Capixaba doa medula duas vezes: “Salvar uma vida é algo que não tem preço!”
Doações aconteceram neste ano e ajudaram a salvar vidas até fora do Brasil. Hoje, Raphael Athayde integra grupo nacional de doadores
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Raphael Athayde de Souza, na época com 25 anos, fez um cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) em 2012, após um amigo de infância, Ronald, ter leucemia e mobilizar os vizinhos do bairro para encontrar um possível doador.
Infelizmente, Ronald não encontrou um doador compatível e morreu. O que Raphael, hoje com 38 anos, não imaginava era que esse gesto o colocaria na “loteria” da doação de medula. Por três vezes, o autônomo, morador de Tabuazeiro, em Vitória, foi compatível para doação de medula.
A primeira vez foi em 2021, durante a pandemia. “Cheguei a fazer os exames. Era compatível, mas não consegui doar. Fui para Barretos (São Paulo), mas não explicaram o motivo da doação não ter sido finalizada, pelo processo ser sigiloso”, explicou.
Porém, na segunda vez, Raphael pode, enfim, sentir na pele a experiência de salvar uma vida.
“Em dezembro do ano passado, recebi a ligação falando que eu era compatível. Foi como um presente de Natal. Em janeiro, fiz a doação, que aconteceu no hospital Santa Rita. Entrei e saí andando tranquilamente. Fiz todos os procedimentos com muita facilidade, sendo que a medula foi para os Estados Unidos”, contou.
Quatro meses depois da doação, em maio deste ano, uma nova ligação: “Achei que teria de repetir, por ter dado algo de errado da doação de janeiro, mas me explicaram que era uma nova coleta”.
Dessa vez, Raphael precisou viajar para Brasília. “Em junho, estive em Brasília, no hospital DF Star, e foi mais uma experiência incrível poder ajudar novamente a salvar mais uma vida”, comemora.
A doação de medula uniu Raphael ao grupo nacional Flamedula, que reúne doadores e torcedores do Flamengo. Ele é o coordenador do FlamedulaES.
“Eu quero que minhas ações fiquem de exemplo para meus filhos. Não tem dinheiro que eu deixe que vá pagar essa bondade e dádiva de Deus que eu tive, de poder salvar vidas. Me sinto escolhido por Deus. Também quero que as pessoas não tenham medo de doar. Uma picada de agulha é uma dor mínima, comparada à dor que as pessoas com câncer sentem”.
“Salvar uma vida é algo que não tem preço!”
A Tribuna - Como se sentiu ao saber, pela primeira vez, que era compatível para ser um doador?
Raphael Athayde - Fiquei emocionado. Por estarmos em meio à pandemia, estava sozinho em casa, mas foi uma sensação muito gratificante saber que poderia salvar uma vida.
E como foi saber que era compatível pela segunda vez?
Não imaginava que pudesse ser chamado novamente, pois sempre me diziam que era um caso raro conseguir ser compatível com alguém. Recebi a notícia em dezembro de 2024, mas o procedimento foi feito em janeiro.
Acredito que foi para uma criança, apesar de todo o processo ser sigiloso. Pela quantidade da doação, me disseram que pode ser uma criança, mas não temos essa certeza. O que sei é que a doação foi para os EUA.
E a terceira vez?
Quando recebi a ligação, achei que teria de repetir, por ter dado algo de errado da doação de janeiro, mas me explicaram que era uma nova coleta. Dessa vez, fui para Brasília e a quantidade da doação foi maior.
Como o procedimento foi realizado?
Foram feitos por aférese, por meio de uma máquina moderna, que retira o seu sangue de um braço, separa a medula (célula-tronco) e devolve seu sangue no outro braço. Durou em torno de umas cinco horas, com anestesia local, sem dor alguma. Saí caminhando após a doação e mantive um repouso apenas de exercícios físicos durante 15 dias.
Tem interesse em ter contato com os receptores?
Sim, mas só poderei ter algum contato após um ano e meio da doação, caso a família tenha interesse, sendo necessário assinar vários termos.
Qual mensagem você espera passar com essa sua ação?
Eu quero que minhas ações fiquem de exemplo para meus filhos. Não tem dinheiro que eu deixe que vá pagar essa bondade e dádiva de Deus que eu tive, de poder salvar vidas. Sinto-me escolhido por Deus. Também quero que as pessoas não tenham medo de doar. Uma picada de agulha é uma dor mínima, comparada à dor que as pessoas com câncer sentem.
Tiramos apenas 5 ml de sangue para ser doador. Depois que somos compatíveis, fazemos exames básicos e não sentimos dor nenhuma, e saímos andando. Salvar uma vida é algo que não tem preço! É uma sensação de super-herói!
Caso é raro, segundo especialistas
O caso do autônomo Raphael Athayde de Souza, de 38 anos, pode ser considerado raro, segundo especialistas.
A médica Belisa Sossai, do Hemocentro Estadual do Espírito Santo (Hemoes), esclarece que a compatibilidade entre doador e receptor é “muito difícil”.

Embora se fale em chances de 1 para 100 mil, esse número é apenas uma estimativa, aponta a médica. “O Redome já não recomenda mais o uso desse dado, porque são dados muito exatos para uma ciência que não é exata. O mais correto é dizer que é raro”.
Qualquer pessoa entre 18 e 35 anos pode se cadastrar como doadora, desde que esteja em boas condições de saúde. O cadastro é feito por meio da coleta de uma amostra de sangue, no Hemoes. O material é enviado ao Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).
“O cadastro, de forma geral, é bem livre. Só que o fato de você ser cadastrado no banco de dados do Redome não significa que você estará apto para ser um doador, caso seja confirmada a compatibilidade”, explica a médica.
“Existem várias etapas, desde o cadastro para você se colocar à disposição no banco de dados, até esse transplante ser realmente efetivado”, esclarece.
A médica esclarece também que não há problema em doar mais de uma vez a medula, já que ela regenera rapidamente. Belisa esclarece também a confusão que muitas pessoas fazem entre medula óssea e medula espinhal.
“As pessoas ficam com medo de ficar paraplégicas, perder o movimento dos membros, mas são coisas totalmente diferentes. A medula espinhal é o cordão nervoso que fica dentro dos ossos da nossa coluna”.
A medula óssea é constituída por um tecido líquido-gelatinoso encontrado no interior dos ossos.
Apesar de o Redome ser nacional, ele está interligado a bancos de dados de outros países. Por isso, um doador brasileiro pode ser compatível com pacientes em qualquer parte do mundo, esclarece a médica.
Saiba mais
Quem pode doar
O candidato a doador deve ter entre 18 e 35 anos e 6 meses; ter boa saúde e não apresentar doenças infecciosas, hematológicas, oncológicas ou doenças auto imunes.
Deve apresentar documento oficial de identidade, com foto, e fornecer dados pessoais para o preenchimento do cadastro no Redome.
O voluntário assina um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e recebe uma cópia, com seu nome e número do registro no Redome.
Será coletada amostra de 5 ml de sangue para teste de compatibilidade genética, o HLA (Antígenos Leucocitários Humanos), que irá determinar as características genéticas necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente. O tipo de HLA será cadastrado no Redome.
Atualização
É importante que o doador mantenha sempre seus dados cadastrais atualizados no site do Redome (nome, endereço, telefone, e-mail), para que, ao ser convocado como possível doador compatível, possa ser localizado facilmente.
Fonte: Redome.
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