Brasil deve registrar "invasão" de produtos chineses
Com mais de 500 expositores na Eletrolar, China mira o varejo brasileiro e deve ampliar presença com tecnologia acessível e parcerias estratégicas
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Com a maior comissão entre os países estrangeiros participantes, a China levou mais de 500 expositores de produtos, entre pequenos e gigantes, para a 18 edição da Eletrolar Show 2025, realizada no Anhembi, em São Paulo, durante a última semana.
Com foco em componentes para computador, artigos para smartphones e equipamentos como caixas de som e fones bluetooth, as indústrias chinesas buscaram criar conexão com varejistas, importadores nacionais e indústrias locais para ampliar a presença no Brasil.
A proposta é colocar à disposição do mercado componentes úteis para a diversificação de varejistas e para fabricantes de eletrônicos, destaca o CEO da Eletrolar, Carlos Clur.
“Vieram expositores que a gente não conhece, com estande pequeno, mas que produzem para mais de 25 marcas globais famosas, como, por exemplo, uma que começa com 'S' e termina com 'G'”, diz, fazendo provável referência à marca sul-coreana de eletrônicos Samsung.
Para a vendedora chinesa Long Chaoying, que representou a Efan Entreprise, a relação entre as fábricas chinesas e os brasileiros vem aumentando nos últimos anos e tende a ser ainda maior.
“O governo brasileiro tem mantido uma relação boa com a China, e nossas indústrias vêm investindo em tecnologia, mudando o mercado completamente”, relata.
A brasileira naturalizada Chen Yen Yung comenta que a busca pela qualidade na produção chinesa fez com que os equipamentos deixassem de ser vistos com preconceito.
A paulista Erika Huang ressalta que o ambiente de tecnologia na China é um dos maiores, o que facilita o desenvolvimento de inovações que acabam atraindo outros mercados.
“Lá é um mundo de tecnologia, diferente daqui, onde tudo chega depois. Na China, por exemplo, se usa WeChat há muito tempo para pagar as coisas. Isso bem depois, no WhatsApp”, comenta.
Entre janeiro e maio de 2025, a China exportou para o Brasil cerca de R$ 3 bilhões em produtos eletrônicos, o maior valor dos últimos 10 anos nesse período, de acordo com a plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
No ano passado, foram R$ 2 bilhões desse tipo de produção exportados para o País. Já em 2015, o valor foi de R$ 1,7 bilhão. O menor valor, porém, foi em 2016: apenas R$ 743 milhões.
No Espírito Santo, foram R$ 121 milhões importados em equipamentos elétricos de uso doméstico entre janeiro e maio — mais do que São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
Limpadores de vidros
A paulista Larissa Costa destaca como são interessantes os robôs limpadores de vidro da marca iCina, que percorrem a superfície de janelas, por exemplo, retirando a sujeira.
“Achei bem interessante também a inclusão dos carros elétricos no evento”, comenta.
Capas indestrutíveis
A paulista Alyce Melo, empresária do ramo da telefonia, chama a atenção para as inovações das marcas no ramo dos acessórios.
Um exemplo são as capas e películas “indestrutíveis” da marca X-ONE — elas podem ser jogadas de cinco metros de altura sem quebrar.
Mais de 2 bi em negócios na feira
Maior feira de negócios da indústria e do varejo de eletros, celulares, Internet das Coisas (IoT), produtos gamers, mobilidade e tecnologia da informação (TI), a Eletrolar Show deve movimentar pelo menos R$ 2 bilhões em negócios em 2025.
Esse é o valor de negociações fechadas projetado pela organização do evento. O número, porém, tende a ser maior, segundo o CEO da Eletrolar, Carlos Clur.
A feira reuniu 1.500 expositores, 5 mil marcas e 12 mil produtos, distribuídos em mais de 60 mil metros quadrados do Distrito Anhembi, um complexo de eventos situado no bairro Anhembi, em São Paulo.
Um dos destaques em negócio neste ano é o mercado de ares-condicionados, segundo o presidente executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge Nascimento.
“Tivemos um crescimento de 21% de janeiro a maio. Foi o único segmento que continuou crescendo no primeiro semestre, muito em decorrência da elevação das temperaturas”, diz.
O segmento, destaca Nascimento, tem na sua cadeia de componentes um insumo — o motocompressor — produzido por uma única fabricante no Brasil. O desafio, agora, é diversificar essas indústrias.
“Nós somos obrigados a comprar esse insumo no Brasil, e este fornecedor, esse monopólio, não está atendendo como deveria a nossa cadeia de produto final”.
O setor de eletrônicos no Brasil registrou a venda de mais de 100 milhões de aparelhos em 2024, alcançando o melhor desempenho dos últimos anos, de acordo com o Grupo Eletrolar.
Para este ano, o setor espera um cenário positivo, com empregos em alta, novas formas de pagamento e a chegada do parcelamento por PIX.
O setor eletroeletrônico projeta, no entanto, uma retração de 1% no primeiro semestre de 2025. De acordo com a Eletros, de janeiro a maio os segmentos de Linha Marrom, Linha Branca e Linha Portátil registraram desaceleração.
“Os de Linha Branca são comprados essencialmente financiados. Quando o consumidor vê os juros referenciais de 15%, a parcela não cabe no bolso e ele se retrai”, aponta Nascimento.
Análise: “Tarifaço é ruim para o consumidor”

“A economia não pode crescer apenas de um único lado. É preciso que ambas as partes envolvidas nas relações comerciais cooperem em conjunto para chegar ao crescimento.
O aumento da 'taxa do Trump', para mim, é injustificável.
Se, de um lado, uma pessoa aumenta a taxa e, do outro, há aumento também, certamente isso não será bom para os consumidores. Portanto, esse é um caminho que não gostamos. A China, no entanto, vai fazer o que tiver que fazer para o bem da nossa população.
A tecnologia chinesa melhorou bastante quando comparada à década anterior, e as pessoas também estão mais focadas na qualidade dos produtos que vendemos do que antes.
Somos um país em que as pessoas são muito dedicadas no trabalho, no que estão produzindo e no crescimento, motivo pelo qual estamos crescendo tão rápido.”
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