Por que mais jovens estão infelizes e o que fazer para mudar isso?
Redes sociais e falta de lazer e tempo livre são motivos apontados por especialistas que dizem o que fazer para mudar essa realidade
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Você está infeliz? Se estiver, não é o único. É a realidade notada por psiquiatras e psicólogos no ES. O que eles notam, pesquisas reforçam: cada vez mais adolescentes e jovens adultos estão infelizes.
Mas o que está por trás da perda da felicidade? Redes sociais são a resposta unânime, mas também há espaço para falta de lazer e tempo livre, além da preocupação com o que o futuro reserva.
“Muitos jovens hoje estão infelizes por que vivemos numa cultura que valoriza o desempenho. Mas o que é esse desempenho ao qual se comparam? É o que observamos nas redes sociais. Vidas bem-sucedidas e vitórias constantes. Todo mundo fracassa, mas ninguém mostra”, ressalta a psicóloga Catharina Conter.
Ela explica que o sofrimento dessa comparação vem à tona através de sintomas como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.
“A gente se compara com pessoas que pensamos estar fazendo muito. Ficamos ansiosos por que pensamos que não estamos fazendo o suficiente. Deprimidos por acreditar que não conseguimos fazer o que o outro faz. O burnout, síndrome do esgotamento profissional, também surge nesse contexto. As pessoas fazem muito para ver se conseguem chegar onde muitos no Instagram mostram”, explica.
Um jovem de 16 anos, que preferiu não se identificar, conta que já se sentiu várias vezes desanimado ao olhar famosos no celular e se julgar incapaz de ser igual.
“Várias vezes. Já olhei no celular e pensei 'quero ser igual a ele'. Me senti pressionado, pensando que não ia conseguir. Isso já me desanimou muitas vezes”.
O celular se tornou quase uma extensão do corpo, observa a psicóloga Carolina Rodrigues. O acesso a informações do mundo inteiro em tempo real, somado a notícias que geram incertezas sobre o futuro, nem sempre é uma coisa boa.
“Vivemos sob a sombra de um ‘fim do mundo iminente’: guerras, colapso ambiental, salários baixos e um custo de vida cada vez mais alto. Tudo isso pesa, especialmente sobre os mais jovens”.
Além do celular, um dos fatores é a falta de lazer e tempo livre, por causa do modo como o trabalho se organiza, explica.
“Sim, os jovens estão mais infelizes – e isso não começou agora. Mas talvez o que mais tenha mudado é que agora se fala sobre isso. O mal-estar encontrou nome, e nomear é o primeiro passo para resistir”.
Momentos difíceis

Quem observa o brilho nos olhos da estudante de Medicina Amanda Pimentel, 18, não imagina que ela já passou por momentos de infelicidade enquanto crescia.
“Quando eu tinha entre 14 e 15 anos, me sentia infeliz. Foi na época dos hormônios. Eu sempre tentei ser autêntica e do meu jeitinho, mas me comparava muito com os outros, inclusive com outras mulheres. O que me ajudava eram as conversas com a minha irmã”.
A universitária também conta que chegou a parar de postar em sua conta na rede social devido a comentários maldosos de internautas. “Ter um apoio me ajuda muito a ser feliz hoje em dia”.
Dificuldade para lidar com as frustrações atrapalha
Os jovens sentem que sua geração é mais infeliz — e estão, de fato, enfrentando um sofrimento psíquico mais intenso. É o que a psicóloga escolar Renata Junger observa nas escolas em que atua e também no consultório.
“Essa é a narrativa deles. E, para mim, as redes sociais têm sido decisivas para que esse relato se intensifique cada vez mais. Outro fator é a dificuldade que os jovens têm de lidar com a frustração”, explica.
Segundo Renata, a sociedade atual valoriza a rapidez e a gratificação instantânea. Nesse contexto, os jovens vêm crescendo com menos tolerância ao erro e à dor. “O problema é que ambos são importantes para o aprendizado”.
A psicóloga Ana Carolina Milanez acrescenta outro ponto: os efeitos da pandemia. “Pós-pandemia, os jovens parecem ter desenvolvido uma tendência ao isolamento. Socializam menos e, em muitos casos, parece que perderam essa habilidade. Isso preocupa, porque sabemos que as conexões sociais são essenciais para a alegria do ser humano”.
Já a psicóloga Catharina Conter destaca a própria fase de desenvolvimento que os jovens estão atravessando. “A identificação com o outro é fundamental na formação da nossa personalidade quando crescemos. Mas o jovem tenta imitar o que vê nas redes sociais. Vira uma comparação doentia”.
Pesquisas sobre saúde mental
Global Flourish Study
Jovens entre 18 e 24 anos apresentam os menores índices de bem-estar na maioria dos indicadores, segundo uma pesquisa feita pelo Global Flourish Study.
Duzentos mil participantes de 22 países tiveram seus dados coletados. Uma das instituições envolvidas na pesquisa foi a Universidade Harvard.
Florescimento foi o conceito avaliado no estudo. Ele inclui itens como felicidade e satisfação com a vida, saúde física e mental, significado e propósito, entre outros.
Panorama da Saúde mental
Jovens de 16 a 24 anos apresentaram o pior nível de bem-estar emocional entre todas as idades, segundo o Panorama da Saúde Mental do Instituto Cactos.
O levantamento foi divulgado no final de 2024 e se baseia em um questionário online, respondido por 4.381 maiores de 16 anos em todo o país.
As perguntas focavam em uma série de questões voltadas para a saúde mental, como foco, confiança e vitalidade.
> 46% afirmaram consumir vídeos curtos (reels, stories, TikTok). Os jovens foram o grupo com o pior bem-estar entre esses usuários.
> 45% disseram que as redes sociais prejudicam sua saúde mental.
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