Mais crianças e adolescentes sofrem com gordura no fígado
Doença geralmente não provoca sintomas e é descoberta, muitas vezes, ao se investigar algum outro problema, explica especialista
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A esteatose hepática, conhecida popularmente como gordura no fígado ou “fígado gordo”, é uma condição cada vez mais comum, inclusive em crianças e adolescentes. De acordo com dados da agência Einstein, a incidência global cresceu mais de 50% nas últimas três décadas.
A doença geralmente não causa sintomas, e a maioria dos pacientes descobre que tem esteatose hepática por meio de exames solicitados por outro motivo, aponta a médica hepatologista e gastroenterologista Mariana Pacheco.
“É comum as pessoas descobrirem que têm a doença por meio de ultrassonografias ou exames de sangue alterados, realizados para investigar outras coisas. A gordura no fígado só causa sintomas nas fases mais avançadas, quando a cirrose já está instalada”.
Adolescentes da América do Sul foram os que mais tiveram esteatose hepática em 29 anos, aponta estudo da Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado. A pesquisa avaliou a mortalidade e incapacidade causadas por 369 doenças em 204 países e territórios, entre 1990 e 2019.
“O estilo de vida que muitos jovens levam, com pouca atividade física e consumo excessivo de alimentos calóricos, aumenta esse problema. Mas a doença também aumentou entre outras idades”, afirma Mariana Pacheco.
A Tribuna O que é a doença e como é contraída?
Mariana Pacheco A esteatose hepática é o acúmulo de gordura no fígado, resultado de um desequilíbrio do metabolismo do corpo. A doença é contraída com ingestão excessiva de calorias na forma de açúcar, carboidratos e gordura, e menor queima desses elementos. Levar um estilo de vida com poucos exercícios físicos e sedentarismo também aumenta a chance de contrair a doença.
Outras doenças podem aumentar o risco de contrair?
Diabetes, pressão alta, obesidade e colesterol alto também contribuem para o aumento do depósito de gordura hepática.
O “fígado gordo” pode acarretar outros problemas?
A doença pode evoluir para cirrose e câncer no órgão. Em casos extremos, é necessário realizar transplante de fígado.
Existe um perfil mais propenso a desenvolver a doença?
Os pacientes com mais probabilidade de contrair a esteatose hepática são aqueles com sobrepeso ou obesidade, diabetes e colesterol, triglicerídeos ou pressão altos.
Como é feito o diagnóstico?
Fazemos uma série de exames de sangue para descartar outras causas, como hepatite B e C e uso abusivo de álcool. Também analisamos fatores metabólicos, como a glicose, o colesterol e o peso do paciente. Por fim, solicitamos algum exame para avaliar a gravidade da doença, por meio de uma biópsia hepática ou de uma elastografia, que é um exame de imagem que avalia a rigidez do fígado.
Você já tratou casos extremos da doença?
Todos os dias lido com casos graves da doença. Infelizmente, ouvimos várias pessoas, e até médicos, dizendo que todo mundo tem gordura no fígado, e nada é feito. Aí, quando o caso fica grave, você ouve o paciente dizer que já tinha o problema há muito tempo e nunca fez o acompanhamento adequado.
Existem casos considerados irreversíveis?
As situações em que não há mais esperança são quadros de cirrose, onde apenas o transplante de fígado cura a doença.
Como se prevenir?
Com hábitos de vida que combatem toda doença relacionada ao metabolismo. Manter o peso corporal dentro da faixa individual ideal e praticar atividade física por pelo menos 150 minutos por semana. A alimentação também conta, evitando alimentos ultraprocessados e preferindo frutas, verduras e carnes magras.
Como é feito o tratamento?
A base é composta pela mudança no estilo de vida, com adoção de hábitos mais saudáveis. Com relação ao tratamento medicamentoso, há remédios sendo testados, alguns aprovados nos Estados Unidos, como o Resmetirom. Porém, é um medicamento de difícil acesso devido ao alto preço.
Canetas emagrecedoras, que tratam diabetes e obesidade, podem ser usadas ?
O medicamento já está sendo estudado para tratar gordura no fígado, e apresenta resultados promissores, porque também ajuda na diminuição da inflamação e do acúmulo de gordura no fígado.
A segurança é garantida?
Não, ainda restam dúvidas, principalmente para pacientes com cirrose. Precisamos ir com calma na indicação de canetas emagrecedoras para tratamento de gordura no fígado.
Atualmente, elas só podem ser indicadas para combater diabetes e obesidade tipo dois. Esse tipo de medicamento deve sempre ser utilizado com acompanhamento médico especializado, para que o tratamento seja realizado corretamente e sem prejuízos à saúde.
MUDANÇA NA DIETA
Cantor sertanejo foi vítima da doença

O cantor sertanejo Zezé Di Camargo já foi diagnosticado com esteatose hepática. A doença foi descoberta quando o astro realizava planos de emagrecimento com a esposa, Graciele Lacerda, que é educadora física.
Após mudança na dieta, o cantor se livrou do problema de saúde, conta a esposa. “Tirei alguns alimentos errados que ele consumia e fui ajustando com o que é indicado no tratamento, e funcionou”.
FIQUE POR DENTRO
Esteatose hepática é o acúmulo de gordura no fígado. A doença geralmente é contraída consumindo excessivamente alimentos calóricos e fazendo poucos exercícios.
O “fígado gordo” pode evoluir para cirrose e câncer hepático. Em casos extremos, é necessário realizar transplante do órgão. Diabetes, pressão alta, obesidade e colesterol alto também contribuem para a doença.
A prevenção e tratamento são feitos com prática de atividade física e alimentação rica em frutas, verduras, legumes e carnes magras.
Canetas Emagrecedoras podem auxiliar no tratamento da doença, porque ajudam na redução do acúmulo de gordura no fígado. Porém, só podem ser usadas por pacientes que também sofrem com diabetes ou obesidade tipo dois.
Esteatose - Acúmulo anormal de gordura em um órgão ou tecido.
Hepático - Em anatomia médica, é tudo que está relacionado ao fígado.
OS NÚMEROS
290 milhões de pessoas têm esteatose hepática na América Latina
39,2% desse número é composto por crianças e adolescentes
25% dos casos pode evoluir para cirrose
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