para avaliar a segurança do percurso, apontar possíveis intervenções complementares e dar treinamento à equipe.
Além da Via Nicácio, situada na montanha principal, o sítio possui outras quatro vias ferratas: Via Sandra, em homenagem à mulher de Ezequiel; vias Nilson e Zilma, seus sogros; e a Via El, que significa Deus em hebraico.
“Na minha opinião, o Itabira será um divisor de águas para o turismo em Cachoeiro. Virão pessoas do Brasil inteiro. Vai movimentar a cidade”, defendeu o empresário.
Escaladores alertam para perigos
A Associação Capixaba de Escalada (ACE) se pronunciou contra a construção da escadaria até o topo do Itabira publicando, inclusive, uma nota de repúdio criticando a intervenção.
A associação alerta para o perigo de acidentes na escada, ao permitir a subida de pessoas sem preparo e capacidade técnica.

A nota de repúdio recebeu o apoio da Federação de Esportes de Montanha do Rio de Janeiro (Femerj), segundo a qual, o projeto vai contra os princípios e valores do montanhismo de preservação dos desafios naturais e conservação dos ambientes de montanha.
“Em meus 24 anos de alpinismo, eu não me lembro de ter visto uma agressão tão grande em uma montanha como esse caso”, destacou o conselheiro da ACE, o analista ambiental Sandro Souza.
Sandro ressalta que a instalação das escadas transgrediu uma regra básica do alpinismo, de não interferir em uma via anterior. Ele afirma que a intervenção foi feita muito próxima de outras duas vias existentes na montanha: Face Nordeste e a Chaminé Cachoeiro.
Também frisa que a via ferrata provocou impacto ambiental devido à enorme quantidade de escadas instaladas na montanha.

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