Pedágios, multas e ameaças de morte em pontos de prostituição
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Que a rua é um espaço público, todos já sabem. Entretanto, quando se trata do mercado do sexo, determinados pontos de prostituição na Grande Vitória são dominados por criminosos que cobram “pedágios”, aplicam “multas” e até fazem ameaças de morte a travestis que se recusem a aceitar as regras.
A denúncia foi feita pelas próprias vítimas, durante uma ronda da reportagem de A Tribuna, na última semana, nos principais locais onde elas se concentram.
As travestis toparam conversar, na condição de não se identificarem. De acordo com elas, o crime, que já acontece há algum tempo no Estado, atualmente é praticado por outras travestis, chamadas pelas vítimas de “cafetinas”.
Tratam-se de prostitutas mais antigas, que, segundo a polícia, teriam envolvimento com o tráfico de drogas de vários bairros e desejam se beneficiar do trabalho das travestis mais novas, cobrando uma taxa pelos pontos de prostituição.
“Elas cobram R$ 50 por noite e nós somos obrigadas a pagar. Isso, quando você consegue cliente, porque, quando não consegue, elas chegam com faca, estilete ou gilete na mão e começam a nos ameaçar. Eu já fui agredida”, relata uma travesti de 21 anos, que se prostitui em um ponto da Serra.
Para a segurança das vítimas, os pontos de prostituição não serão divulgados na matéria.
Quem também confirmou que essa ação anda acontecendo foi uma transformista, de 24 anos, que também se prostitui na Serra. Ela afirma que as “cafetinas” exigem que regras sejam cumpridas em cada ponto de prostituição. Caso contrário, além dos “pedágios”, as “infratoras” têm de pagar multas.
“Por exemplo, se você atende um cliente mal e ele reclama, ela (cafetina) te cobra uma multa que pode chegar a R$ 500. E se você não pagar, é arriscado até de morrer, porque eu já tive amiga que foi atingida por uma facada e morreu. Tudo porque descumpriu uma regra e não pagou o valor”, conta.
Para a polícia, o problema é maior. “Há traficantes por trás dessas cafetinas. Nós sabemos e já apuramos”, afirmou um coronel da Polícia Militar, de 53 anos, que já atuou na atividade de inteligência.
Programa nas ruas para ajudar mãe
Foi com o intuito de ajudar a mãe que uma travesti, de 39 anos, moradora de Viana, decidiu entrar para a prostituição, ainda aos 19 anos.
Vinda de Ilhéus, na Bahia, com o sonho de juntar dinheiro para comprar uma casa para a família, ela relatou que o preconceito nos trabalhos que encontrou no Estado a levou a fazer “programa” nas ruas.
“Sou cozinheira. Tenho profissão, mas os meus patrões, por preconceito, não aceitavam o fato de eu ser 'um homem no corpo de uma mulher'. Porque era isso que eu ouvia. Por isso, entrei para a prostituição”.

ENTENDA
- Travestis que fazem programa em vários pontos da Grande Vitória estão sendo obrigadas a pagar uma taxa para outras travestis, que, segundo a polícia, teriam ligação direta com traficantes.
- O valor cobrado por elas é de R$ 50,00 por noite.
- Quem não paga é ameaçada de morte e, em alguns casos, são agredidas com estilete e lâmina de barbear.
- Quem aceita pagar a taxa vive sob o poder dessas travestis criminosas, que cobram até multas daquelas que descumprem as ordens. As multas se referem ao mau tratamento a determinado cliente, por exemplo.
- O valor da multa pode chegar a R$ 500.
- Além disso, alguns traficantes de vários bairros da Grande Vitória, estariam recolhendo uma taxa que varia de 30 a 50% do valor que elas arrecadam com cada programa, em troca de uma “segurança” melhor, já que muitas se envolvem em brigas por conta da disputa de pontos.
NÚMEROS
- Elas começam a se prostituir ainda na adolescência, com 13 anos.
- Têm entre 13 e 30 anos
- Moram em apartamento compartilhado com outras companheiras de profissão (algumas moram em pensões alugadas)
- Atendem de 8 a 12 clientes por dia e chegam a cobrar R$ 150,00 por hora.
- A maioria delas foi expulsa de casa pelos familiares, que não aceitaram a condição sexual.
- Entram para a prostituição por meio de cafetinas.
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