Novas amizades virtuais surgem durante o isolamento social
Escute essa reportagem

“A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas”. Essa frase, atribuída ao filósofo e cientista inglês Francis Bacon, resume bem o que é esse sentimento. Um vínculo tão inerente aos seres humanos que continua ocorrendo mesmo durante o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.
E o momento ainda proporciona novas amizades, iniciadas de forma virtual, por meio de redes sociais ou aplicativos de mensagens de texto ou de relacionamentos.
Foi pelo Instagram que as estudantes de Serviço Social Maiara Machado, de 27 anos, e Adlin Lucas, de 24 anos, se conheceram.
Elas fazem o mesmo curso, mas em faculdades diferentes. Depois, o contato passou para o WhatsApp, onde também fazem chamadas de vídeo.
“Adlin era amiga do meu noivo (o fotógrafo boliviano Gueyder Bruno, 25), mas a gente não se conhecia. Puxei assunto pelo 'direct' (recurso para conversar com contatos do Instagram) e começamos a conversar. Vimos que temos muito em comum. Não só o mesmo curso, mas também questões em relação às nossas famílias. Virou uma amizade verdadeira”, explica Maiara, que também é autônoma e mora em Barcelona, na Serra.
A nova amizade também tem servido para compartilhar os momentos bons e ruins do isolamento.
“A ‘Maia’ me escuta nos momentos de fragilidade, entende minhas crises de ansiedade e sente empatia, como também compartilha o que tem feito e sentido. É uma boa rede de apoio”, conta Adlin, que também é advogada e mora em Novo Porto Canoa, na Serra.
Além de novas amizades, as pessoas também têm feito novos contatos em aplicativos de relacionamentos. Para os dois casos, a psicóloga clínica Monique Nogueira alerta:
“A partir do momento em que a pessoa tem disponibilidade emocional, é favorável desde que seja de forma saudável. Se estiver extremamente carente, não vai conseguir perceber que tipo de pessoa está chegando perto dela. Então é preciso ser de forma consciente e não para suprir uma carência que o isolamento traz”.
Chamadas de vídeo

Os amigos e vendedores de rochas Eduardo Bossaneli e Érika Santos, ambos de 31 anos, começaram a fazer chamadas de vídeo com seus amigos pessoais pelos aplicativos WhatsApp e Zoom.
Dessa forma, os dois acabaram conhecendo os amigos que não tinham em comum.
“Fiz muitos amigos assim. Houve também pessoas das quais me reaproximei depois de muitos anos”, explica Eduardo, que mora em Barra de São Francisco, no Norte do Estado.
Análise
“Dentre todas as mudanças desencadeadas pela Covid-19, uma das mais desafiadoras é manter-se saudável emocionalmente.
Um aliado que se tornou fundamental foi a tecnologia, não só para o desenvolvimento do trabalho, mas para aproximar pessoas.
Cursos, lives, jogos online, sites de notícias, treinos e, claro, redes sociais e redes de relacionamento também ganharam maior adesão.
O movimento é totalmente saudável e benéfico se estiver aproximando pessoas que compactuam dos mesmos valores e expectativas, o que tornará a interação positiva.
Mas é preciso ter cuidado com o espaço que esses novos vínculos ocuparão no seu dia. A carência pode tomar conta e comprometer o bom senso. É importante distribuir o tempo a todos os aspectos importantes da vida.
Trabalho, autodesenvolvimento, atividade física, tarefas de casa, ligações para amigos, familiares e, aí sim, de maneira equilibrada, novas relações tendem a ser construídas de maneira a serem mais sustentáveis.
Tão importante quanto a imunidade fisiológica é a imunidade emocional e esta está totalmente ligada à felicidade”.
Comentários