A arrogância de Trump faz mal ao mundo
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu o novo mandato há apenas seis meses, mas parece ter se preparado para fazer agora tudo o que queria ter feito mas deixou de fazer no seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021. É sabido que, ao perder a eleição presidencial de 2020, Trump não aceitou o resultado das urnas, estimulou a invasão do Capitólio e não compareceu à posse de Joe Biden, em janeiro de 2021. Uma sequência de comportamentos não democráticos que serviu como modelo para outro presidente aqui pela América do Sul.
A arrogância de Trump se manifesta até quando ele está calado. Basta olhar a sua postura quando aparece sentado à mesa em alguma rodada de negociação. O queixo está sempre apontado para frente e tem um bico desenhado nos lábios. O olhar, invariavelmente, é de superioridade, como se os seus interlocutores fossem insignificantes. O homem do país mais poderoso do mundo se dignou a receber pobres mortais. Imagino como se sente quem senta com ele à mesa de negociação.
O estilo nada simpático de Trump tem sido alvo de críticas em todo o mundo. Ao anunciar tarifas de 50% ao Brasil, caso o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja cancelado no Supremo Tribunal Federal, o americano protagonizou um caso absurdo de ingerência em questões internas de outro país, subvertendo tudo o que pregam a democracia e a diplomacia mundial. Numa carta cheia de inverdades (uma delas a de que os Estados Unidos são deficitários no comércio com o Brasil, quando se sabe que é exatamente o contrário), Trump usou um tom de ameaça ao nosso país, parceiro comercial dos Estados Unidos há mais de duzentos anos.
Ao impor ao Brasil tarifas despropositadas, Trump repetiu um dos muitos comportamentos abusivos que vem adotando desde que voltou à Casa Branca. Já ouvi dizer que ele se acha o dono do mundo. Eu diria que ele não acha. Ele tem certeza disso. O que é lamentável se pensarmos que, até muito pouco tempo, os Estados Unidos eram exemplo de democracia no mundo ocidental. De repente, antigos aliados, como os países da Europa, estão sendo obrigados a rever posições e até orçamentos. Não à toa a Europa discute hoje a necessidade de aumentar os gastos com armamentos.
Sequência de disparates - Não há dúvidas de que um megalomaníaco como ele, à frente da maior potência econômica e militar do planeta, representa hoje um perigo mundial. Numa sequência de disparates, Trump já disse que o Canadá deve se tornar mais um estado americano, ameaçou ocupar e tomar posse da Groenlândia (que hoje pertence à Dinamarca, mas sonha com a independência) e impôs tarifas econômicas a países da Europa e da Ásia, sempre em decisões unilaterais, desrespeitando todas as normas estabelecidas pelo comércio internacional. E o que dizer sobre a declaração delirante e desumana de transformar a Faixa de Gaza em uma grande riviera a ser desfrutada pelos ricos do mundo, impondo um exílio obrigatório a dois milhões de palestinos que têm aquelas terras como suas por direito? Ao agir como age, Donald Trump faz mal ao mundo.
O Itamaraty está em ação, na tentativa de contornar o mal estar provocado pela carta de Trump a Lula, com a ameaça da elevação das tarifas, o que pode comprometer as exportações brasileiras em vários setores, dos aviões da Embraer ao agronegócio. O objetivo agora é diminuir danos. O vice-presidente Geraldo Alckmin pode ser a pessoa escalada para essa negociação. Ao mesmo tempo, o presidente Lula já disse que vai adotar a reciprocidade caso os Estados Unidos de fato passem a cobrar mais pelos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. O que o Brasil precisa mensurar é até onde pode falar grosso com os Estados Unidos. Afinal, eles ainda são nosso segundo maior parceiro comercial.
A tática que alguns países vêm adotando em resposta aos arroubos trumpistas tem sido a de dizer que querem voltar a negociar. Assim, ganham tempo. No entanto, nada garante que as tarifas vão voltar aos patamares anteriores. Trump adota uma política do “se colar, colou”. Diz que vai aplicar 50% a países onde as tarifas eram de 20%. Se, ao fim das negociações, a tarifa ficar em 30%, ele ainda sai ganhando. A estratégia é falar grosso para ganhar mais.
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