Médico explica os sinais do câncer de cabeça e pescoço
Alteração na voz e incômodos na boca e na garganta podem indicar tumores em cavidade oral, tireoide e laringe
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Mais de 39 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço devem surgir este ano no País, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Nessa soma estão incluídos os cânceres de cavidade oral, tireoide e laringe.
Por serem diferentes tipos de tumores, cada um apresenta suas características, sinais e sintomas, explica o cirurgião de cabeça e pescoço Marco Homero Sá Santos, reforçando a campanha Julho Verde, em alerta aos sintomas do câncer de cabeça e pescoço.
“Considerando boca, faringe e laringe, os principais fatores vão ser incômodo na hora de engolir, uma ferida na boca que não cicatriza (aftas) e alteração da voz. Tudo isso vai depender do local, porque em um câncer de tireoide, por exemplo, o primeiro sinal pode ser um nódulo no pescoço”.
O médico chama atenção também para o fato de que os tumores de garganta (laringe e faringe) podem não ter sintomas dentro da garganta, sendo o primeiro sinal um nódulo cervical, chamado popularmente de íngua (linfonodo).
“Às vezes o paciente com esse linfonodo fica meses até procurar um atendimento médico, sendo que esse sinal pode ser uma metástase do tumor”, alertou.
- A Tribuna - O que é considerado câncer de cabeça e pescoço? Quais áreas são afetadas?
Marco Homero: Não existe um tipo de câncer de cabeça e pescoço. Por ser em uma região, vai compreender câncer de vários subsítios: câncer de boca, de faringe, de laringe, de glândulas salivares, dos seios paranasais, de pele dessa região e de tireoide.
- O tabagismo e o consumo de álcool ainda são os maiores vilões? Ou o HPV já pode ser considerado um dos principais fatores?
O tabagismo e o etilismo são os principais fatores do câncer de boca, faringe e laringe, principalmente quando associados. Quem fuma tem sete vezes mais chance de ter um câncer e quem bebe tem seis vezes. Mas quem fuma e bebe tem 30 vezes mais chance.
Já o HPV vem ganhando maior incidência, principalmente com o câncer de orofaringe. A orofaringe é onde fica localizada as amígdala e a base de língua.
- Com a mudança de hábitos da população, como o aumento do uso de cigarros eletrônicos, há alguma preocupação em relação à incidência futura desse câncer?
Temos um receio se o cigarro eletrônico vai ter relação com câncer, tanto da região de cabeça e pescoço quanto de outros relacionados ao tabagismo, porque no cigarro eletrônico há a presença de nicotina e pode ter também presença de outros produtos cancerígenos. Mas, hoje, como é algo mais recente, não temos estudos que comprovem a associação do cigarro eletrônico com câncer ainda. Talvez no futuro a gente consiga comprovar.
- Existe algum sinal muito comum nesse tipo de câncer, mas pouco percebido por quem apresenta a doença?
O sinal que as pessoas dão menos valor é o incômodo para engolir, às vezes o paciente fala que está com uma sensação de espinho de peixe. Como a gente mora no litoral, e o consumo de peixe é comum, às vezes o paciente relaciona com o dia que ele comeu peixe, engoliu uma espinha e aquilo ficou incomodando na garganta.
Às vezes ele demora meses para procurar atendimento médico e entender porque sente uma leve dorzinha quando engole.
- Há algum exame de rastreamento que a população em geral deveria fazer? Ou o foco principal é na observação dos sintomas?
Não é feito rastreio para nenhum tipo de tumor dessa região de cabeça e pescoço. O que a gente orienta é que, com qualquer alteração por mais de duas semanas, a pessoa tem de procurar um especialista.
Todos os sinais e sintomas que eu falei previamente: uma ferida na boca; uma alteração da voz; um incômodo na hora de engolir; uma íngua que surgiu; uma mancha de pele que mudou de forma, de cor ou de tamanho, por mais de duas semanas, tem de procurar um especialista.
- Quais são as principais modalidades de tratamento disponíveis atualmente para o câncer de cabeça e pescoço?
Quanto ao tratamento, a principal arma é a cirurgia, principalmente em estágios iniciais. Se a pessoa tem um tumor pequeno, o melhor é retirá-lo cirurgicamente e já resolver o problema.
No momento que esse diagnóstico é feito em tumores mais avançados, a gente acaba lançando mão de outras modalidades, outros armamentos, e, normalmente, uma combinação de tratamento. Podemos usar a radioterapia e a quimioterapia, normalmente associadas à cirurgia.
Em alguns casos, a gente opta direto para radioterapia e quimioterapia. O paciente nem opera nos locais onde a cirurgia vai ser mais agressiva do que a radioterapia.
FIQUE POR DENTRO
> Linfonodo - são pequenas estruturas em forma de feijão que fazem parte do sistema linfático.
> Orofaringe - é a parte da garganta logo atrás da boca. Inclui a base da língua, o palato mole, as amígdalas e a parte lateral e posterior da garganta.
> Os tumores malignos (câncer) que aparecem na boca, orofaringe, laringe (local onde estão as cordas vocais), nariz, seios nasais, nasofaringe, órbita, pescoço, tireoide, couro cabeludo, pele do rosto e do pescoço são chamados de câncer de cabeça e pescoço.
> Nódulo, dor de garganta persistente, dificuldade para engolir, alterações na voz ou rouquidão por mais de 15 dias, ferida na boca, no rosto ou no couro cabeludo que não cicatrizam em duas semanas são sintomas que podem indicar câncer de cabeça e pescoço.
> A infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano) é um importante fator de risco para o câncer de cabeça e pescoço. Esse vírus pode causar câncer na região da orofaringe, parte que fica logo atrás da boca, incluindo a amigdala e também a base da língua e o palato mole.
OS NÚMEROS
118.650 - é a estimativa de novos casos de câncer de cabeça e pescoço em três anos
90% - é o percentual de cura quando a doença é diagnosticada e tratada em fase inicial
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