Cai o mito de que meninas são piores em Matemática
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A baixa presença de mulheres em profissões na área de exatas, como a Matemática, não tem relação com questões biológicas ou cerebrais. A ciência prova que elas são tão aptas quanto os homens quando o assunto é habilidade com as contas.

Com isso, cai um antigo mito de que meninas têm mais dificuldade com questões matemáticas. É o que mostra um estudo científico realizado na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.
A pesquisa analisou a atividade cerebral de 55 meninas e 49 meninos de 3 a 10 anos de idade. Enquanto as crianças assistiam a um vídeo sobre matemática, as imagens do cérebro foram comparadas com imagens de raio X cerebral de 63 adultos que assistiram ao mesmo vídeo.
O resultado mostrou que não havia diferença em como meninos e meninas processavam habilidades matemáticas. Além disso, os resultados foram comparados com um questionário aplicado em 97 crianças para avaliar o desempenho na área. Ficou comprovado que a habilidade de fazer contas não muda conforme o gênero.
“A ciência não se alinha com crenças populares. O cérebro das crianças funciona de maneira semelhante, independentemente do sexo. Seres humanos são mais parecidos entre si do que diferentes”, afirmou a neurocientista Jéssica Cantlon, uma das responsáveis pelo estudo.
Representatividade
Apesar disso, elas ainda são minorias na área de conhecimento. Este ano, por exemplo, o curso de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) recebeu somente 12 mulheres, diante de 50 homens.
Situação semelhante acontece na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP). Nos três níveis de idade da competição, na primeira fase, a participação de meninos e meninas é semelhante.
Na segunda fase, no entanto, os meninos passam na frente, segundo o organizador da olimpíada, Claudio Landim.
“Até as que têm boa nota não vão para a segunda fase. É uma pena, pois são meninas talentosas. Elas têm tanto talento quanto os meninos, mas, por alguma razão, não seguem. É como se ser bom em Matemática fosse um prejuízo”, afirmou Landim.
Medalhistas com paixão por números
As estudantes Heloísa Cavalcanti, 15 anos, Luiza Rubim, 15, e Maria Fernanda Mattos, 17, têm em comum a paixão pelos números. Alunas do Centro Educacional Leonardo da Vinci, elas são medalhistas na Olimpíada Brasileira de Matemática.
Mesmo que, em números gerais de medalhas, os meninos ainda estejam na frente, Maria Fernanda garante: não existe diferença de gênero quando o assunto é matemática.
“O que vejo, de forma geral, é que as pessoas não gostam muito de matemática, sejam homens ou mulheres. Existe um tabu de que é uma matéria difícil, e isso afasta muitas pessoas. Talvez, por isso, também, na minha turma, mais meninos do que meninas queiram cursar Engenharia”, disse.
Torneio para estimular a participação feminina
Para incentivar a participação das mulheres em disputas científicas e aumentar a representatividade feminina na área de exatas, foi criado no fim do ano passado o 1º Torneio Meninas na Matemática.
Ao todo, 171 meninas de 19 estados do País que foram convidadas para participar da primeira edição, sendo seis do Espírito Santo.
Elas foram selecionadas para o torneio pelos bons resultados na 40ª Olimpíada Brasileira de Matemática de 2018 e na 14ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.
Três meninas conquistaram a distinção máxima: Fabrícia Cardoso, do Ceará; Larissa Afonso, de Goiás; e Maria Clara Lacerda, do Rio de Janeiro.
“O ambiente ainda é bem masculino. Acabamos ficando sem muitas referências”, comentou Maria Clara.
“No mundo ideal, não deveria haver um torneio exclusivamente para meninas, mas ainda não estamos no mundo ideal”, completou ainda a estudante.
ANÁLISE
“O equilíbrio de gênero é benéfico” - Edna Tavares, doutora em Educação
“Construções sociais e culturais, por vezes, reforçadas na família e na escola, tendem a afastar a mulher desta área. A questão cultural é ainda muito forte e inclina muitas mulheres a optarem por cursos superiores que a sociedade estigmatiza como 'feito para mulher'.
Além disso, há um fator de relevância: as mulheres, tendencialmente, buscam profissões cujos horários sejam mais flexíveis e que possam combinar com diferentes e inúmeros papéis que elas assumem.
O estigma tem sido quebrado com discussões sobre o empoderamento feminino e a importância da presença da mulher em todos os segmentos. O equilíbrio de gênero é benéfico.”
SAIBA MAIS
O estudo
O estudo científico foi feito pela Universidade de Rochester, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Os resultados foram publicados na revista “Science of Learning”.
Como foi realizado?
Pesquisadores colocaram 55 meninas e 49 meninos de 3 a 10 anos de idade para assistir a um vídeo sobre Matemática. Enquanto assistiam ao vídeo, as atividades cerebrais delas foram captadas por meio de ressonância magnética.
Em seguida, as imagens do cérebro foram comparadas com imagens de raio X cerebral de 63 adultos que assistiram ao mesmo vídeo.
Os resultados foram comparados com um questionário aplicado em 97 crianças para avaliar o desempenho na área matemática.
Resultado
O resultado mostrou que não havia diferença em como os meninos e meninas processavam habilidades matemáticas. O processo foi o mesmo entre crianças e adultos.
Fonte: Science of Learning.
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