Isolamento social faz com que as pessoas se redescubram na cozinha
Escute essa reportagem

Uma coisa é certa: muita gente fez as pazes com o fogão, ou ao menos se aproximou dele pela primeira vez nesta quarentena.
Sem a opção de sair para comer, ou com receio de pedir comida em casa durante a pandemia do novo coronavírus, novos talentos surgiram na cozinha. Quem antes vivia de comida congelada ou, no máximo, arriscava um macarrão instantâneo, agora pode se gabar de fazer até receitas mais elaboradas.
É o caso do empresário Paulo Prezotti, de 35 anos, e da mulher, a fotógrafa Nathália Olli, de 32, que mal se arriscavam na cozinha, devido à correria do dia a dia e também pela praticidade dos restaurantes.
Com o isolamento, Paulo passou a refletir sobre a alimentação. Ele se juntou à mulher e ambos passaram a executar receitas em casa. Fizeram, pela primeira vez, moqueca, carne ensopada e salmão com legumes.
“Sempre gostei de comer boa comida e não sabia onde comprar durante a quarentena. Então, comecei a fazer para mim. Eu cozinhava apenas o ‘básico do básico’, como macarrão instantâneo. Agora, faço carne ensopada com legumes, moqueca, receitas com macarrão e até salmão. Minha esposa também só sabia fazer o básico e, agora, cozinhamos juntos”, contou o empresário.
Nathália revelou que o casal chega a economizar metade do que gastaria comendo fora. “Num final de semana, de sexta a domingo, a gente costumava gastar cerca de R$ 600 com refeições em restaurantes. Agora, a gente gasta cerca de R$ 300, comendo bem, o que a gente gosta, e sabendo que é mais saudável, com menos gordura e menos sódio”, disse.
Nathália comentou também que ainda dá para investir em vinhos apreciados pelo casal. “Vinhos que a gente pagava mais de R$ 100 em restaurantes, agora saem a menos de R$ 30 no supermercado”, destacou.
O empresário e a fotógrafa disseram que pretendem manter o hábito de cozinhar em casa, mesmo após o fim da quarentena.
“Podemos até sair de vez em quando, mas descobrimos que estar à mesa em família é sagrado. É um momento de paz. Além disso, vamos poder convidar amigos para comer e celebrar com a gente em casa”, comentou Nathália.
Terapia contra a depressão
Os aplicativos de entregas de comida perderam uma cliente fiel nesta quarentena.
A estudante de Nutrição Catiene Chieppe, de 29 anos, trocou as comidas prontas pelas receitas feitas por ela mesma.
Entre as receitas testadas, estão torta de legumes, bolo de banana integral e coxinhas sem massa.
“Na verdade, nunca tive muito tempo para cozinhar e, com a quarentena, comecei a colocar em prática algumas receitas que já tinha. Comecei a cozinhar por hobby. Cozinhar se tornou uma forma de passar o tempo e diminuir a ansiedade”, salientou.

Comida amazônica, italiana e alemã: Revelações dentro de casa
Quem disse que não dá para ousar nas receitas e ter em casa uma verdadeira preparação de chefs?
Pois a gerente de projetos Cândida Repossi, de 32 anos, não só aposta nos pratos mais elaborados, como investe em receitas típicas de várias partes do Brasil e do mundo.
Entre as preparações, o pirarucu – peixe típico das águas doces da bacia amazônica – com molho de tucupi (feito com líquido extraído da mandioca e pimenta), muito típico do Pará. E não para por aí.

No cardápio ainda tem joelho de porco com acompanhamentos típicos da Alemanha, e a massa italiana Nero di Seppia – um tipo de macarrão negro com sêmola de grano duro, tinta de lula, água, peixe em pó e suco de limão.
“Estou trabalhando em home office. Quando chega a noite, quero comer pratos diferentes. Eu sempre almocei na rua e saía muito durante a semana. Agora, não posso mais fazer isso. Então resolvi aprender a cozinhar”, contou Cândida.
Dicas
Para se dar bem na cozinha, é preciso lançar mão de alguns truques simples, mas que fazem muita diferença no resultado final.
O chef Juarez Campos dá três dicas infalíveis para quem quer se aventurar na cozinha, mas ainda tem receio: usar produtos de qualidade, optar por pratos italianos (por serem mais fáceis de executar) e resgatar os cadernos de receitas da família.
“Nem os melhores chefs conseguem fazer bons pratos com ingredientes ruins. Vale investir num bom azeite, em manteiga, massas e demais ingredientes para ter um resultado satisfatório”, disse.
Juarez indica que as pessoas comecem por preparações simples, com poucos ingredientes e técnicas. “Não precisa ser um grande chef para fazer uma massa com molho caseiro e manjericão, ou um risoto, por exemplo, onde ainda dá para aproveitar as sobras”, comentou.
Depois de se arriscar nas receitas mais simples, aí é hora de incrementar as preparações. Uma dica é assistir a vídeos na internet. A maioria está disponível de graça.
As receitas de família também escondem grandes preparações, cheias de memórias. “Se a mãe ou a avó tiverem condições, o ideal é pedir que façam a receita, pois elas escondem segredinhos que não contam. Depois, é só reproduzir”, sugeriu Juarez.

Habilidades
O analista de comunicação Keyfer Pires, de 26 anos, está aproveitando o isolamento social para aprender novas receitas na cozinha.
Ele contou que consome alimentos sem glúten e sem açúcar, o que o motivava sempre a comprar comida pronta. Com a quarentena, teve de se arriscar na cozinha. Bolos de banana e coco e receitas de pães estão entre as opções.
“Eu já tinha uma boa reflexão sobre minha alimentação. Quando não estamos isolados, compramos mais comidas prontas e comemos fora com mais frequência. No período de isolamento, aprendi a fazer as receitas. Tive que desenvolver habilidades”, comentou.
Comentários