Diversão à moda antiga está de volta durante pandemia
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Apesar de trazer preocupações para as pessoas, famílias estão se reinventando na pandemia do novo coronavírus e até mesmo resgatando brincadeiras antigas para se divertir e aproveitar melhor o tempo no isolamento social.
Assistir a filmes e séries ou ficar navegando nas redes sociais também está sendo comum, mas há quem prefira unir a família com brincadeiras de outras épocas, que ficaram cada vez menos praticadas com o avanço da tecnologia.
Por causa das orientações médicas e de autoridades, das aulas suspensas e do home office, os membros da família Macedo têm estado por muito mais tempo juntos em casa. Antes da pandemia, os quatro ficavam em casa, ao mesmo tempo, apenas à noite, em alguns dias.
Para aliviar o tédio e unir a família em uma mesma atividade, os pais Fabíola Macedo, pedagoga de 51 anos, e Sirland Macedo, autônomo de 53 anos, tiraram o baralho da gaveta e colocaram toda a família para jogar “buraco”, se unindo aos filhos Thais Luiza, esteticista de 23 anos, e Yuri Felipe, estudante de 19 anos. Eles jogam diariamente e quem perder é responsável por lavar as louças.
Eles já notaram que a atividade está servindo para aproximá-los e para relembrar os tempos em que ficavam mais juntos, antes dos filhos crescerem e entrarem na adolescência e juventude.
“É uma atividade para passar o tempo, um lazer mesmo. Os dias ficaram muito longos, não é? O jogo de cartas fazia parte da minha juventude e do meu marido, porque na nossa geração a gente ficava mais com a família. Os benefícios disso são muitos”, afirma Fabíola.
Apesar de os filhos terem gostado do jogo, a mãe acredita que, quando a vida voltar ao normal, vai ser difícil continuar com a atividade, já que cada um tem seu horário na rotina. Enquanto isso, porém, eles seguem se divertindo.
“Tinha muito tempo que isso não acontecia. Estamos almoçado e jantando juntos, inventando as coisas. Eu estou adorando esse convívio com a família. Meus filhos aprenderam a jogar direitinho e ultimamente eu tenho perdido muito para eles e lavado as louças (risos)” brinca o pai.
Casal monta quebra-cabeça com 5 mil peças
Você encararia um quebra-cabeça com 5 mil peças? Com mais tempo livre, por causa do isolamento social, os namorados Elisa Paranhos, estudante de 20 anos, e Kelvyn Malta, auxiliar de produção de 27 anos, já estão concluindo o quebra-cabeça que começaram a montar no dia 23 de fevereiro.
“Por causa dessa pandemia, a gente pode se dedicar e está faltando só 600 peças. Ainda bem que compramos esse quebra-cabeça porque a gente tem com o que se distrair e exercitar a cabeça. Vamos terminar esse nesta semana e comprar outro”, afirma Elisa.

Resgate das relações familiares
Para a psicóloga Martha Zouain, talvez a Covid-19 não seja apenas uma doença cruel. “Ela também nos deu a oportunidade de resgatar várias perdas, fruto do mundo ágil, volátil e competitivo que vivíamos e, sim, sob esta ótica talvez ela seja a cura”.
Martha, que também é diretora da Psico Store, explicou que o isolamento trouxe de imediato a necessidade de se adaptar tanto a novas formas de trabalho, mas, principalmente, o equilíbrio no convívio com os que estão próximos.

“É inegável que as estratégias mais positivas vieram através da união e algumas práticas juntas. O resgate dos jogos de tabuleiro, pingue-pongue, contação de histórias, dentre muitas outras brincadeiras que, em situação normal, não fariam parte do repertório de escolhas, assim como atividade física e refeições com todos ao redor da mesa, foram os mais eficientes para minimizar ansiedade e medo”.
Para ela, os ganhos são muitos. “Vão desde o desenvolvimento de novas habilidades, estimular a imaginação e reaproximação com o que te torna mais forte. Essas habilidades voltarão para o mercado de trabalho e relações afetivas com a constatação de que é possível contornar qualquer dificuldade com disciplina, respeito às regras e positividade. Brincar torna o caos menos dramático, melhora o sistema imunológico”.
Quem se disponibilizar a mudar, aprender, reaprender e desaprender, terá ganhos inesgotáveis, segundo Martha. “O grande desafio virá em manter estas práticas tão positivas e agregadoras quando a normalidade se restabelecer”.
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