Frigoríficos de MS pausam produção de carne destinada aos EUA após tarifa de Trump
Vice-presidente do Sincadems explica que a medida objetiva evitar o acúmulo de estoques e que essa é uma tendência nacional
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Frigoríficos de Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carnes destinadas aos Estados Unidos após o anúncio de tarifa extra de 50% feito pelo presidente Donald Trump. A produção para o mercado nacional segue normal, e as empresas buscam mercados alternativos no exterior.
À Folha de S.Paulo o vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Alberto Sérgio Capucci, explicou que a medida foi tomada para evitar o acúmulo de estoques e que essa é uma tendência nacional, porque algumas das exportações devem chegar aos Estados Unidos somente em agosto, quando as tarifas já devem ser aplicadas pelo governo norte-americano.
"A maioria [de Mato Grosso do Sul], de fato, paralisou a produção destinada ao país, mas segue trabalhando e com atividades nos frigoríficos, já que existem outros mercados. Há quem está redirecionando para o mercado interno, para a China, para o Chile, para diversas nações possíveis", disse, citando a Naturafrig, da qual é presidente, como um dos frigoríficos que decidiu agir dessa forma.
"Quem vai pagar o imposto, nesse caso, é o importador. E essas exportações chegam em agosto, quando a taxa estará vigente, o que faz com que tenhamos algumas sinalizações de que a importação ficará inviável", complementou.
O governo de Mato Grosso do Sul foi procurado, assim como a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), mas não houve resposta até a publicação deste texto.
Na última sexta-feira (11), o presidente da entidade, Roberto Pedrosa, afirmou que as indústrias brasileiras já haviam decidido pausar temporariamente a produção destinada aos EUA.
"Houve uma redução significativa no fluxo de produção da carne específica voltada ao mercado norte-americano. O rearranjo está sendo feito com novos parceiros que buscamos intermediar ao redor do mundo, com possibilidades de novas aberturas de mercado", afirmou.
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, só atrás da China. Atualmente, respondem por cerca de 14% da receita total brasileira do produto.
No primeiro semestre deste ano, as vendas para os EUA tiveram um aumento relevante, com a receita e o volume exportado mais que dobrando em relação ao mesmo período de 2024.
O volume total exportado até junho foi de 181.477 toneladas, uma alta de 112% sobre o resultado verificado no primeiro semestre do ano passado e que corresponde a cerca de um terço de todo o volume exportado pelo Brasil em 2024 para o mundo.
A receita total de exportações de carne bovina do Brasil para os EUA no período foi de US$ 1,04 bilhão, 102% acima do alcançado entre janeiro e junho de 2024, conforme dados da Abiec.
O preço médio praticado é de US$ 5.732 por tonelada. Uma tarifa adicional implicaria um custo extra de cerca de US$ 2.866 por tonelada, o que levaria o custo total para algo próximo de US$ 8.600 toneladas, um nível praticamente inviável frente à concorrência, segundo representantes do setor.
A Abiec declarou há uma semana que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina.
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